Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Março/2019
O amor de Cristo pelos excluídos
Estou convicto de que essa tarefa de tentar alcançar os marginalizados, excluídos e desamparados pela sociedade ‘aqueles que ninguém quer’, é fundamental para a evangelização das cidades. Por certo, é uma característica que distingue quem são os verdadeiros ‘imitadores’ de Cristo. O próprio Jesus deixou isso bem claro na parábola das ovelhas e dos cabritos:
E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda.
Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.
Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?
E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?
E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. (cf. Mateus 25:33-40)
Aos olhos de Jesus, quando nós cuidamos dos pobres, necessitados e desamparados, fazendo-o em Seu nome, é como se estivéssemos cuidando dEle próprio. Por outro lado, quando os rejeitamos ou ignoramos, significa que estamos rejeitando ou ignorando o próprio Jesus (cf. Mateus 24.41-45). Ele usou palavras bem duras ao se referir àqueles que se recusavam mostrar compaixão: […] apartai-vos de mim malditos…
Todavia não devemos ter ilusões: esse tipo de ministério é difícil e pode trazer muitos problemas. O ministério do exercício da compaixão implica fazer tudo o que for preciso para atender às necessidades, e para isso é absolutamente importante que saiamos das quatro paredes da igreja. Afinal, não há como cuidar dos feridos e famintos se permanecemos acomodados dentro de nossos templos confortáveis. Não podemos nos dar ao luxo de esperar que eles venham até nós: nós é que precisamos ir até eles.
Por alguma razão, grande parte da Igreja moderna tem tido uma perspectiva diferente da realidade bíblica. É muito comum evitarmos os necessitados e desamparados ou simplesmente voltarmos as costas para eles, pois esse tipo de trabalho é realmente árduo e parece não ser dos mais ‘honrosos’, pelo menos de acordo com os padrões humanos. Cuidar dos carentes não é o trabalho no qual a maioria dos ‘ministérios’ de hoje gosta de se envolver. Além disso, atender aos necessitados pode ser bem caro, ou seja, pode ‘minar’ os recursos já ‘limitados’ das igrejas, que seriam investidos em pessoas que provavelmente não dariam um ‘retorno’ à altura do investimento. Para as igrejas que têm essa mentalidade, seria como ‘jogar pérolas aos porcos’.
Contudo, não podemos ignorar o exemplo de Jesus. Se encaramos com seriedade o chamado para sermos discípulos de Cristo, então, no tocante a alcançar os necessitados, teremos de ser coerentes com o evangelho que pregamos e investir nosso dinheiro no trabalho social.
Segundo todos os relatos, Jesus passou muito mais tempo entre os quebrantados e feridos do que na sinagoga, que era o lugar formal de culto. Na verdade, em pelo menos uma ocasião, em Nazaré, cidade onde nasceu, Ele foi expulso da casa de adoração! Ironicamente, Ele tinha acabado de expor a um público qual seria Sua missão em termos de ministério aos necessitados. Lendo no livro de Isaías, Ele disse:
O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor. (cf. Lucas 4:18,19)
Depois de ler, Ele passou a admoestar o povo sobre a falta de fé. Sentindo-se ofendidos por Suas palavras, os que estavam na sinagoga se encheram de cólera e queriam matá-lo, por isso Ele teve de sair dali.
Jesus não tinha medo nem vergonha de ser visto na companhia de pessoas pobres, famintas, doentes e desamparadas, nem se importava de ser considerado ‘amigo de publicanos e pecadores’ (cf. Lucas 7.34b). Afinal, foi justamente para isso que Ele veio! ‘Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores’ (cf. Marcos 2.17b). Jesus nos ordenou, tanto por palavras quanto por Seu próprio exemplo, que cuidássemos dos marginalizados da sociedade.
Lembro-me de uma igreja que visitei, no Nordeste do Brasil. Uma igreja com muitos recursos, boa estrutura física, incluindo uma grande lanchonete no pátio da igreja. Meu anfitrião, enquanto lanchávamos, me explicou que todos os irmãos que trabalhavam naquele lugar, foram resgatadas das ruas da cidade, receberam a Cristo como seu Salvador, receberam capacitação e emprego. Essa igreja tem escola, faculdade e está construindo um grande espaço com salões, alojamentos, salas para palestras etc., além do potencial de ampliação de alcance aos necessitados na cidade. Esta igreja também administra projetos na África. Para o alcance dos necessitados, eles adaptaram um furgão para oferecer atendimento básico (inclusive banho) que vai às ruas na calada da noite com pessoas devidamente preparadas tecnicamente, imbuídas do amor de Cristo.
Essa igreja, em minha opinião, ajustou o foco para com a missão de Cristo. Depois disso, preparou-se adequadamente para o trabalho. Resultado, há um clima diferente neste local. Há um sentimento de pertencimento dos membros daquela igreja, pois creem que estão alinhados com a missão dada por Cristo.
Creio que há mais exemplos de igrejas que estão fazendo outros projetos com outras ações. No entanto, o que chama a atenção é que aquelas que não estão preocupadas com isso, está em número maior. A grande questão é:
Em qual destas igrejas, você quer investir seus dons, talentos e tempo, até que Ele venha?
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BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos de Genebra – São Paulo: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
PIERCE, Bart. Alcançando os Necessitados – Como a igreja pode criar um programa de ação social e envolver-se de forma prática no amparo às pessoas necessitadas. Curitiba, Ed. Betânia, 2003.