Uma reflexão sobre a ‘práxis’ cristã dos dias atuais
Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Outubro/2018
E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo,
em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.
Palavras de Jesus descritas por Mateus, capítulo 24, versículos 14 – NVI-P 1
Com o evento da tecnologia, temos hoje, variedades de opções de distrações a nossa disposição. Nos finais de semana, eventos, shows, palestras, cursos etc., concorrem com nossas horas livres. Ficar em casa no final de semana ficou mais divertido, pois com o acesso à Internet temos inúmeras possibilidades. Podemos até mesmo, assistir aos cultos das igrejas, tomando um saboroso café, estando ainda de pijama. Alguns aceitam essa última possibilidade, mas, por outro lado, aqueles que não veem isso com bons olhos.
Fato é que há muitas opções de distrações para todos os gostos, desde um saboroso prato gastronômico, passando por opções culturais e, não tão recente, os ‘cardápios religiosos’, disponíveis a um clique.
Recentemente, meus alunos do curso de teologia apresentaram uma série de pesquisas, que chamamos academicamente de Portfólios. O tema proposto era a identificação do número de Cristãos na cidade, número de igrejas e quantidade populacional. Todos utilizaram, como base de dados, o último censo realizado pelo IBGE, do ano 2010. Em suas apresentações, pude perceber reações distintas, como inconformismos, tristezas, surpresas, para outros, a constatação do número de Cristãos causou espanto. Muitos, verbalizaram seus pensamentos com a seguinte questão:
Como pode haver maioria de Cristãos no Brasil e a população apresentar características tão díspares de uma práxis cristã?
Discutimos, conversamos e refletimos sobre estes dados e possíveis respostas. No entanto, quero tecer aqui outros comentários e acrescentar outros argumentos, utilizando para isto um texto que li na revista2 ‘Fé para hoje’, edição nº 9, do ano de 2001, realizado por Thomas K. Ascol, que foi o preletor na primeira conferência desta revista em Portugal, neste mesmo ano.
O texto, traz o seguinte título: O diagnóstico e a Igreja Moderna. Esta leitura me fez e refletir e quero discorrer com algumas argumentações.
Meu primeiro argumento é que a membresia, ainda não entendeu seu significado.
A principal razão por que a igreja como a conhecemos agora não é mais eficaz consiste do fato de que ser membro dela tornou-se quase sem significado.
Ser membro de igreja, em grande parte, agora só acontece no papel. Elton Trueblood
Um número significativo que são contados como membros das igrejas, nunca participam dos cultos, não participam da vida da igreja e não contribuem, são apenas números. Para os que são assíduos, domingo após domingo, esses números não interessam. Para estes, apenas a sensação de cumprir com suas atribuições, manter a frequência e trazer sua contribuição, sem se importar em saber onde suas ofertas e doações foram gastas.
Como clubes recreativos, esperam que o básico esteja disponível no dia da visita.
Não se importam com o conteúdo teológico ou com a proposta de atuação social, apenas subtraem o que lhe interessa, se servindo do conteúdo da palavra ministrada.
Outro argumento que penso é que muitos caracterizam os cultos em suas Igrejas como Um culto fraco.
Uma enfermidade eclesiástica pode ser considerada como um culto fraco, ‘ritualístico’, ‘não-atrativo’, ‘enfadonho’, ‘monótono’ e ‘não-inspirador’, são as descrições para descrever os cultos de algumas igrejas.
Quando o foco está no homem no lugar de estar em Deus, sempre haverá a necessidade de criar opções de distrações para atender às variedades de gostos dos membros ‘pagantes’.
Assim, seus líderes, pensam, a cada semana realizar apenas mais uma distração até que Ele venha!
Projetam cenários que vai dos mais simples aos mais complexos com shows pirotécnicos, trocam lâmpadas, tapetes, cortinas, instalam ventiladores, ar condicionados, wi-fi, tomadas para carregar a bateria do celular, etc. Há variedade de opções para atrair os pecadores e manter os fiéis.
Recente, escrevi sobre a ‘morte da democracia’ em dois artigos, sendo que no último, argumentei que o foco que deve ser observado é o processo eleitoral e não discutir propriamente sobre o conceito democrático.
Aqui, arrisco-me a afirmar o mesmo! Não é o formato do culto que devemos discutir, senão o propósito do que é realmente SER Igreja.
Neste contexto, recomendo a leitura do livro de Tuco Egg3, ‘Igreja entre aspas’.
Mais perguntas surgem:
Precisamos de templos, altos salários, espaços ‘faraônicos’ e todos os demais ‘utensílios’?
Quem precisamos agradar?
Está bem continuarmos neste ritmo, ser um grande número e não causar qualquer impacto positivo na sociedade?
Consigo dar respostas para estas questões, mas sei perfeitamente que não seriam fáceis implementá-las, algumas, impossíveis, reconheço.
Assim, sigo com mais indagações!
Então, por que, como igreja, estamos demonstrando pouco impacto na sociedade?
Seria falta de programas? Seria falta de marketing? Ou falta de recursos?
Não!
Creio, no entanto, que o problema é mais simples.
Em linhas gerais, como igreja, nos ‘moldamos’ ao mundo, perdendo nossos alicerces espirituais e doutrinários.
Promovemos eventos estrategicamente planejados para atender e manter os fiéis ‘por perto’ no lugar de planejar ações de evangelização e alcance dos perdidos.
Arrisco-me a afirmar que, como igreja, podemos rever nosso processo de SER Igreja, voltar aos princípios bíblicos básicos de evangelização, abandonar certas práticas de distrações que não trazem qualquer resultado para a expansão do Reino de Deus a não ser, apenas, mais uma distração até que Ele venha!
Como Cristão, devemos pensar em uma nova ‘reforma’ de nossos conceitos, de nossa expressão de fé e de nossa prática, para que, de fato, possamos ser Sal e Luz neste mundo, até que Ele venha!
Que o Senhor nos ajude a compreender essa verdade e a fazer as correções que precisamos fazer!
Que o Senhor nos ajude a ser seus imitadores!
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1 – BÍBLIA SAGRADA. Português – Nova Versão Internacional – NVI-P – Versão On Line – You Version
2 – REVISTA ‘Fé para hoje’. Edição nº 9. Editora Fiel. São José dos Campos/SP. 2001.
3 – EGG, Tuco. Igreja entre aspas. Editora Grafar. Joinville/SC. 2011.