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A Igreja que Caminha

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Fevereiro/2019


Este artigo é um capítulo do meu e-Book: Agentes de Esperança – Estabelecendo o Shalom de Deus através da missão integral, que está disponível para venda – AQUI.

Trago à reflexão uma Igreja atuante na comunidade onde está inserida. Uma atuação concreta e participativa, que vai além de qualquer modelo de ‘projeto social’.

O caminhar da Igreja está centrado nas ações que ela deve desenvolver na sua comunidade.

Uma Igreja que caminha é uma Igreja que se importa com as pessoas que moram em sua proximidade.

É uma Igreja que se engaja nas ações que a próprias pessoas da comunidade se engajam.

É uma Igreja que se preocupa com a estrutura que mantém a cidade ativa.

É uma Igreja que ora e age para fomentar a ação restauradora do Shālôm de Deus em sua comunidade.

Contudo, é uma Igreja que não perde sua identidade, que não se conforma, mas transforma.

Segundo Jorge Barro:

A Igreja não é uma agência social, mas tem um significado social na cidade. Ela não é governo ou partido político, mas Deus a chamou para anunciar seu reino em todos os segmentos políticos. A Igreja não é um banco, mas uma força econômica da cidade. A Igreja não é uma escola, mas Deus a chama para educar o povo da cidade acerca do Evangelho do amor, da justiça e da transformação social. A Igreja não é uma família apenas, é a família de Deus, chamada para ser uma vizinha a todas as pessoas que Deus ama. A Igreja não é um prédio, mas necessita de prédios e os possui para desenvolver seu ministério. A Igreja não é exclusiva, nem melhor, nem única, mas Deus especialmente a chamou para ser diferente na maneira como ela serve a cidade. A Igreja não é uma instituição, mas necessita de estruturas institucionais para efetuar mudanças na vida das pessoas e sociedade. A Igreja não é uma organização de desenvolvimento comunitário, mas o desenvolvimento da comunidade é essencial na natureza da Igreja. Quanto mais pensarmos dessa forma, mais convencidos nos tornamos quanto à necessidade de buscar uma teologia da missão que nos dará um novo olhar para receber a nossa cidade, informar nosso ativismo, guiar nossas redes de relacionamentos e fortalecer a nossa esperança na transformação da cidade. (ENGEN, apud BARRO, 2002, p. 222).

Aqui, é necessário que se observe que a Igreja não deve tomar o lugar destas organizações, nem realizar ações específicas pertencentes a elas, mas poderá agregar ações e atividades que corroborem com a justiça em sua comunidade.

As possibilidades e potenciais latentes de uma Igreja numa comunidade são tremendos.

Uma Igreja que caminha é uma Igreja que não se conforma com o mundo, conforme Romanos 12.1 e 2.

É Igreja que respira “outros ares”, que não se deixa influenciar, mas que influencia porque participa e se envolve.

Uma Igreja que caminha é uma Igreja que não teme o “trabalhar com outras denominações”, por achar que poderá perder seus fiéis para o carisma do outro líder.

Sabemos da necessidade de buscar a todo o tempo a Unidade e a Reconciliação entre o Corpo de Cristo e, sobre este tema, o artigo Reconciliação como missão de Deus – Igreja como comunhão reconciliante, de Jacques Matthey reflete muito bem isso:

Reconciliação é um conceito que na teologia da missão do século XX não tinha nenhum papel importante, exceção feita à última década, e neste caso muitas vezes como formulação alternativa para justiça, paz e preservação da criação. Na Bíblia o conceito aparece raramente, mas nos escritos paulinos, que justamente na missiologia ecumênica, por via de regra, não ocupavam lugar de destaque. Segundo Paulo, a reconciliação é obra e oferta de Deus, que implica uma resposta humana: ―Deixai-vos reconciliar com Deus‖ (2 Co 5). Falar de reconciliação sugere uma compreensão crítica da relação entre o ser humano e Deus. Aqui Paulo se diferencia totalmente do tempo pós-moderno, no qual se parte, quase que inconscientemente, do pressuposto de que, no fundo, todos os seres humanos, exceção feita a casos muito especiais, têm uma relação autêntica com Deus ou a podem estabelecer sem dificuldades. Tudo pode e deve ser criticado na sociedade, na economia e na política, mas não a relação dos seres humanos com seu Deus, especialmente se estes

forem adeptos de outras religiões. Uma crítica missiológica da religião não tem espaço no ecumenismo pós-colonial. Faz parte dos ―pecados‖ imperdoáveis da missão ela se ter arriscado a examinar concepções e sistemas religiosos individuais ou de grupos, partindo de uma determinada compreensão da mensagem bíblica. O fato de missão seguir a senda da reconciliação poderia ser interpretado erroneamente no sentido de que qualquer crítica de parte da missão cristã em relação a manifestações individuais ou comunitárias de espiritualidade deva ser deixada de lado, a menos que estas manifestações estejam contribuindo para a injustiça (globalização) e a violência.

Do ponto de vista do Novo Testamento o serviço da reconciliação é, sobretudo, a comunicação da mensagem do estabelecimento de paz entre Deus e a humanidade, respectivamente a criação, acontecido na morte de Cristo, comunicação também em forma de apelo, no sentido de transformar esta mensagem em fundamento para a própria vida. Em Paulo o serviço da reconciliação por via de regra é relacionado ao conceito grego parakalein, isto é, a consolar, desafiar, encorajar, pedir por ajuda e outros mais. Estes são conceitos centrais da prática missionária e pastoral fundamentada carismaticamente, bem como parte de sua compreensão de profecia (1 Co 14.3, 3). Parakalein é instrumento para a construção da comunidade escatológica ágape, ―ícone‖ missionário de uma humanidade reconciliada.

A igualdade de todos os seres humanos diante de Deus anunciada por este, independente de sua identidade coletiva, precisa concretizar-se na igreja como unidade em amor e respeito, unidade em diversidade, aliada à tolerância (também em questões teológicas fundamentais), ao reconhecimento mútuo e à hospitalidade. A paz dada por Deus proíbe soberbia individual ou coletiva – por mais bem fundamentada teologicamente que esteja. A comunidade reconciliada vincula uma mensagem de bênção com uma postura pacificadora, tanto nas relações internas como nas externas. Rm 12-15, junto com 1 Ts 5 e 1 Co 12-14, descrevem um quadro fiel da comunidade carismática ágape desejada por Paulo. No inglês se introduziu recentemente o bonito conceito missional church, infelizmente intraduzível.

Nos escritos deutero-paulinos o significado de reconciliação é estendido consequentemente a toda realidade: ele possibilita novas relações em todos os níveis. Ainda assim, a terminologia da reconciliação não é empregada para a ação humana, e a ênfase da missão pós-paulina está no testemunho da comunidade, na qual o espírito de Deus dá e exige unidade, paz e amor.

O serviço da reconciliação está irremediavelmente vinculado à criação, à multiplicação e à constante renovação da comunidade carismática.

Reconciliação somente pode ser dada por Deus. Dado o fato de a missão de Deus incluir toda a humanidade e criação, diferentes pessoas e movimentos são ―chamados‖ a servir à justiça, à paz e à conservação da criação e estão agindo neste sentido. Processos sociais de reconciliação são imprescindíveis, porque eles apontam à cura necessária das feridas, à memória e às identidades que se fazem necessárias caso se queira construir paz como sinal no sentido de Shālôm.

Podemos ainda dizer que uma Igreja que caminha é uma Igreja que não teme se envolver na sociedade, não se rebaixa a posições medíocres, não dá respostas simplistas e superficiais para assuntos complexos.

Uma Igreja que caminha é Igreja crítica e profética, que denuncia a injustiça humana e anuncia a justiça divina.

É uma Igreja que anuncia, acolhe, cuida, promove e vive a MI todos os dias, para todas as pessoas.

No entanto, é um grande desafio para a Igreja de hoje.

O engajamento comunitário é complexo e deve levar a Igreja para executar ações que visem o alcance do homem e da mulher em sua integralidade, em todo e qualquer lugar, sem qualquer tipo de distinção.

Entretanto, as ações que se queiram desenvolver devem depender de Deus e do anuncio de esperança para vida das pessoas através do Evangelho.

Como pessoas restauradas pela ação do Espírito Santo, todos os crentes têm uma mensagem de esperança neste mundo carente de significados.

David Bosch argumenta que podemos apresentar o Reinado de Deus àqueles que procuram um novo sentido para a vida:

Tudo isso não sugere que devemos capitular ao pessimismo e ao desespero. À nossa volta todos estão à procura de um novo sentido para a vida. Esse é o momento em que a Igreja cristã e a missão cristã podem mais uma vez, humilde, mas resolutamente, apresentar a visão do reinado de Deus. (BOSCH, 2002, p. 434).

Assim, a participação da Igreja em sua comunidade torna-se essencial pela própria vontade de Deus para o cumprimento de seu propósito salvador.

O cristão não é um mero figurante neste cenário, mas foi comissionado divinamente, para que, através do seu testemunho, anuncie as boas novas que transformará o outro e, consequentemente sua comunidade de forma integral.

 

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Baixar em PDF :

BARRO, Jorge Henrique. De cidade em cidade: elementos para uma teologia bíblica de missão urbana em Lucas-Atos. Londrina: Descoberta, 2002.

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos de Genebra – São Paulo: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

BOSCH, David J. Missão transformadora – Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão – São Leopoldo: Sinodal, 2002.

MATTHEY, Jacques. Reconciliação como a missão de Deus – Igreja como comunhão reconciliante. Disponível em <https://slidex.tips/download/reconciliaao-como-missao-de-deus>

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