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Que farei para herdar a vida eterna?

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Setembro/2019


Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças. Deuteronômio 6.5

E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo:

Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?
E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.
E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.
Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?
E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.
E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.
E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo.
Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão;
E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele;
E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.

Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele.

Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.

Lucas 10:25-37

Talvez seja essa a dúvida de muitas pessoas, ainda hoje!

O ensino e compreensão, naquela época, tinha como fundamento de salvação parâmetros um pouco diferentes dos que conhecemos hoje. No entanto, tudo começava e terminava no amor a Deus, a nós e ao nosso próximo. Ao fazer a mesma pergunta hoje, creio que a resposta seria: Aceite Jesus como seu único salvador! Claro que outras recomendações viriam acompanhadas, como se fossem uma receita de bolo: faça isso e aquilo, e pronto, será salvo. Como se isso fosse uma chave que abrisse as portas do paraíso!

De uma forma bem simplificada, cabe destacar aqui os principais sistemas teológicos, o Calvinismo e o Arminianismo, no que diz respeito à salvação.

O termo Calvinismo foi dado pelos ‘seguidores’ de João Calvino (1509-1564), que trataram de agrupar seus argumentos em cinco pontos principais. No quesito da Salvação, para o Calvinismo, todos os homens nascem totalmente depravados, incapazes de se salvar ou de escolher o bem em questões espirituais. Termo conhecido como Depravação total, assim a salvação é somente a graça de Deus sobre nós.

Para o Arminianismo, que é o sistema de Teologia formulado pelos ‘seguidores’ de Jacobus Arminius (1560 -1609),  teólogo da Igreja holandesa, que resolveu refutar o sistema de Calvino, apresenta a Capacidade humana ou Livre-arbítrio Todos os homens embora sejam pecadores, ainda são livres para aceitar ou recusar a salvação que Deus oferece (por meio da Graça Preveniente), afirmando a vontade humana para aceitação ou não da salvação.

O sistema teológico de Armínio foi ‘derrotado’ no Sínodo de Dort em 1619 na Holanda, por ser considerado anti-bíblico e, se for estudado a fundo, questões históricas e bíblicas, vamos perceber que não são as questões de ser bíblico ou anti-bíblico mas, resultados interpretativos de pontos complexos realizados por homens sinceros que em seu tempo, contribuíram de forma substancia com a teologia que temos hoje.

Hoje, o Arminianismo é o sistema teológico adotado pela maioria das igrejas evangélicas. No entanto, muitos creem, sem conhecer em profundidade e outros refutam, também sem qualquer conhecimento.

No texto transcrito acima, relatado no evangelho de Lucas, observamos a resposta de Jesus condizente e concentrada no amor a Deus e ao próximo (como a nós mesmos), pois ainda não havida chegada a hora de o Cristo de Deus, mudar para sempre a concepção de salvação da humanidade.

Assim, nestes padrões, encontramos na exposição do texto, e observando um contexto atual, podemos dizer que é fácil amar as pessoas que estão em nosso círculo de relacionamento. Por exemplo, nossa família, parentes, amigos e até os que moram no mesmo país, principalmente se for estrangeiro, vivendo em outro país. Esta atitude de amor é esperada de nós, entendemos e nos esforçamos para cumpri-la bem, é praticamente natural.

Na parábola, quero identificar os personagens e o local onde se passou a história contada por Jesus. Podemos observar que há o Judeu, o Levita, o Samaritano, o homem que sofreu o assalto e os próprios assaltantes. O local, onde se passou a cena é uma estrada sinuosa que desce de Jerusalém para Jericó, com uma distância de 27 quilômetros, em uma descida de mais de 915 metros, sendo assim um caminho perigoso e deserto.

Há, neste texto, uma relação do pensamento Judeu, do Levita e do Samaritano com a prática da época, mais ou menos assim:

O que é meu, é meu. O que é teu, é teu. Fica com o que é teu, que eu fico com o que é meu.

Arrisco dizer que este ainda é o pensando da maioria das pessoas na atualidade. Assim, dificilmente, qualquer um dos dois (Judeu ou Levita) pararia para ajudar aquele homem, pois, se estivesse morto, ambos ficariam imundos e seria necessário ir ao templo e realizar todo o processo de purificação. Outra ideia que podemos explorar aqui é que, em se tratando de um lugar perigoso, parar ali, poderia ser de risco extremo para sua própria vida.

Já, a visão dos assaltantes era:

O que é teu, é agora meu, eu vou pegar, não importa o que eu faça para conseguir isso, farei.

O Samaritano, despido de qualquer pensamento religioso ou limitante, não se preocupou em saber quem era o homem que precisava de ajuda, ou o que poderia acontecer com ele, se parasse naquele lugar perigoso, simplesmente atendeu o homem, prestando os primeiros atendimentos, levando-o consigo, pagando pelas despesas e demonstrando preocupação com sua recuperação. Assim, creio que sua cosmovisão fosse:

O que eu tenho, seja pouco ou muito, vou compartilhar com meu próximo.

Nesta parábola Jesus nos ensina que devemos romper com os padrões de amar somente aqueles mais próximos de nós. Ele espera que pratiquemos o amor incondicional, assim como Ele mesmo fez, ao se entregar por nós na cruz. Ensina que não devemos fazer por causa da nossa expressão de fé, ou que devemos fazer para obter algo em troca.

Eu creio que o personagem, intitulado de o Samaritano, não é, exatamente um homem natural de Samaria. Creio que seja a personificação do próprio Cristo, relatado por Jesus, daquilo que ele fez e que espera que façamos. A considerar a pecaminosidade humana e sua incapacidade em fazer o bem genuíno, despido de qualquer sentimento. Temos dificuldades extremas para amar e fazer o bem para os outros. É uma prática dura de ser realizada que retrate a essência do amor incondicional, aquele que não espera nada em troca.

Jesus nos ensina, faz primeiro, mostra como fazer, depois, gentilmente, nos convida a sermos seus imitadores. Mesmo com todas as nossas limitações e imperfeições, podemos fazer através dele.

Talvez lhe interesse a leitura de outro artigo meu: Há muito tempo deixei de seguir Jesus – que descreve as diferenças entre ‘seguir’ e ‘imitar’ as ações de Jesus.

Assim, na tentativa de responder à pergunta: Que farei para herdar a vida eterna? feita a Jesus pelo mestre da lei, me arrisco nas seguintes respostas:

1 – Entendo que, humanamente, não podemos fazer nada para sermos salvos, a não ser, responder ao convite, pois ao Senhor pertence a salvação (Jonas 2.9);

2 – Entendo que, para praticar o amor incondicional, precisamos primeiro compreender em profundidade o amor de Deus por nós, quando deu seu único filho (João 3.16);

3 – Entendo que, através da imitação que faço do Cristo hoje, me aproximo, em semelhança à prática que o próprio Jesus fez e ensinou (Lucas 10.37);

4 – Entendo que, tudo é graça de Deus sobre nós e a partir de Deus para nós, é graça sobre graça:

Glória Somente a Deus – (Efésios 1.4-6; Romanos 11.36)

Somente a Fé – (Efésios 2.8; Romanos 1.17)

Somente a Graça – (Salmo 63.3; Efésios 2.8 e 9)

Somente Cristo – (Atos 4.12)

Somente as Escrituras – (2ª Timóteo 3.16 e 17)

Dessa forma, só vamos poder ir além daquilo que é prática do senso comum, de amar somente aqueles do nosso círculo mais próximo, agindo como Ele nos ensinou, não com a finalidade de herdarmos a vida eterna. Não como objetivo final de obter a salvação, mas como resultado da salvação em Cristo, recebida pela graça de Deus é que podemos dar passos que vão expressar a prática e a imitação de Cristo, indo além e exercendo o amor incondicional para com nosso próximo.

Não pelas obras, mas pela graça (Romanos 11.6).

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BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos King James – BKJ 1611 – Niterói, RJ : BV Films Editora, 2018.

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