Uma reflexão sobre a ‘práxis’ cristã dos dias atuais
Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Outubro/2018
Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu
vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco
todos os dias, até a consumação dos séculos.
Palavra de Jesus, descrita pelo Evangelista Mateus, capítulo 28, versículos 19 e 20 – NVI-P 1
Quando conhecemos ele, a maioria de nós, estava de mal a pior. A situação estava difícil, e nem sequer tínhamos esperança futura.
Mas, um a um, ele foi convidando para fazer parte do seu time. Ele nos convidava para seguir ele. Ele explicava, em detalhes, assuntos que já conhecíamos. Confesso que alguns destes assuntos, para mim foi totalmente novo. Aos poucos, ia incutindo em nós, seu estilo e forma de pensar, resgatando princípios que nos fazia pensar.
Algumas vezes, ficávamos em dúvidas sobre assuntos presente e até mesmo futuro. Perguntávamos a ele e, gentilmente nos respondia com sorriso no rosto ou, dependendo da situação com lágrimas nos olhos.
Íamos por todas as aldeias, conversando com as pessoas sobre os assuntos que estávamos reaprendendo com ele. Em nossa cultura, tínhamos vários costumes, tradições e até proibições. O mais interessante, no entanto, é que ele ao fazer alguma coisa que os mais ‘velhos’ acreditavam que estava errado, ele explicava para nós, e procurávamos fazer o mesmo que ele.
Certa vez ele até foi por um caminho proibido para nós, pediu água para uma mulher e conversou com ela demoradamente. Em outra ocasião, outra mulher estava a ponto de ser apedrejada, no meio da praça… mas isso foi incrível… ele se abaixou e enquanto todos gritavam, ele simplesmente desenha na terra, em silêncio… e bastou uma argumentação dele, para que todos fossem saindo, um a um. A mulher, permaneceu ali, atônita, em prantos… depois de abraçá-lo carinhosamente, se foi.
Me lembro de outra situação que um de nossos irmãos, que tinha muitos bens, chegou para ele e e fez algumas perguntas. Eles conversaram um pouco, mas o rapaz, coitado, saiu de cabeça baixa, e não se juntou a nós. Pensei que ele fosse voltar mais tarde, mas nunca mais o vi.
Ele sempre nos surpreendia. Quando achávamos que já sabíamos bastantes coisas, ele vinha e não só ensinava, mas fazia, ali na frente de todo mundo.
Em uma ocasião, estávamos numa casa e ele estava falando coisas sobre o poder de Deus. Estávamos com os olhos fitos nele. Eram as palavras mais lindas, nunca tinha escutado algo assim. De repente, o teto da casa começa a cair sobre a sala que estávamos. Isso chamou a atenção de todos, inclusive dele. Depois de alguns minutos, vimos uma pessoa, que parecia enferma pois estava deitada numa maca, ser baixada por aquele buraco no teto. Em cima da casa, pude ver quatro pessoas que sustentavam a corda, deviam ser muito amigos daquela pessoa. Ele falou algumas palavras para aquele doente, mas, parece que nada aconteceu. Alguns, dentro da sala começaram a resmungar. Daí ele falou outras palavras, e acredite, aquela pessoa, saiu daquela maca, e com lágrimas de alegria em seu rosto, o abraçou e beijou. Saiu daquela casa, pela porta… louvando o nome de Deus. Claro, houve muitas reclamações.
Ao longo do dia, íamos de um lugar a outro, sempre falando sobre as coisas boas que Deus fazia e que ia fazer. Não tínhamos muita comida e nem dinheiro para comprar. Em outra ocasião, estamos ouvindo uma de suas histórias, e o tempo passou tão depressa, que já era tarde, todos estavam com fome. Perguntamos a ele o que deveríamos fazer, pois achávamos que ele tinha um plano. Mas ele falou para nós mesmos providenciar comida para todos aqueles que estavam alí. Imagine, mais de 5000 homens, sem contar mulheres e crianças… era impossível. Percebendo nosso desespero, ele nos pergunta o que nós temos de comer. Um dos nossos, disse que tinha um garoto que tinha alguns pães e peixes, mas o que seria isso para toda aquela gente? Então, ele surpreende a todos, de novo. Ele manda que organizemos as pessoas em grupos. Pega os pães e peixes, agradece a Deus, e por milagre, tudo se multiplica. Conseguimos distribuir para todos e ainda sobrou muito. Foi fantástico.
Tenho muitas histórias para contar, mas demandaria muito tempo. Alguns do nosso time, já escreveram e está tudo documentado para quem quiser conferir.
Passados uns três anos e pouco, um dos nossos, decidiu traí-lo. Fez uma denúncia, pediu dinheiro e o entregou. Foi um momento muito difícil para ele. Para nós, da mesma forma como nos juntamos, quando ele foi pego, nos dispersamos. Não sabíamos exatamente o que estava acontecendo e não sabíamos como deveríamos agir. Lembro que um dos nossos pegou uma espada e cortou a orelha do soldado, mas ele falou que não era para fazer nada disso, foi até o soldado e restaurou sua orelha! Dá para acreditar nisso?
Seguiu-se as horas e ele foi preso e torturado. Foi para um julgamento, em praça pública, e o povo escolheu um ladrão para ser solto. Ele foi condenado à crucificação. Apesar de ele já ter falado algumas coisas sobre isso, ninguém esperava que seria tão cruel.
No outro dia, mais para o final da tarde, vimos seu corpo, pendurado na cruz. Ficamos atônitos e, mais uma vez, não sabíamos o que fazer. Nos reunimos num quarto, com medo de sermos presos também. Passamos um bom tempo juntos, orando. No outro dia, uma mulher, bate à porta, desesperada. Achamos que nossa hora havia chegado. Mas não! Ela disse que havia conversado com ele. Todos ficamos desconfiados, alguns nem ligaram outros saíram para tentar buscar alguma comprovação.
Me lembro, como se fosse agora, ele sendo elevado para o céu. Que cena mais linda! À medida que isso acontecia, ele disse suas últimas palavras…
vão, anunciem tudo o que vocês aprenderam de mim para outras pessoas e eu estarei com vocês!
A ideia era, relativamente, simples! Só precisávamos anunciar e ensinar tudo o que tínhamos aprendido com ele e, assim fizemos.
No começo, é claro, tivemos dificuldades, mas depois seguimos em frente. Outros desafios surgiram. Alguns do nosso time foram mortos, mesmo assim, seguimos com o anúncio.
Mais tarde, fiquei sabendo que as coisas mudaram. À medida que o grupo foi crescendo, começaram por escolherem líderes, alguns sem preparo, sem qualquer conhecimento. Criaram uma estrutura física de pedra mesmo. Ele havia dito que isso não era mais necessário, mas sabe como é… onde o povo vai se reunir? Depois construíram outra e outra e hoje são incontáveis. Com o tempo, eles precisam gastar o dinheiro que deveriam ser para outras coisas que ele ensinou, para reformas e ampliações.
Ouvi dizer que eles são muitos agora, mas não estão comprometidos com a causa. Parece que se acomodaram. Como num passe de mágicas, voltaram a se reunir nos templos e permanecem lá por horas. Não saem para anunciar as mensagens que ele ensinou. Como se passou muito tempo, eles estão confusos. Alguns não compreendem o que realmente ele quis ensinar e ficam o tempo todo fazendo sempre as mesmas coisas.
Ainda, alguns dos nossos estão morrendo, outros ainda passam fome, dificuldades, estão desesperados, sem qualquer esperança, assim como nós no começo quando ele chegou.
Era para ser tudo muito simples, mas parece que ao longo do tempo, todos aqueles que foram chegando, começaram por inventar coisas, ações, atividades… hoje, parece que há tanta distração que eles esqueceram o principal.
Em alguns lugares, muitos já desistiram e estão com outros pensamentos, não estão mais interessados.
Em outros, a mensagem que ele nos deixou, ainda nem chegou… talvez não chegue, pois pelo que parece, o pessoal de hoje perdeu o foco! É uma pena!
A ideia era, relativamente, simples!
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1 – BÍBLIA SAGRADA. Português – Nova Versão Internacional – NVI-P – Versão On Line – You Version