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Os sãos não necessitam de médico!

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Agosto/2019


Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento. Lucas 5:32

Ora, em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em hebreu Betesda, o qual tem cinco alpendres.
Nestes jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e ressicados, esperando o movimento da água.
Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água; e o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse.
E estava ali um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo.
E Jesus, vendo este deitado, e sabendo que estava neste estado havia muito tempo, disse-lhe:

Queres ficar são?
O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me ponha no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.


João 5:2-7

Quem, estando em perfeitas condições de saúde, decide livre e espontânea vontade, ir ao médico? Alguns, até vão ao médico, estando ‘saudáveis’, mas, mesmo nesta situação e na intenção de fazer um check-up, já pressupõe alguma necessidade. O texto, exposto acima, nos dá a entender que um homem, enfermo há trinta e oito anos, permanecia na mesma situação, talvez acostumado por sua condição, conformado com sua doença e sua necessidade.

Ainda, pela narrativa, observa-se que o enfermo não responde à pergunta de Jesus, mas, de forma evasiva, tenta justificar sua situação. Ao se justificar, coloca nos outros a responsabilidade de não estar são. Sua resposta aparentemente respeitosa, procura esconder muitas coisas. Por que, estando ali por tanto tempo, não conseguiu ninguém para ajudá-lo? Por que não estudou uma alternativa ou uma estratégia diferente para solucionar o problema? No entanto, ancora-se na justificativa e na queixa.

            A pergunta de Jesus foi clara, objetiva e direta: Queres ficar são?

Talvez Jesus esperasse um: SIM, ou, NÃO; pois sobre isso Ele já havia ensinado, conforme o relato de Mateus, no capítulo 5, versículo 37 que diz:

Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna. 

Mas, sendo Jesus, o Mestre e conhecedor do coração humano, faz a melhor interpretação da resposta do doente como assertiva para promover a cura, e assim foi feito.

Observe a continuação do texto, relatado por João:

Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma o teu leito, e anda.
Logo aquele homem ficou são; e tomou o seu leito, e andava.
E aquele dia era sábado.
Então os judeus disseram àquele que tinha sido curado: É sábado, não te é lícito levar o leito.
Ele respondeu-lhes: Aquele que me curou, ele próprio disse: Toma o teu leito, e anda.
Perguntaram-lhe, pois: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito, e anda?
E o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se havia retirado, em razão de naquele lugar haver grande multidão.
Depois Jesus encontrou-o no templo, e disse-lhe: Eis que já estás são; não peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior.

João 5:8-14

Quero destacar algumas reflexões sobre este texto, sem esgotar outras tantas possibilidades interpretativas que podemos obter:

1 – Jesus realiza a cura sem utilizar dos recursos tradicionais

A forma tradicional para a cura era que a pessoa devia ser a primeira a ter o contato com as águas quando elas fossem agitadas. Nesta situação específica, não encontramos no relato, que Jesus tenha ordenado ao homem para que se lançasse nas águas, mas através de um milagre, e apenas através das palavras de Jesus, o homem recebeu a cura. Se havia pecado, foi perdoado, e, havendo doença física, foi restaurada sua sanidade.

 

2 – Por mais que a resposta do doente traga uma ideia evasiva, Jesus conhece a verdade sobre a situação

Sem saber exatamente com quem estava falando, o homem dá o mesmo padrão de resposta para Jesus e que talvez tenha sido a mesma por todos os anos que passou ali. Há muitas possibilidades para tentarmos esclarecer a verdade por trás deste fato. Talvez este homem estivesse acomodado com a situação. Talvez, realmente não tivesse nenhum amigo que o pudesse ajudar. Talvez estivesse numa ‘posição cômoda’ obtendo algum ‘ganho’ com aquela situação. Mas, mesmo com a resposta evasiva e, talvez, corriqueira, sua vida e personalidade mudaram ao encontrar Jesus.

 

3 – Jesus faz a relação entre pecado e doença, ou seja, a integração das áreas física e espiritual

Talvez o pecado deste homem pode ter sido o conformismo que a situação lhe trazia. Apesar de ser difícil crer que isso seja possível, não é uma situação totalmente isolada. Há pessoas que vivem a vida conformadas com determinadas situações que se convencem que não podem promover qualquer tipo de mudança. Não pedem ajuda e demonstram descontentamento por tudo. Levam uma vida doentia, dando respostas evasivas, culpando ‘deus e todo mundo’ por situações desgraçadas.

Sim, em minha opinião, considero respostas sem sentido e que apresentem similaridade com o que foi descrito até aqui, como pecado, no sentido que busca culpar os outros por todas as situações negativas que sucedem, não assumindo assim, sua parcela de responsabilidade. Ao permanecer neste processo e, ao longo dos anos, pode gerar patologias físicas, emocionais e espirituais.

 

4 – Jesus utiliza de uma situação comum para mostrar aos demais ‘doentes’ onde podem obter a cura

A tradição judaica diz que não se pode fazer qualquer atividade no sábado. A tradição daqueles pobres judeus era que havia uma dependência exclusiva do tanque e no agitar das águas para receber a cura. Jesus rompe com estas tradições, promovendo a cura no sábado e curando através das Suas palavras. Estas duas situações rompem por completo a dependência daquelas pessoas com o ‘templo/tanque’ e o tradicionalismo relativo a um determinado dia de ‘culto’.

Em outras palavras…

  1. Não precisamos ir a um determinado lugar, em dia e horário específicos para receber a cura;
  2. Jesus conhece a patologia do ser humano, independente de que ele se manifeste;
  3. Jesus respeita nossa decisão de receber ou não a cura e ser transformado por Seu poder;
  4. Há forte relação entre doença física e pecados, mas não em todos os casos;
  5. Jesus espera que assumamos a responsabilidade dos atos que praticamos e que tenhamos respostas condizentes;
  6. Uma vez que recebemos a ‘cura’ e somos transformados, devemos dar testemunho do fato… ou seja, é necessário que este testemunho seja algo que promova no outro alguma reflexão diferente sua forma de vida.
    1. Neste sentido, ao nos acomodarmos frente aos eventos tradicionais das nossas igrejas, nos comportamos como o homem que há trinta e oito anos estava ali, naquela situação, supostamente acomodado com a situação, vivendo e dependendo da tradição religiosa da época, assim nada mais acontecia.
    2. Ao nos acomodarmos, no sentido de entender que ‘ir à igreja’ domingo pela manhã ou à noite, é mais importante do que ‘sermos’ a igreja de domingo a domingo, fora das quatro paredes, pode passar a ideia de que o poder de Deus está somente naquele lugar… e que, em algum momento haverá ‘o mover das águas!’
    3. O nosso testemunho não está relacionado somente ao fato de uma cura milagrosa para uma doença terminal, ou o fato de ter deixado algum vício específico. Não! Nosso testemunho está em independente de uma situação como essa ter acontecido ou não, mas no ‘simples’ fato de termos sidos alcançados pela Graça Salvadora de Cristo, que já nos habilita a sermos Suas testemunhas, nos impulsionando para falar aos outros.
    4. Se entendemos que são os doentes que precisam de médicos… se entendemos que a igreja, como dizem alguns, seria um grande hospital… precisamos refletir urgentemente se, de fato, recebemos a cura, pois qual pessoa quer manter-se doente ao ponto de frequentar o hospital e fazer dele a sua casa?

Que estas reflexões possam nos ajudar a ter atitudes diferentes frente à pergunta que Jesus, frequentemente faz à Sua Igreja.

Queres ficar são?

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BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos King James – BKJ 1611 – Niterói, RJ : BV Films Editora, 2018.

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