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A Transcendência e Imanência na História Teológica

Deus e o mundo numa era de transição

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Março/2019


O presente artigo é um resumo da obra dos autores Stanley J. Grenz & Roger E. Olson intitulada ‘A Teologia do Século 20 – Deus e o mundo numa era de transição’ onde sintetizaram um longo período da história nas mais de 400 páginas.

Stanley J. Grenz é professor de Teologia no Carey Regent College em Vancouver, British Columbia e Roger E. Olson é professor de Teologia no Batel College, em St. Paul, Missesota.

Este artigo é da 1ª edição, publicada em 2003 pela editora Cultura Cristã; a tradução da obra foi realizada por Suzana Klassen.

Primeiro capítulo

Os autores começam sua obra, descrevendo sobre o Iluminismo que apresenta o seguinte título: ILUMINISMO: A destruição do Equilíbrio Clássico. Afirmam que o Iluminismo marcou a transição entre a era antiga e a moderna decorrente do desafio às autoridades e sua ênfase à fé pessoal e que a Reforma contribuiu para o movimento de saída do mundo medieval.

Naquela época os pensadores não estavam mais dispostos a aceitar os antigos dogmas, baseado-se apenas no fato de que pertenciam ao sistema recebido através da doutrina da igreja.

Assim, a luz da razão foi encontrada dentro de cada indivíduo que destronou a hierarquia eclesiástica e abalou suas fundações de autoridade. Nos séculos 17 e 18, o equilíbrio desenvolvido pelos teólogos da Idade Média e aprimorado pela Reforma foi alterado de maneira radical e permanente e uma nova cosmologia substituiu a antiga ordenação hierárquica da realidade. E, com essa mudança, inverte-se o equilíbrio entre transcendência e a imanência. O nascimento do Iluminismo ocorreu no começo do século 17, estando ligado à Paz de Westfalia (1648) no modo sócio-político e no modo intelectual, associa-se à obra de Francis Bacon (1561-1626).

Segundo capítulo

 No segundo capítulo os autores passam a descrever sobre a Reconstituição da Transcendência: A Imanência na Teologia do Século 19. Agora, com o fim do século 18, a era do Iluminismo já havia completado seu ciclo, especialmente na Inglaterra e muitos pensadores haviam abandonado a religião da razão e optado pelo ceticismo ou relativismos religiosos.

Esses pensadores concluíram que, no fim das contas, a razão é uma resposta inadequada para as questões básicas sobre Deus, moralidade e sentido da vida. Desta forma a teologia não seria a mesma, mesmo com o fim do Iluminismo. A religião ficou numa situação complicada, parecia haver apenas duas alternativas para a época; uma era optar pela ênfase cristã tradicional sustentada pela Bíblia e pela Igreja, ou então, restava seguir o racionalismo cético que surgiu como produto final da mente individual esclarecida.

Ainda no século 18, Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão sugere a esfera prática ou moral da vida como o lugar apropriado para a religião. Ao construir uma teologia devidamente fundamentada na razão prática, ele ofereceu uma nova tentativa de equilíbrio entre a transcendência e a imanência, mudando com isso o enfoque religioso da esfera da “razão pura” para a “razão prática”.

Outro pensador citado pelos autores é George Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831). Com pensamento mesclado em interesses nas dimensões políticas e estéticas da existência humana, Hegel viveu num período turbulento da história da Europa. Propôs superar os obstáculos impostos pelo Iluminismo sobre o empreendimento teológico, através da construção de uma grande fusão da teologia com a filosofia. Com sua filosofia, Hegel marcou um importante rompimento com a Idade da Razão redefinindo o foco do trabalho filosófico relacionando-a à obtenção da verdade. Hegel negava que a experiência sensorial era a única base para o conhecimento ou que a formação de ideias a partir das experiências sensoriais era o principal método de se obter o conhecimento. Além disso, ensinava que a realidade é ativa e está em constante desenvolvimento, é um processo contínuo, que consiste no desdobramento dos princípios da racionalidade. Hegel também se posicionou sobre vários assuntos, entre eles estão: Espírito, a verdade como um processo, Dialética, Filosofia, Teologia, História e Cristianismo.

A relação entre Cristianismo e filosofia apresentada por Hegel ofereceu uma saída para o dilema no qual o Iluminismo havia culminado da ortodoxia tradicional contra o ceticismo radical. Ele, elevou o Cristianismo à posição de única religião relevante, pois mostra em forma de representação a verdade filosófica absoluta sobre a unidade entre Deus e a humanidade.

No entanto, mais inovadora do que qualquer proposta da época, foi a sugestão de Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher, o terceiro grande pensador das primeiras décadas, segundo os autores. A alternativa, encontrada por Schleiermacher, era elevar a vida intuitiva – uma experiência humana que ele chamava de “sentimento” – à posição do fundamento teológico.

Sua contribuição foi inestimável. Suas ideias ainda são passadas por pastores, líderes e professores de seminários, sua influência é sutil, mas profunda para o Cristianismo. Alguns estudiosos do pensamento cristão moderno são quase unânimes em conferir a Schleiermacher a posição de pai da Teologia moderna.

Os autores consideram como inegável a grandeza de Schleiermacher enquanto teólogo e sua influência permeiam toda a teologia contemporânea, evidenciando-se assim, de forma especial nas escolas teológicas chamadas “liberais” que começaram a dominar o pensamento protestante a partir do final do século 19.

Mas, afirmam que o maior proponente dessa teologia é Albrecht Ritschl. Ainda segundo os autores é notória a dificuldade em se definir a teologia liberal. Dizem haver certas dificuldades para até mesmo os meios de massa esta definição e quando o fazem consideram como “liberal” qualquer um que se posicione à sua “esquerda”.

Sobre a teologia liberal clássica, o argumento que segue é que a teologia cristã precisava adaptar-se à nova mentalidade científica e filosófica sem se perder, assim caracterizou-se, nas palavras de Claude Welch “pelo reconhecimento máximo das afirmações do pensamento moderno”.

Tem também uma forte característica em sua ênfase na liberdade que o pensador cristão de criticar e reconstruir crenças tradicionais.

Albrecht Ritschl foi uma figura-chave para a teologia liberal do final do século 19. Nesta obra, está contido seu método teológico, assuntos sobre Deus e seu Reino, Pecado e Salvação e Cristologia. No entanto, a reputação de Ritschl, como teólogo moderno de importância duradoura foi questionada durante a metade do século 20, em grande parte por causa das críticas devastadoras de pensadores neo-ortodoxos como Karl Barth e Emmil Brunner.

Terceiro capítulo

Os autores abordam o terceiro capítulo sobre a Revolta contra a imanência: A Transcendência na Neo-ortodoxia. No século 19, através de vários pensadores, o ser cristão continua a tomar um sentido mais pela fé e não pela razão. Envolve um desejo de ir pela fé a lugares onde a razão não poderia levar. Soren Kierkegaard, um filósofo dinamarquês (1813-1855), propôs vários temas como a transcendência do Deus que, no momento do encontro divino, profere ao indivíduo a verdade divina infalível – isso se tornou fundamento sobre os quais os teólogos da neo-ortodoxia do século 20 construíram seus pensamentos e desenvolveram suas teses para expandir suas deliberações teológicas.

As contribuições de Karl Barth, sem dúvida influenciou e tem influenciado a muitos. Alguns, o classifica junto com Agostinho, Tomás de Aquino, Lutero, Calvino e Schleiermacher por causa de sua enorme contribuição original à teologia. Vários anos após sua morte, novos artigos surgem ao ser examinada sua teologia.

Uma das grandes forças da teologia de Barth está na recuperação da transcendência de Deus. Barth sacrifica o aspecto humano do relacionamento entre Deus e o mundo em sua teologia enfatizando um enorme zelo de proteger a liberdade e a transcendência de Deus. Neste sentido os autores dizem haver pontos de possíveis erros nas teologias de Schleiermacher e de Barth.

Enquanto Schleiermacher errou ao procurar falar de Deus, falando da humanidade em alta voz, Barth errou ao falar da humanidade, falando de Deus em alta voz. Talvez o erro de Barth seja menos grave, mas teria sido melhor se nenhum deles tivesse ocorrido.

Sob o título de Transcendência no Encontro entre o Divino e o Humano, os autores passam a descrever sobre Emil Brunner. Nascido em Zurique, na Suíça em 27 de dezembro de 1889, cresceu e foi educado dentro da tradição reformada de Zwingli e Calvino; passou maior parte de sua vida lecionando teologia na mesma universidade ocupando uma cátedra de 1924 até sua aposentadoria em 1955.

Juntos, Barth, Bultmann e Brunner formaram um triunvirato de teólogos dialéticos que revolucionaram a disciplina ao reafirmar os temas clássicos da Reforma protestante no contexto do século 20. Conservadores podem aprender com Brunner a evitar igualar a revelação divina, de modo simplista, às palavras e proposições da Bíblia e a apegar-se a uma compreensão mais personalizada dessa revelação.

Os liberais podem aprender com ele e obter uma identificação mais elevada dos pensamentos do ser humano acerca de Deus, permanecendo abertos à transcendência da Palavra de Deus.

Outro teólogo descrito pelos autores é Rudolf Bultmann. Esse, ao contrário de ser grande articulador, em primeiro lugar era um estudioso do Novo Testamento. A fé cristã e a bíblia deveriam se tornar compreensível à mentalidade moderna. Para alcançar este objetivo Bultmann, procurou empregar uma mentalidade existencialista do Novo Testamento, que vê como Palavra de Deus dirigida ao indivíduo e pedindo uma resposta de fé individual. Filho mais velho de um pastor luterano na província de Oldenburg, no norte da Alemanha, estudou nas melhores universidades; mais tarde, foi professor até 1951.

Diferentemente de alguns colegas, Bultmann não foi forçado a deixar seu cargo de professor durante o regime ditatorial de Hitler, mesmo falando contra certos aspectos do programa nazista. Motivado pela preocupação em permitir que o evangelho falasse à mente moderna sem ser impedido pelos mitos do mundo antigo, Bultmann acreditava que por terem deixado de lado todos os conceitos mitológicos, as pessoas não eram mais capazes de falar em termos atos sobrenaturais.

Bultmann faz uma relevante tentativa em reafirmar a transcendência de Deus diante da ênfase à imanência encontrada da teologia liberal do século 19, reagindo fortemente ao Iluminismo, porém não conseguindo reafirmar esta transcendência em seu sentido pleno.

Finalizando o terceiro capítulo os Grenz & Olson passam a descrever sobre Reinhold Niebuhr abordando o tema: A transcendência revelada através do mito. Filho de pastor de confissão luterana, Niebuhr completou o Bacharelado em Teologia e o Mestrado em Ciências Humanas em 1915. Tornou-se pastor de uma congregação constituída em sua maioria por operários da montadora Ford. Teve, a partir daí, contado direto com a luta daqueles que estavam sendo explorados pelos grandes industriais do país e isso influenciaria profundamente seu enfoque social quanto à sua teologia.

De acordo com Niebuhr, o mito é necessário, pois certos aspectos da realidade, como a natureza da condição humana e a fonte transcendente do significado da história, são paradoxais e, portanto, não podem ser compreendidos através de termos científicos ou racionais.

Ele afirmava que o caráter que dá significado à vida, requer uma fonte além de si mesmo e que somente se pode falar do transcendente através do uso de mitos. De acordo com suas afirmações, quando entendidos corretamente como afirmações da relação entre o eterno e o temporal, os mitos da fé cristã são relevantes para nossa época.

Para uma sociedade que estava em fuga da imanência de Deus, Niebuhr procurou resgatar isso através de suas afirmações oferecendo uma visão de teologia caracterizada por um equilíbrio entre transcendência e imanência.

Esse, talvez tenha sido seu maior legado para a história teológica. No entanto, com estas afirmações, Niebuhr removeu Deus da História – passada ou futura – colocando-o numa esfera além da História, deixando aos seus seguidores pouca esperança de encontrar o Deus transcendente nos acontecimentos reais.

Quarto capítulo

No quarto capítulo, os autores descrevem sobre o Aprofundamento da Imanência com ênfase na reformulação da tradição liberal. Nas próximas 20 páginas passam a descrever sobre vida e obra de Paul Tillich.

No entanto, para os autores, é evidente o julgamento da teologia de Tillich, apesar de sua solidez básica de seu método teológico e de sua boa intenção de aplicá-lo fielmente. Tillich teria ido longe demais ao permitir que a forma da questão determinasse o conteúdo das respostas teológicas. Ainda, para os autores, Tillich teria separando a transcendência da imanência de Deus ao tentar resolver este problema e isso teria corroborado para que alguns tenham Tillich como mentor do “ateísmo cristão” dos anos 60.

As próximas páginas são destinadas para a Teologia de Processo onde os autores esclarecem sobre a Imanência dentro do processo. No memento que a proposta de Tillich não buscava Deus num reino transcendente do além, mas sim, no mais profundo da existência outras propostas surgiram.

A esta abordagem paralela deu-se no nome de teologia de processo. Tentando uma reconciliação da teologia com a ciência alguns pensadores deste movimento entendiam isso como fundamental. Rejeitavam a antiga divisão da vida em esfera religiosa e esfera secular ou cientifica. A teologia deveria falar à vida como um todo e esse é, também, um “discurso escatológico” ao tentar ver o mundo presente à luz daquilo que ainda irá de acontecer.

Outros vários pensadores são citados pelos autores para esclarecimento da teologia do processo. Entre eles está o francês católico Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955) com sua forte convicção de que a ciência e o Cristianismo são duas fases de um mesmo ato de conhecimento completo. Mas, estes pensamentos teriam se fundamentado principalmente na figura de outro pensador, o matemático Alfred North Whitehead (1861-1947).

Whitehead teria criado o mais impressionante sistema metafísico do século 20 ao procurar restabelecer a importância da metafísica num contexto de enfoque científico. Afirmava que a ciência é necessária, mas que deve ser baseada numa cosmologia apropriada, pois toda ciência tacitamente pressupõe a metafísica.

Um pouco mais tarde, surge o mais proeminente articulador da escola whiteheadiana de teólogos de processo, o professor de teologia da School of Theology da Califórnia, John Cobb. Com a produção de vários materiais, Cobb contribuiu grandemente para a articulação contemporânea da teologia do processo, lançando um desafio à mentalidade moderna com a construção de uma visão da realidade para o mundo pós-moderno. Essa visão iria oferecer a estrutura intelectual para o poder transformador da fé cristã.

Ao longo de sua vida, Cobb acabou ficando insatisfeito com a discussão sobre questões de metafísica e voltou-se para problemas de natureza mais prática, mesmo assim continuou a buscar fundamentos para o pensamento da teologia do processo.

Basicamente a teologia do processo diz que a pessoa humana, por sua vez, é uma ilustração ou o produto do processo dinâmico no centro de toda realidade. A base para a dinâmica do mundo é Deus, cuja presença está em todas as coisas e atos, e que é a fonte de movimento de todas as coisas em direção à convergência, quer do Ômega (Teilhard) ou dentro da experiência divina (Whitehead).

No pensamento de processo, o mundo, especialmente a humanidade, age como co-criador não apenas de si mesmo, mas também de Deus. Segundo os autores, a teologia do processo concentra-se no fato de que Deus sofre com o mundo e deixa a conquista do mal exclusivamente a cargo de experiência divina. Assim, ela oferece uma visão extremamente limitada da santidade de Deus, como aquele que rejeita o pecado e o mal a ponto de trabalhar ativamente para alcançar a vitória sobre eles em favor do mundo dando a entender que Deus seria forte em persuasão, mas fraco em poder.

No entanto, ao resgatar as características positivas da tradição liberal do século 19, a teologia do processo estabeleceu a vitalidade da teologia dentro do contexto do mundo cientificamente orientado do século 20. Fez uso da natureza dinâmica da realidade apresentada pelas novas teologias cientificas da física e da biologia como viga mestre na fundação para uma nova teologia cristã.

Com isso buscava oferecer uma alternativa para a rejeição radical da filosofia pelo pensamento teológico predominante na primeira metade do mesmo século. Mesmo tendo dado continuidade à tradição liberal dentro de um novo ambiente, a teologia do processo, também não foi capaz de evitar a maior dificuldade e nem superar o problema central da teologia desde a Renascença.

Assim, a transcendência é engolida pela imanência e o Deus do pensamento de processo não passa de um espelho do ser humano que luta pela unidade.

Quinto capítulo

No capítulo de número cinco os autores descrevem sobre A Imanência dentro do secular: O Movimento Radical. Este movimento situa-se na década de 60 num momento de crescimento e de rápidas transformações. Período em que a neo-ortodoxia começou a ser questionada em vários aspectos à medida que os teólogos mais jovens buscavam novas expressões e novas abordagens para um exercício da teologia em que a imanência de Deus pudesse mais uma vez ressurgir.

Vários pensadores debateram-se com o termo “secular” e seu significado para a teologia. Em decorrência disso, a doutrina acerca de Deus tornou-se central às suas reflexões, como fica evidente no movimento radical da morte de Deus.

Com vários teólogos se aposentando nas décadas anteriores, como Karl Barth, Niebuhr e Tillich vários pensamentos foram surgindo e tomado forma. Vários modismos foram desaparecendo outros, no entanto, deram vazão à exposição de nomes como Dietrich Bonhoeffer que defendia um movimento denominado de “teologia radical”.

Buscavam encontrar a presença da realidade divina dentro da realidade temporal da vida moderna. E é com Bonhoeffer que deve começar a história da teologia de imanência no início da década de 60.

Dietrich Bonhoeffer, foi conhecido de Karl Barth, trabalhou como líder da Igreja Confessional da Alemanha durante o Terceiro Reich, foi martirizado por sua oposição ao regime de Hitler, serviu de exemplo de vida e determinação para muitos jovens, inclusive nos Estados Unidos da América.

Nascido em 04 de fevereiro de 1906, na cidade de Breslau, Bonhoeffer era filho de um professor universitário chamado Karl Ludwing Bonhoeffer, uma sumidade em psiquiatria e neurologia. Vindo de família de tradição teológica por parte do seu bisavô materno, Karl-August van Hase que foi um dos mais proeminentes estudiosos da história da igreja na Alemanha do século 19, e seu avô, Karl-Alfred, havia sido capelão do Imperador.

Na família havia também vários teólogos. Bonhoeffer foi um teólogo, mas não um teólogo sistemático no sentido tradicional. Assim como sua vida, seus escritos também são fragmentados. Dois de seus mais importantes tratados, Cristo, o Centro e, Ética são reconstituições.

Debateu-se, durante toda a sua vida com a pergunta: “Quem é Jesus Cristo?” Para poder compreender o pensamento deste teólogo, é necessário entender a formulação dessa questão cristológica, segundo os autores.

Encontrou em Barth sua alma gêmea, onde formou seus próprios conceitos. O livro, O preço do Discipulado, trabalha questões como a “graça barata” e a “graça custosa”. A graça barata refere-se àquilo que poderíamos chamar de “igrejismo”, pregação do perdão sem exigir arrependimento, do batismo sem a disciplina, da Ceia sem a confissão e da absolvição sem a contrição.

A graça custosa, pelo contrário, declara que a salvação tem um preço. Para Deus, ela custou o seu Filho, assim, exige obediência, isto é, uma vida de discipulado. Defendia um “cristianismo sem religião”, rejeitando uma visão privatizada de religião, que limitava a religião à esfera “espiritual”.

Para Bonhoeffer a igreja só é autêntica quando existe para a humanidade. Num livro que tinha em mente, Bonhoeffer planejava apresentar sua visão: A transcendência não consiste em tarefas que estão fora do nosso escopo e poder, mas sim no Deus que está próximo.

Sobre a transcendência, Bonhoeffer não viveu para expandir, sistematizar e completar estes temas.

Outro assunto abordado pelos autores é a Teologia Secular: A submersão de Deus dentro do mundo moderno. Muitos escritos de Dietrich Bonhoeffer, especialmente Cartas e Escritos da prisão passaram a exercer grande impacto sobre o mundo teológico anglo-americano. Todos desejavam tirar do Cristianismo á ênfase tradicional sobre “o outro mundo” e, por fim, buscavam entender vez por todas o que era absolutamente básico na linguagem da “fé”.

Uma primeira linha de pensamento radical, apontada pelos autores, foi o movimento da morte de Deus, também nos anos 60. Após altos e baixos este movimento ressurgiu graças à imprensa secular, mas, nunca teve muitos seguidores.

Segundo os autores, foi praticamente a ideia de apenas dois homens: William Hamilton e Thomas J. J. Altizer que propuseram uma adaptação totalmente radical do mundo amadurecido. Este pensamento criou muita controvérsia e a mídia popular pegou a expressão e transformou-a num fenômeno cultural da noite para o dia.

Em 1965, apareceu na revista Time o título “Deus está morto?” William Hamilton foi professor de história da igreja na Colgate Rochester Divinity School na década de 60. Teve vários livros publicados, entre eles A nova essência do Cristianismo – 1961, onde começou a introduzir a ideia da morte de Deus, elaborando-a a partir do pensamento de Nietzsche, Camus e Tillich.

Thomas Altizer foi considerado o líder mais importante da teologia da Morte de Deus ou “ateísmo cristão” da década de 60. Professor de Bíblia e religião na Universidade Emory de Atlanta, tornou-se proeminente em 1966 com a publicação de seu manifesto sobre a morte de Deus intitulado O Evangelho do Ateísmo Cristão.

No mesmo ano, foi o autor de Teologia Radical e a Morte de Deus. Altizer via a morte de Deus como um acontecimento histórico e não apenas uma expressão simbólica da autonomia da humanidade moderna. Ele chamou esse acontecimento de “a auto-aniquilação de Deus”.

Altizer afirmava ainda, que “o cristão proclama o Deus que negou a si mesmo ou sacrificou-se totalmente em Cristo”. Essa imanência radical de Deus leva a uma importante e necessária conclusão prática: aquele que afirma a morte de Deus pode superar todas as formas de “negação” da vida e dizer “sim” a este mundo e à vida dentro dele.

A crítica sobre este pensamento, principalmente sobre Altizer foi radical. Alguns o acusaram de total paganismo, enquanto outros o desprezaram como sendo as palavras irracionais de um gênio confuso. Críticas ainda mais devastadoras vieram de teólogos da direita e da esquerda ocasionando o fim do movimento da morte de Deus no final da década de 60.

Ainda sobre a teologia radical, surge John A. T. Robinson que procurou resgatar a teologia em meio à cultura secular. De acordo com Robinson, Deus não pode ser encontrado “lá no alto” ou “lá fora”, quer em termos espaciais, ou metafísicos e espirituais. Ao invés desse supernaturalismo, o bispo desejava desenvolver o trabalho de seus mentores, a fim de reformular a doutrina cristã de Deus de modo mais aceitável para a mentalidade moderna.

Em 1967, Robinson apresentou a questão da crença e da descrença no mundo maduro na sua obra, Mas nisso não posso crer! Ao longo de seus escritos debateu-se com o problema básico da transcendência e imanência. Ele observou que a situação contemporânea exigia que a ideia de imanência viesse primeira no discurso cristão, que deve partir da imanência e mover-se em direção à transcendência.

Em sua obra Honesto com Deus a reflexão teológica cristalizou-se naquilo que foi chamado de movimento do Cristianismo secular.

Outro teólogo é destacado pelos autores Grenz & Olson foi Harvey Cox. Em seu escrito A Cidade Secular afirma que o processo de secularização, ao contrário de ser destrutivo para a espiritualidade cristã, está em profunda concordância com a fé cristã. Este livro tornou-se extremamente popular. No entanto esta obra foi composta durante uma época reacionária de sua vida, quando ele estava “no ímpeto extasiante da fuga” da cidade pequena onde havia crescido, reforçando implicitamente o conceito cristão tradicional de providência. Os críticos que acusaram Cox e outros de imanentismo extremo podem ter exagerado, segundo os autores. De qualquer forma, ao reagir à transcendência radical da neo-ortodoxia, eles, de fato, dissolveram a transcendência de Deus dentro do mundo. Assim, mais uma vez, a imanência sobrepujou a transcendência.

Sexto capítulo

Os autores iniciam o capítulo seis abordando A Transcendência do futuro: A Teologia da Esperança. Ainda, a década de 60 foi uma época de confusão, em que muitas pessoas estavam em busca de novas respostas. Ao mesmo tempo, a teologia entrava num período conturbado ao ver seus grandes nomes se aposentando ou falecendo, seus sucessores falando sobre o fim de Deus e o mundo determinando as prioridades da igreja.

O “ateísmo de protesto”, com seus argumentos contra a crença e com base nas evidências assustadoras da perversidade gratuita e em larga escala, ganhou força durante esta década.

Os ateístas usavam o Holocausto e Hiroshima como provas contrárias à existência do deus do teísmo cristão. Em uma busca por um novo entendimento da transcendência divina, os teólogos da esperança apresentaram uma tese ousada: no lugar da espacialidade, é a temporalidade que pode servir como ponto de partida para a busca por Deus como Ser Transcendente.

Como resultado, eles falaram de Deus como sendo o “poder do futuro”, “o Deus vindouro”, que lança a sombra de sua presença em toda história a partir do “futuro absoluto”, que é onde ele habita em seu reino soberano vindouro.

Neste contexto, os autores citam Jürgen Moltmann apresentando a transcendência e a imanência do futuro. Nos vários escritos de Moltmann, um tema central se destaca: a esperança no futuro, baseada na cruz e na ressurreição de Jesus Cristo.

A esperança sobre a qual ele escreve e fala é uma esperança realista fundamentada na história e na experiência. Moltmann nasceu em Hamburgo, na Alemanha, em 1926. Cresceu num lar protestante liberal, onde recebeu mais conhecimento sobre Lessing, Goethe e Nietzsche do que sobre a bíblia. Recebeu seu doutorado em teologia em 1972 e serviu como pastor de uma pequena igreja Reformada até 1957.

De acordo com Moltmann, o verdadeiro coração do Cristianismo, e, portanto, o verdadeiro elemento central da teologia é a esperança da vinda do “Reino de Glória” de Deus, o cumprimento divinamente prometido da glória de Deus na plenitude da liberdade e comunidade de seres humanos, bem como a libertação da própria criação das amarras da decadência.

Uma das principais preocupações de Moltmann na teologia é empregar a teologia escatológica ou “messiânica” para resolver o conflito entre a imanência e a transcendência de Deus, através de uma reconstituição criativa da doutrina acerca de Deus. Ele acredita que o conceito de Deus como “poder do futuro” também ajudará a solucionar o conflito moderno entre o teísmo clássico e o ateísmo.

A intenção de Moltmann é de que sua teologia seja “biblicamente fundamentada, escatologicamente direcionada e politicamente responsável”. O teólogo alemão aproximou ao máximo o próprio ser de Deus ao seu futuro Reino de Glória, no qual Deus estará inteiramente presente e manifesto no mundo. Tratou da ligação entre a doutrina da Trindade e a escatologia em dois livros importantes, O Deus Crucificado e A Trindade e o Reino.

Segundo os autores no escrito de Moltmann O Deus Crucificado parece negar qualquer vida eterna triúna de Deus já constituída à parte do acontecimento da cruz: “Qualquer um que fala verdadeiramente da Trindade, fala da cruz de Jesus e não especula sobre enigmas espirituais”.

Assim, ao que parece, segundo os autores, essa é uma completa rejeição à doutrina tradicional da Trindade imanente ou ontológica, que vê Deus existindo em triúna perfeição divina desde toda a eternidade. Mesmo tendo começado sua doutrina sobre Deus em Teologia da Esperança com uma forte na ênfase na transcendência – a ponto de deixar implícito o caráter sobrenatural do futuro – ao longo de seus livros, Moltmann move-se a passos firmes em direção a uma ênfase exagerada na imanência de Deus dentro da história.

No final, a teologia de Moltmann acaba sendo vítima da constante tentação da teologia contemporânea de enfatizar a imanência de Deus em detrimento de sua transcendência.

Os autores Grenz & Olson passam a descrever sobre Wolfhart Pennenberb a partir da página 222 apontando a transcendência na razão e na esperança. Segundo eles Wolfhart juntamente com Moltmann, encontrou projeção nos anos 60 como um dos proponentes da emergente teologia da esperança. Wolfhart nasceu em 1928 numa região a nordeste da Alemanha que agora é parte da Polônia. Aos 16 anos de idade encontrou por acaso uma obra do filosofo ateu Friedrich Nietzsche. Estudou teologia e filosofia e como resultado de seus questionamentos, ele concluiu que o Cristianismo é a melhor filosofia, uma conclusão que deu início de sua vida como cristão e teólogo.

Defensor incansável do ecumenismo, mas sua visão dos objetivos do movimento ecumênico o colocou em oposição à orientação política que caracterizou o Concílio Mundial de Igrejas por muitos anos.

Para Wolfhart sua importância central encontra-se na visão da teologia em si e da verdade à qual esta teologia está relacionada. Em termos simples, ele está procurando mudar o rumo da teologia contemporânea para combater o que, a seu ver, é uma extensa privatização da crença religiosa em geral e especialmente da teologia.

Sobre a natureza da tarefa teológica da origem a uma teologia voltada para dois pontos focais entrelaçados – razão e esperança. Seguindo a tradição clássica, Wolfhart afirma que a teologia sistemática como um todo é essencialmente a doutrina de Deus. Na verdade, Deus é o objeto que inclui toda teologia. Argumenta ainda que a teologia não pode simplesmente lançar-se á doutrina de Deus, mas deve determinar seu ponto de partida.

Os autores Grenz & Olson relatam vários pontos sobre Wolfhart como exemplo A Teologia e a Verdade, Razão e Esperança, Teologia Sistemática e a Doutrina de Deus, Transcendência e Imanência, entre outros.

Conclui este capítulo argumentando que apesar das reservas apresentadas sobre Wolfhart deve ser elogiado por oferecer uma alternativa tanto para a tendência existencialista característica da teologia alemã ao longo de grande parte do século 20, com sua ênfase no existencialismo transcendente, como também para o ressurgimento da teologia da imanência encontrado em muito do pensamento teológico americano.

Mais do que Moltmann, Wolfhart conseguiu ligar a salvação com a criação, desenvolvendo, assim, uma visão crítica da relação do mundo com sua fonte transcendente/imanente.

Sétimo capítulo

O sétimo capitulo abordado pelos autores, diz respeito à Renovação da Imanência na Experiência de Opressão: Teologia da Libertação, no mesmo período citado acima destacando ainda que foi uma época turbulenta e radical onde muitas teologias nasceram, competiram por atenção e morreram. Mas nenhuma chegou a ser predominante, mesmo que várias gozem de importância duradoura.

À medida que a década se aproximou de seu fim suas tendências radicais foram canalizadas para uma direção bem diferente daquilo que havia predominado desde o surgimento do movimento da morte de Deus, o modismo radical com o qual esse período de 10 anos havia começado.

Os autores começam por abordar sobre a Teologia da Libertação Negra: a imanência na experiência negra, onde pessoas de origem africana vivendo nos Estados Unidos gozam de uma rica herança religiosa. Tendo nascido na era da escravidão e da opressão social e econômica que se seguiu, sua experiência deu origem a uma tradição religiosa singular, que incluía a expressão através “Negro spirituals”.

Assim a resposta dos teólogos negros a essa necessidade veio sobre a forma “teologia negra”. Acontece também o envolvimento da teologia da libertação neste período sendo esta da América Latina um fenômeno católico romano, em parte, constituía uma reação ao pensamento europeu. A teologia negra, por outro lado, é um fenômeno protestante norte-americano. Nomes como Martin Luther King Jr e Malcom X são citados pelos autores como dando inicio ao surgimento histórico desta caminhada. James Cone começa a expressar questões relacionadas às experiências dos negros nos Estados Unidos. Publica em 1970 Uma Teologia Negra de Libertação, onde sua tarefa principal foi propor a atividade libertadora de Deus como tema central para uma apresentação da teologia.

Os autores discorrem sobre a Teologia da Libertação Latino-Americana que teve seu inicio em 1968 através dos bispos da igreja católica da América Latina, reunidos na cidade de Medelin, na Colômbia, iniciaram uma revolução teológica.

Foi a segunda reunião da CELAM, Conferência Episcopal Latino-Americana, conhecida como CELAM II ou simplesmente Medelin. Em 1971, surgiu uma obra que parecia destinada a tornar-se o livro-texto do novo movimento: A Teologia da Libertação, escrita por um padre peruano e professor de teologia chamado Gustavo Gutiérrez.

No Brasil surge o nome de Paulo Freire afirmando que os próprios pobres devem tomar os primeiros passos para lidar com sua situação, surgindo a partir daí o que fora chamado de conscientização. Segundo Freire os pobres devem se libertar de sua “mentalidade condicionada de dominado” e libertar os ricos de sua “mentalidade condicionada de dominador”.

Nesta época milhares de ativistas políticos desapareceram, foram torturados ou mortos. Sem dúvida, a teologia da libertação é a forma de teologia de maior influência na América Latina no final do século 20.

Com tudo em setembro de 1974, o Vaticano emitiu um documento criticando a teologia da libertação, sendo redigido e assinado pelo Cardeal Joseph Ratzinher.

Destacam-se alguns teólogos citados pelos autores que são: além de Gutiérrez, do Peru citado acima, Leonardo Boff e Hugo Assmann, do Brasil, José Miranda, do México, Juan Luis Segundo, do Uruguai e o espanhol Jon Sobrinho, em El Salvador, na Argentina surge o metodista José Míguez Bonino.

É patente entre estes teólogos da libertação as características mais importantes da sociedade latino-americana, que é a pobreza. Essa teologia busca enfatizar a preferência de Deus pelos pobres. Apresenta também o marxismo como um auxilio para práxis cristã, afirmando que a análise de Marx esclarece as causas da injustiça e da extrema pobreza na América Latina.

É claro que este movimento gerou uma quantidade tremenda de críticas, contudo os teólogos da libertação não demonstraram interesse em se envolver num diálogo com seus críticos, afirmando que a maneira melhor de julgar uma teologia é através de seus frutos e não pelas forças de seus argumentos intelectuais.

Após uma descrição mais detalhada os autores passam a descrever outro movimento chamado de Teologia Feminista: a imanência de Deus na experiência das mulheres. Parte da ideia de um grupo de mulheres que se reúnem para adorar, orar e compartilhar suas histórias de opressão numa sociedade e em igrejas dominadas por homens.

Oram para o Deus Pai e a Deusa Mãe e cantam hinos que não usam linguagem machista. Reúnem-se em volta de uma mesa com um sino, uma vela e uma bíblia. A líder do culto lê passagens da Bíblia que oprimem mulheres e o grupo exclama em uníssono: “Fora, demônios, fora!”.

O movimento da Igreja Feminina é apenas uma das expressões de uma crescente alienação do Cristianismo tradicional e sua teologia entre as feministas.

O livro de Betty Friedan A Mística Feminina chega às livrarias. Outra autora feminista citada pelos autores é Pamela Dickey Young, que identificou quatro temas unificadores que definem o movimento: a teologia cristã tradicional é patriarcal; a teologia tradicional tem ignorado ou não tem levado a sério as mulheres e suas experiências; a teologia tradicional têm conseqüências prejudiciais às mulheres e, portanto, as mulheres devem começar a ser teólogas e iguais no papel formativo do exercício teológico.

Entre as líderes da linha principal de teologia feminista, os autores ainda citam três influentes e articuladas defensoras de mudanças: Elisabeth Schüssler Fiorenza, Rosemary Ruether e Letty Russel.

Ainda, segundo os autores está se desenvolvendo um consenso, tanto entre protestantes evangélicos quanto liberais, de que não há nenhuma razão bíblica convincente para se negar a participação plena das mulheres ao lado dos homens, tanto no ministério quanto no lar.

Apesar de vários benefícios que a participação feminina trás, a teologia feminina vai longe demais em sua revisão radical dos símbolos cristãos, e ameaça causar um cisma do corpo de Cristo ao apoiar e encorajar o movimento da igreja feminina. Elizabeth Achtemeier, uma conhecida estudiosa da bíblia e teóloga, argumentou que a identificação de Deus ou Deus/a com o mundo irá, no final das contas, levar a teologia feminista a uma religião diferente do cristianismo, se é que isso já não aconteceu.

A teologia feminista deve redescobrir a transcendência, tanto em sua metodologia quanto em suas doutrinas de Deus e de Cristo, se deseja causar um impacto positivo e duradouro sobre a teologia cristã, finalizam os autores.

Oitavo capítulo

A abordagem dos autores para este capítulo está relacionada com a teologia Católica no sentido de sua contribuição com o tema da Transcendência e como os teólogos responderam aos mais diversos questionamentos. Para isso, o primeiro assunto está relacionado com a Transcendência do Espírito Humano: A Nova Teologia Católica.

Segundo os autores, o problema da transcendência e da imanência tem envolvido não só teólogos católicos como os protestantes. No entanto, os católicos ofereceram caminhos mais vantajosos para a resolução do dilema, corroborando, até mesmo com a consolidação de uma escola de pensamento, católico, que surgiu na virada do século 19 para o século 20, chamada de “modernismo”.

Seus principais proponentes praticavam a crítica bíblica superior e questionavam princípios, os mais rígidos, da igreja pedindo uma adaptação da teologia católica à cultura moderna.

Outros, inclusive alguns papas, empenharam-se em acabar com o modernismo tendo-o como anátema dentro da igreja. Alguns teólogos foram silenciados, outros foram destituídos de seus cargos de ensino e o medo se instalou na comunidade teológica. O papa João XXIII, eleito em 1959, lançou-se a realizar uma reforma na igreja, a fim de atualizá-la, num processo chamado de aggiornamento, tendo como principal feito a realização do 2º Concílio do Vaticano, também chamado de Vaticano II, que ocorreu em Roma, entre os anos de 1962 a 1965, ocasionando mudanças importantes na vida da igreja.

Na opinião dos autores, dois teólogos são apontados como principais neste processo. Karl Rahner, de Freiburg e Hans Küng, de Sursee. Karl, proeminente teólogo católico, produziu uma interpretação progressista e moderna da fé. Hans, novato na área teológica, desafiou constantemente a igreja a ir mais longe e mais rápido em direção às mudanças.

No entanto, o mais conservador foi Karl Rahner, todavia, ambos procuraram unir o céu e a terra sem perder a distinção entre eles. A influência destes dois teólogos, assim como outros progressistas, estimulou mudanças significativas na teologia européia e americana depois do Vaticano II.

Mais tarde, sob as orientações do papa Paulo VI (1963-1978), começou a estabelecer-se uma reação. Posterior a ele, João Paulo II continua por estabelecer esta reação, ainda mais poderosa e intensa. Nomeia como chefe da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Karl Ratzinger.

Para alguns, com Ratzinger, teria se estabelecido uma nova Inquisição na Igreja. Outros acreditam que ele tem tratado os progressistas com justiça e moderação. Em meio a confusões e tumultos, Rahner e Küng alcançaram destaque, sendo considerados visionários e desbravadores apontando caminhos para o futuro da igreja.

Moderados aliaram-se a Rahner, enquanto os progressistas liberais e radicais dão preferência a Küng. Especificamente sobre Karl Rahner, os autores complementam que, pelo alto nível de abstração encontrado em suas reflexões teológicas, ele teria sido duramente criticado. Em determinada charge, surge o próprio Jesus, alegando não estar entendendo uma de suas exposições – a ideia era mostrar que a teologia de Rahner era difícil demais de explicar até mesmo para aquele de quem ele trata. Mesmo assim, mais tarde, Rahner passou a ser reconhecido como o “homem mais poderoso” do Concílio do Vaticano II.

Sobre Hans Küng, autores descrevem que ele teria sido um dos teólogos mais prolíficos e populares do século 20. Para muitas pessoas, ele teria se tornado símbolo do pensamento cristão progressista. Para outros, um acadêmico rebelde e arrogante. É claro que, apresenta pontos fortes e fracos em sua teologia, mas um dos pontos fortes estaria no fato de ela (teologia) oferecer uma apologética para a intensidade ou mística com os desafios do ateísmo, agnosticismo e niilismo. Apresentou profundo conhecimento acerca dessas ideologias seculares e uma habilidade em sondar suas forças e fraquezas. Olha com simpatia e transparência e, ao mesmo tempo, que lança críticas com o intuito de buscar contradições e incoerências.

Outro ponto forte em sua abordagem foi o diálogo criativo que construiu com as ciências modernas e pós-modernas. Com este diálogo, ele pode afirmar que as explicações racionais para a descrença não são mais fortes do que aquelas em favor da crença e que, para nos apegarmos a Deus, não precisamos sacrificar nossa identidade.

No entanto, se a apologética é seu ponto forte, o mesmo não acontece com o método teológico e a interpretação da doutrina. Segundo a observação de Catherine LaCunga, é preciso fazer uma distinção entre a metodologia teórica de Küng e sua metodologia aplicada.

Assim, depois de uma rigorosa investigação, ela conclui: “Falando em termos formais… na metodologia teológica de Küng, parece haver uma tensão viva, para não dizer difícil, entre fé e a História, na qual a linha histórica condiciona, porém não determina a linha da fé”. Em outras palavras, segundo os autores, Küng não consegue se decidir sobre qual ele escolherá como absoluta para a verdade teológica, caso surja um conflito entre a razão histórica e os claros ensinamentos bíblicos acerca de Jesus Cristo.

Dessa forma, Küng teceu um retrato de Jesus Cristo como um ser humano especial e até mesmo singular, mas não como Deus encarnado. Com isso, depois de uma bela apologética, segundo o que os autores nos apresentam e citando Karl Rahner, Küng deve ser considerado um protestante liberal com teologia relativamente fraca.

Nono capítulo

O próximo capítulo abordado pelos autores trata da Transcendência dentro da História apontando para uma Teologia narrativa. Como algo latente no ser humano, o fato de cada etnia ter algum conteúdo para oferecer nesse sentido; nasceu nos anos 70 uma abordagem chamada “teologia narrativa”. Esta ganhou muitos seguidores na tentativa de incorporar à atividade teológica, descobertas recentes sobre a importância histórica para a compreensão dos seres humanos sobre si mesmos.

Com isso abriu caminho para um novo meio de se conceituar a transcendência divina, ao mesmo tempo em que também deixa espaço para a imanência. A visão desenvolvida elevou a discussão acima dos elementos puramente temporais introduzidos pela teologia da esperança e que formavam as bases de retorno à imanência da teologia da libertação.

A principal característica para a teologia narrativa e para que seja classificada como tal no sentido mais amplo, uma obra literária precisa conter apenas uma história e um narrador. Esse método teria estimulado uma grande variedade de expressões e um número enorme de tratados, a ponto de os próprios historiadores simpatizantes do movimento não conseguirem chegar a um acordo sobre os modelos básicos dessa metodologia.

Grenz & Olson, como vem desenvolvendo em todos os capítulos, tecem suas críticas a este modelo. Por se tratar de um movimento, relativamente novo na Teologia, ele ainda não teria alcançado sua plenitude, mas oferece promessas para o futuro.

Acertadamente, este movimento pede que a ética e a teologia considerem o papel da comunidade cristã na formação dos crentes como pessoas de caráter.

Para os autores, os teólogos narrativos, como são chamados, precisam articular a visão do relacionamento de Deus com o mundo dentro desta abordagem.

Assim, a teologia narrativa procura o Deus transcendente dentro da história da comunidade de fé. Se a verdade eterna do Deus transcendente pode surgir destas narrativas religiosas que competem entre si dentro da história humana, ainda seria uma pergunta que continua sem respostas.

Décimo capítulo

No último capítulo, os autores trazem o tema: Reafirmando o equilíbrio, onde possam a descrever sobre o que chamam de amadurecimento da teologia evangélica. Dois teólogos batistas fazem parte destas análises que são: Carl F. H. Henry e Bernard Ramm.

Segundo os autores o século 20 teria sido caracterizado por várias tentativas, por parte de muitos teólogos, de traçar novos rumos. Alguns preservaram e foram adiante com o enfoque da Reforma.

Por vezes surgiram discussões e debates sobre questões metodológicas e pedidos de volta às doutrinas. Na segunda metade do século, teólogos conservadores formaram uma coalizão informal sob a bandeira do movimento evangélico.

As preocupações estavam em articular declarações teológicas que fossem fiéis à Bíblia e à herança das tradições da igreja, especialmente aquilo que havia sido “conquistado” pela Reforma. Mesmo havendo certo compromisso com “a fé comprometida com a igreja” e a manutenção da ortodoxia teológica, teólogos evangélicos estavam interessados no diálogo com os proponentes das correntes modernas que eles discordavam.

Nos Estados Unidos e Canadá, na virada do Século, houve a formação de coalizões evangélicas, que assolaram a igreja, contrário do que estava acontecendo na Europa. Na metade do século, iniciou-se um reavivamento no solo do fundamentalismo. Jovens pediam por nova participação comprometida de pessoas com a ortodoxia protestante clássica em meios intelectuais.

Entre esses jovens estava Carl F. H. Henry que reprovava seus colegas fundamentalistas, por causa de diversas omissões. Para Henry o problema básico era a falta de programas sociais e não se via mais o caráter humanitário e a consideração benevolente pelos interesses da humanidade.

Assim a fé cristã parecia estar separada dos grandes movimentos da reforma social, alguns deixaram de pregar o reino de Deus à realidade presente e a omissão da tarefa de moldar a mentalidade da sociedade estava aquém do necessário.

O que Henry buscava era a um ressurgimento do “Cristianismo histórico” na posição de “ideologia mundial”, baseado em que sua convicção de que “a mensagem redentora tem implicações para a vida como um todo”.

Henry em 1983 foi aclamado o “principal intérprete da teologia evangélica, um de seus mais importantes teóricos e porta-voz não oficial de toda uma tradição”. Dedicou grande parte de sua carreira a ser uma espécie de jornalista teológico, onde descrevia e criticava correntes teológicas à medida que iam surgindo. Procurou lançar as bases metodológicas para teologia evangélica com a publicação de sua obra-prima chamada: Deus, revelação e autoridade, num tratado de seis volumes.

Entre vários pontos destacados pelos autores também se encontra a Ética Social, onde Henry apresentou a tese de que o cristianismo deve incentivar a transformação social em âmbitos como a política, os negócios e o trabalho em geral. Para ele, é uma “visão bíblica”, considerada indispensável tanto a conversão individual quanto a justiça social.

Afirmava e insistia que a mudança social deve começar com o indivíduo e não no nível comunitário e que a igreja deve “apoiar-se na regeneração espiritual, para a transformação da sociedade”.

Segundo os autores, Carl Henry ofereceu um grande exemplo de crítica com sólidas bases acadêmicas a cerca dos acontecimentos dentro da teologia geral do século 20 ao movimento evangélico. Procurou reafirmar a ênfase ortodoxa na realidade transcendente de Deus, que chega até a humanidade. Afirmou também, que o Deus transcendente fala através da revelação Divina e que pode ser captada pelos seres humanos que são feitos à sua imagem.

Outro teólogo apresentado pelos autores neste último capítulo é o americano Bernard Ramm, que representa aqueles que se voltaram para o pensamento moderno dentro dos avanços científicos de nossa época. Ramm adotou o pensamento de Barth por este ter oferecido um paradigma para a teologia evangélica pós-iluminista. Ramm procurou levar o evangelicalismo mais longe do que fizera Henry na tarefa de dialogar com a mentalidade moderna. Seu interesse principal era mostrar a interatividade da bíblia, entendia que a teologia deveria centrar-se na bíblia, com o conhecimento humano na sua totalidade. Sua contribuição para o evangelicalismo não se deu através do ministério pastoral, mas sim na carreira acadêmica de sucesso onde se firmou como professor de línguas bíblicas no Los Angeles Baptist Theological Seminary.

Mais tarde, tornou-se chefe do departamento de filosofia e apologética do Bible Institute of Los Angeles, onde lecionou até 1951.

Para os autores, o pensamento de Ramm teve grande influência no seu desenvolvimento com a teologia de Karl Barth. Ramm aproximou-se de Barth, por ver no teólogo suíço uma alma gêmea, envolvendo-se na teologia clássica sem, de forma alguma, perder de vista o Iluminismo. Sua tentativa era de ir além do fundamentalismo. Para ele, a revelação encontrada na gênese da teologia inclui o elemento do mistério. Procurou captar um senso profundo do aspecto da revelação. A abordagem de Ramm foi construída sobre a premissa que o Ser transcendente condescendeu com a humanidade, revelando, a realidade divina de Deus às criaturas pecaminosas.

Assim, o Ser transcendente também era imanente, presente como a verdade de todo conhecimento humano. Por essas e outras contribuições Ramm ofereceu vários fundamentos para uma geração de pensadores evangélicos mais jovens.

Assim, a teologia evangélica havia começado a amadurecer, segundo os autores Grenz & Olson, mas apesar de sua contribuição importante para o movimento, Ramm não havia resolvido totalmente o dilema evangélico.

Os autores partem então para a conclusão de seu trabalho destacando a Contribuição do Passado e Perspectivas para o futuro da Busca por uma Teologia da Transcendência e Imanência. A cada era, a teologia é confrontada com vários desafios, entre eles está o desafio de articular a visão cristã de Deus, de maneira que equilibre, afirme e mantenha em tensão criativa as verdades gêmeas da transcendência e imanência divinas. Deus está vivo, é auto-suficiente e independente do mundo, está acima do universo e chega até a criação vinda do além.

No século 20, vários teólogos procuraram exercer uma teologia em tempos de desequilíbrio, sendo produto do fim do consenso medieval, que ocorreu nas mãos do Iluminismo. Ao ponto que os pensadores medievais buscavam equilibrar a tensão da transcendência e a imanência, usando para isso elementos espaciais, o Iluminismo, eliminou o abismo que separava esses dois reinos. Ele, o Iluminismo, colocou a criatura em contato direto com o criador, um contato que requeria apenas a mediação da razão, com o seu poder de descobrir o Logos que compartilhava com o universo.

A Idade da Razão moldou a mentalidade que hoje chamamos de “moderna”, uma visão que busca o conhecimento absoluto e a segurança. Pensadores do século 19 procuraram transcender o racionalismo do Iluminismo. Teólogos do século 20 procuraram determinar certo equilíbrio entre o impacto do Iluminismo na mentalidade moderna e a imersão insatisfatória de Deus dentro do mundo.

Ao invés de se obter uma teologia equilibrada, os esforços das últimas décadas parecem ter apenas aumentado a tensão entre a imanência e a transcendência. O século 20 começou com um protesto contra a ênfase na imanência, considerada importante para a mentalidade ocidental desde a Renascença e a transcendência teria renascido.

Os autores sintetizam algumas dúvidas da humanidade que os teólogos do século 20 procuraram responder, tais como: Como devemos compreender a “palavra”, “Deus” e o “céu”? Em que sentido a voz de Deus vem de encontro ao nosso mundo? Quem é esse Deus que se dirige a nós dessa maneira? E de onde Deus fala?

No entanto, cada um dos principais movimentos teológicos apresentados pôde de alguma forma, oferecer uma contribuição específica para o todo. Ainda, segundo os autores, os evangélicos procuram oferecer uma correção necessária no sentido de lembrar que a teologia deve dirigir seus esforços para a visão do equilíbrio entre a imanência e a transcendência, mostrando-se impassivelmente comprometidos com a autoridade bíblica.

A tradição evangélica adverte que, sempre se deve manter a perspectiva bíblica para que os compromissos do evangelicalismo possam oferecer um ponto de referência para se lançar fundamentos firmes para a teologia do século 21.

Afirmam não ter esgotado as opções teológicas durante as últimas décadas nas páginas deste trabalho e ao contrário, afirmam que inúmeros pensadores lutaram com questões principais e secundárias dando também suas contribuições.

Algumas propostas, no entanto, estariam ainda muito novas para serem avaliadas. Para o século 21 o pós-modernismo poderá moldar a teologia, pelo menos inicialmente, mas, uma questão pode ainda ficar em aberto – quais serão as marcas da pós-modernidade?

Há, no entanto, o sentimento que, com o final do século 20, apesar das boas intenções, ainda não foi possível transformar a terra em céu. Para alguns, não há céu, não há transcendência, não há um além, quer acima de nós ou adiante de nós; somos seres imperfeitos, prisioneiros de uma terra imperfeita.

Apesar desta situação, na era pós-moderna, a teologia tem a oportunidade de articular, mais uma vez e de novas maneiras, a convicção cristã da realidade do Deus imanente-transcendente.

Este mesmo Deus nos convida a olhar além de nossas imperfeições para a perfeição ainda não alcançada. O que fica é que a teologia deve aceitar o desafio da experiência do século passado entendendo que a terra não pode tornar-se céu, mas com a mensagem da esperança, na terra pode ser “assim como nos céus.

O Deus que se comunica conosco é um Deus presente, no aqui e agora. Assim, acerca desta verdade está no centro do equilíbrio teológico da imanência divina com transcendência divina, concluem os autores.

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Estas páginas foram agradáveis de ler e refletir sobre os conteúdos apresentados pelos autores. No entanto, tornou-se uma leitura cansativa devido aos detalhes apresentados sobre alguns assuntos.

Acredito, porém, que é um excelente volume para consultas e estudos sobre os principais teólogos dos séculos passados e, que nos ajuda a entender os vários movimentos existentes da época.

Na leitura, observei que os autores buscaram identificar pontos comuns sobre os assuntos, que enriquece ainda mais o conteúdo, possibilitando ter uma noção geral sobre os pontos apresentados.

Senti falta das notas de roda-pé nas páginas. A cada citação é necessário buscar o final do livro, isso, às vezes, dificultava a sequência lógica do raciocínio além de atrapalhar no manuseio do livro.

Acredito que poderia ter mais conteúdo sobre a Teologia da Libertação Latino-Americana, não só pelo seu próprio conteúdo, mas também pelos seus desdobramentos não só no Brasil como também em outros países.

Menor ainda foi o conteúdo apresentado pelos autores, sobre a Teologia da Libertação Negra.

Achei interessante a leitura desse conteúdo e a recomendo, principalmente para os estudantes de Teologia. Ela vem complementar leituras anteriores e dar entendimento aprofundado sobre os teólogos que contribuíram com suas reflexões para podemos fazer a nossa teologia nos dias de hoje.

Acredito que estes assuntos ainda não estão esgotados, como os próprios autores descrevem na sua conclusão, mas, o que parece é que nos dias de hoje as discussões estão mais superficiais.

Talvez, devido ao próprio momento em que vivemos, na era da pós-modernidade, a teologia precisaria assumir, além de afirmações concretas sobre a imanência e a transcendência outros temas que estão em pauta como eutanásia, aborto, sexualidade etc.

Dessa forma, acredito que este livro atende mais aos meios acadêmicos do que à comunidade cristã, de forma geral.

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GRENZ, Stanley J. & OLSON, Roger E. A Teologia do Século 20 – Deus e o mundo numa era de transição. São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 2003.

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