Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Setembro/2019
[…] Deus contou os dias do teu reinado e determinou o seu fim. Daniel 5:26
Neste artigo, trago um resumo do texto de Donald K. Mckim, que é uma perícope do livro Grandes temas da tradição reformada. Ao final, faço minha reflexão sobre o conteúdo deste belo e profundo texto.
O autor Donald K. Mckin trabalha alguns conceitos sobre a perspectiva reformada a respeito da missão da Igreja na sociedade. Segundo o autor, historicamente, as igrejas na tradição teológica reformada têm tido um interesse apaixonado por sua missão na sociedade. Tal interesse tem se expressado numa variedade de formas nos muitos contextos em que as igrejas reformadas se situaram desde o século dezesseis.
As igrejas da fé reformada têm tido à sua disposição os recursos teológicos de suas próprias tradições para cumprir a missão e o ministério com integridade e zelo. Veremos cinco temas que aparecem nos textos de João Calvino (1509-1564), do puritano inglês William Perkins (1558-1602) e do teólogo holandês Abraão Kuyper (1837-1920).
Segundo o autor, a doutrina cristã sobre a criação (ex nihilo, “do nada”) que, segundo ele, procura honrar as afirmações bíblicas do poder e da majestade de Deus como o único que é a fonte de tudo o que existe no universo. A partir desta percepção básica cristã, a teologia reformada tem ênfase especial ao sentido e às implicações da doutrina da criação.
Abraão Kuyper afirmou que “a concepção fundamental da religião, segundo o calvinismo”, é “a confissão da soberania absoluta do Deus trino. Pois “o Deus trino é o Senhor do céu e da terra. A teologia reformada nunca teve dúvida a respeito deste ponto e tal convicção deu um caráter distintivo à comunidade reformada”. Calvino insistia que a contemplação da bondade de Deus na criação devia nos levar à gratidão e à confiança.
Mas, William Perkins falou a respeito de uma preocupação reformada semelhante na discussão das “obrigações” da doutrina da criação. Ele listou uma destas obrigações que a humanidade deve “se esforçar em obedecer à Palavra de Deus. Deus é o criador e tudo o que ele criou deve, em todas as coisas, se conformar à sua vontade”.
O autor afirma também outra ênfase característica da tradição reformada que tem sido a da eleição divina de um povo para servir a Deus. Pela providência, Deus “governa todos os eventos” e elegeu ou predestinou um povo para a realização dos propósitos divinos neste mundo. A fé é o instrumento pelo qual Deus une este povo a si mesmo. No pensamento reformado, esta percepção da eleição divina de um povo, a escolha de um corpo unido mediante o pacto em Jesus Cristo, tem sido um poderoso estímulo para a ação na sociedade.
Mckin aborda outro ponto: O Reino, Cristo é o Senhor da história. O autor cita Agostinho (a.D. 354-430), e sua obra “cidade de Deus”, iniciada no ano 413 e concluída em 426, onde Agostinho procurou defender o cristianismo em face da destruição de Roma, em 410. Ele desenvolveu a noção das duas cidades, a cidade de Deus e a cidade do mundo, trespassando a história. O estabelecimento do Reino de Deus na história e além dela é considerado, como o centro da atividade providencial de Deus.
Calvino prosseguiu com este tema em sua interpretação a respeito dos “dois reinos”. “A um podemos chamar de reino espiritual; a outro, de reino político”, escreve ele (Institutas, 3.19.15). Para Calvino, estes dois reinos são distintos, enquanto para Lutero, eles não são completamente separados ou antitéticos.
Sobre vocação: Um chamado ao serviço, o autor afirma que no pensamento reformado, convocação para a participação na vontade e obra de Deus em Cristo, em meio à história humana, vem diretamente ao povo de Deus. Karl Barth (1886-1968), um dos maiores teólogos reformados do século vinte, sublinhou isto ao escrever que “a ordem de Deus exige genuinamente vida ativa, isto é, que o homem tome uma decisão e realize o que decidiu. Ela não lhe permite compreender e tratar sua existência como um fim em si mesmo”.
Para Barth, “uma vida ativa vivida em obediência deve, obviamente, consistir em uma correspondência à ação divina”. Assim, o povo de Deus está sob uma “obrigação” que as Escrituras chamam de “serviço”. Mas, como no pensamento reformado em geral, especificamente neste “serviço” prestado pelo povo de Deus, o começo ou “chamado” vem de Deus. Existe uma iniciativa divina em curso. O Senhor, que é soberano e que elege, em funções do estabelecimento do Reino de Deus em Jesus Cristo, “chama” o povo de Deus para o serviço por este mundo.
Outro ponto interessante abordado por Mckin é a Mordomia: Administrando responsavelmente os recursos de Deus, sendo este, um dos mais poderosos legados do judaísmo do Antigo Testamento para a Igreja cristã. A humanidade recebeu em grau de poder sobre os recursos deste mundo, mas também foi lembrada de quem é, em última análise, o provedor de tais recursos. Os seres humanos estão “sobre a natureza, mas sob Deus”. Os seres humanos são os “mordomos”, os “inspetores” ou “administradores” dos dons que lhes foram dados. As apropriações do conceito de mordomia nas igrejas reformadas têm sido, até onde lhes foi possível, abrangentes.
O brasão pessoal de Calvino resumia este compromisso abrangente. Ele mostrava um coração em chamas, numa mão aberta estendida, sendo ofertado a Deus com as palavras: “Eu te ofereço meu coração, pronta e sinceramente”. Para encerrar, o autor faz as reflexões conclusivas sobre a perspectiva reformada a respeito da missão da Igreja na sociedade.
Em sua “Forma de Governo”, a Igreja Presbiteriana (USA) identifica as “Grandes Finalidades da Igreja” da seguinte maneira: a proclamação do evangelho para a salvação da espécie humana; o abrigo, a nutrição e a comunidade espiritual dos filhos de Deus; a manutenção do culto divino; a preservação da verdade; a promoção da justiça social; e a exposição do Reino dos Céus ao mundo.
Portanto, na liberdade do evangelho, os cristãos e as igrejas reformadas buscam fielmente ministrar e fazer a vontade de Deus. Seus esforços são realizados não para a sua própria glória, mas para a maior glória de Deus, que, “pelo poder que atua dentro de nós, é capaz de fazer muito mais abundantemente do que tudo que pedimos ou pensamos”, finaliza Mckin.
Concordo plenamente com as afirmações do autor no sentido literal, mas quando observo a prática, vejo que muitos não estão conseguindo aplicar esta teria, bíblica e conceitual da Igreja Reformada. Se na década de 90 estas conclusões representassem a verdade no contexto mundial, o que se observa hoje, em pleno século XXI, são pessoas submissas aos sistemas, inclusive os eclesiásticos.
Tenho observado que muitos líderes evangélicos estão mais preocupados em encher seus milhares de metros quadrados para obter mais recursos financeiros para continuar a manter seus bens e suas estruturas faraônicas. Não estou falando apenas do movimento Neo pentecostal, mas de muitas igrejas históricas que estão nesta mesma prática demoníaca.
Que adianta ter todo o conhecimento sobre a soberania de Deus, seu Reino, nossa mordomia e não viver a práxis destes conceitos. De que adianta crer num Deus provedor e ficar preocupados com os recursos para manter o sistema. De que adianta pregar uma coisa e viver outra. Em algum momento da história da Igreja Reformada, a Teologia se desviou da Palavra de Deus. Em algum momento da vida da Igreja, valorizou-se mais a estrutura do que as pessoas. Hoje, aos poucos estamos colhendo o fruto do que foi plantado.
Minha conclusão
Muitos estão ainda plantando as mesmas sementes podres ou estéreis.
Precisamos pedir ao Criador que nos ensine novamente a plantar a semente que gere vida em abundância.
Podemos agir como cuidadores dos nossos semelhantes e da natureza que o Senhor nos deu.
Devemos nos arrepender de nossos pecados, principalmente o pecado da omissão.
Até quando vamos continuar pregando coisas que nossos membros querem ouvir?
Até quando vamos dar liberdade ao diabo e seus demônios, para roubar, matar e destruir nossas crianças e jovens?
Até quando vamos deixar que esta geração se perca nas drogas, no sexo e na falta de compromisso com Deus?
Óh Deus! Ajuda Sua Igreja (nós) a levantar e dar a resposta de salvação para este mundo!
Que não ouçamos do Senhor: MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM.
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BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos King James – BKJ 1611 – Niterói, RJ : BV Films Editora, 2018.
MCKIN, D. K. Grandes temas da tradição reformada. São Paulo, SP. Ed. Pendão Real. 1998. p. 323-336