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Há esperança?

Uma breve reflexão sobre minha viagem ao alto Sertão do Nordeste Brasileiro

Por: Claudecir Bianco

Teólogo e Missionário
Outubro/2018

 

Alegrai-vos, pois, filhos de Sião, regozijai-vos no SENHOR,

vosso Deus, porque ele vos dará em justa medida a chuva;

fará descer, como outrora, a chuva temporã e a serôdia.

Bíblia Sagrada, livro do profeta Joel capítulo 2, versículos 23 – NVI-P [1]

Vi lugares onde falta tudo! Falta luz, água, comida, paz, política sociais, igreja, Deus…

Eles não têm água em abundância e qualidade…
Em alguns lugares não há paz…
Em outros, faltam-lhes as esperanças…
Não tem quem lute suas causas…
Eles não têm voz…
Há lugares que não têm acesso adequado, esforça-se para entrar…
Para sair, em alguns momentos é impossível…

Eles não têm igrejas…
Muitos não sabem combinar as letras…
Em alguns lugares não há partidarismo político…
Na verdade, eles não querem perder o que já foi ‘conquistado’…
Alguns, por não terem conhecimento político, pensam que se o outro candidato ganhar na política, eles vão perder… de novo…
Assim, querem afastar qualquer tentativa de mudança, pois, apesar de não terem nada, tem muito a perder…

Em alguns lugares, o pouco das plantações que têm, os gafanhotos destroem em minutos… literalmente!
Então, não plantam…
Eles não têm a variedade de igrejas que temos na cidade…
Eles sequer, têm uma única igreja para congregar…
Muitos deles não tem saúde, pois não há comida de qualidade, não há água de qualidade, não há medicamentos… em muitos lugares, não há médicos…

Em todos os lugares que cheguei, outros vieram antes com ‘presentes’…
Culturalmente, todos gostam muito de receber presentes… quem não gosta?
Alguns, criticam o governo por dar uma espécie de ‘presente’ todos os meses…
Alguns chamam de assistencialismo.
No entanto, os mesmos que criticam, praticam o mesmo ato, revestido de ajuda, levando ‘presentes’….
Alivia a alma de quem dá, traz alegria para quem recebe, mas não transforma nada…
Em determinado contexto, causa mais dano do que ajuda…

Muitos querem ir conhecer estes lugares, ter uma ‘experiência’… Ninguém quer ficar…
Muitos querem ver as casas de taipa, construída com habilidades inimaginável por qualquer engenheiro, mas não querem erguer ‘templos humanos’ que honrem a Deus…

E por falar em Deus, em alguns lugares, há conhecimento superficial de Deus…, mas, qual Deus? Não sei…
Talvez, um Deus negro, pobre, índio, humilde, simples…
Um Deus forjado ao longo dos anos, sob a intensidade do Sol e a necessidade diária…forjado à semelhança daquele que o imagina… (cada um de nós, faz o mesmo).
Um Deus oferecido na representatividade dos ‘presentes’, em cada visita, daqueles que chegam, mas nunca permanecem, veem na pontualidade se suas ações, as melhores que podem realizar…
Um Deus como ‘passaporte’, para continuidade do círculo vicioso de dependência dos de fora…
Um Deus, aceito condicionalmente…

No entanto, mesmo achando que falte tudo, me parece que há ESPERANÇA…
Há esperança em um dia melhor; em uma chuva temporã e a serôdia (Joel 2:23) [2]
Há esperança que um dia as coisas fiquem melhores, que aquelas conquistas não sejam subtraídas…
Há esperança que um dia, uma Igreja da cidade, se importe com fervor, com amor sincero e adote um povoado, para demonstrar o amor de Deus de forma integral e incondicional…

Há esperança que um dia, o sofrimento cesse e que a paz reine…
Há esperança que um dia, alguém venha para ensinar tudo aquilo que o próprio Deus, encarnado em Jesus, disse para que seus imitadores ensinassem, pois são palavras vivas e transformadoras…

Há sim, muitas esperanças….

E esta esperança, silenciosa, sincera e intrínseca, usurpa a dor, o sofrimento, a ausência daqueles que se dizem ‘irmãos’…
Por vários dias, a esperança silenciosa é a amiga mais presente, que eles podem contar…
Até que alguém venha…
Até que uma igreja se importe…
Até que a escassez cesse, e a alegria de permanecer na sua terra, na sua parentela, seja o principal objetivo.

Sim, há (ainda) muitas esperanças…

e nós podemos ser aqueles que vão fomentá-la em cada vida!

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 [1]BÍBLIA SAGRADA. Português – Nova Versão Internacional – NVI-P – Versão On Line – You Version

[2] – Dado que o adjetivo temporão quer dizer «que vem antes do tempo considerado normal; precoce; prematuro», «chuva temporã» é toda a chuva que ocorre antes do «tempo considerado normal», ou seja, antes da chamada «estação das chuvas». A palavra vem do «latim vulgar temporānus < latim clássico temporanĕus,a,um, “que ocorre ou se faz num dado tempo, no tempo certo”, por extensão “fora ou antes do tempo normal”».

Quanto a «chuva serôdia», como o adjetivo serôdio significa «que vem tarde; tardio», trata-se de chuva «que aparece depois do tempo próprio». A palavra serôdio vem do «latim serotĭnus,a,um, “que vem tarde, que produz tardiamente, tardio, serôdio”, derivação do verbo serĕre, “semear, plantar”; cp. serotino, por via erud.; forma histórica sorodeo, 1589 serodio».

Assim, as expressões «chuva temporã» e «chuva serôdia» significam que se trata de chuva que vem fora da sua época habitual, mas a temporã é a que aparece antes, e a serôdia é a que surge depois da época normal.

[Fontes: Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora, e Dicionário Eletrônico Houaiss]

[3] – O termos, ‘alguns‘, ‘muitos‘, foram usados propositalmente.

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