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A Pandemia COVID-19 e solicitude pela vida

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Março/2020


Não andeis ansiosos pela vossa vida… Mateus 6.25

Ao observar a atual Pandemia e a maneira como estamos promovendo o processo gradativo de mudanças, pessoal e comunitária, percebo a dificuldade que estamos vivendo e reflito sobre os riscos dos próximos dias e meses.

 

A DIFICULDADE EM MUDAR HÁBITOS SIMPLES

Sim, é difícil, para nós Latinos, deixar de dar abraços, beijos e apertos de mãos ao encontrar as pessoas. Relembro com saudosismos (tendo a mesma sensação) o tempo que fazia Capelania hospitalar; sendo a principal ‘regra’: Não tocar nos pacientes, carregar consigo o álcool gel fazendo a higienização das mãos em cada momento. De uma situação nobre, para uma situação crítica, nos deparamos com procedimentos simples, no dia a dia e, que temos dificuldades para nos adaptar.

 

A DIFICULDADE EM ENCONTRAR SOLUÇÕES MAIS ASSERTIVAS 

Nos acostumamos a agendar reuniões, compromissos e eventos e ir encontrar os amigos, cumprir a agenda… mas, se tornou difícil reunir as pessoas através de tecnologia, por exemplo; muitos daqueles que estão ao nosso redor, não sabem como utilizá-la. Nunca precisaram, nem se quer pensaram que um dia poderíamos fazer estudos através do computador. Outros, por decisão própria, não se preocupou em aprender o básico em informática.

 

A DIFICULDADE EM ACEITAR DEIXAR O PLANETA, UM POUCO MAIS CEDO

Como Cristão, sabemos que nosso lar não é aqui, estamos de passagem. Mas, da mesma forma, nos acostumamos viver e ‘usufruir’ deste mundo e, como qualquer outra pessoa que não tem a mesma fé, alguns Cristãos (nominais) estão temerosos e com medo em deixar o planeta. Agora, resolvem desenvolver hábitos mais saudáveis; agora, percebem o quanto foram negligentes com sua própria vida (frágil, diga-se de passagem) e ao acompanharem o número crescente de mortes, tremem ao perceber que este número está em ascensão. Isso me ajudar a pensar que, por mais que pense que falta muito coisas para fazer, este é, apenas um sentimento individual. Isso pode me ajudar a mudar meus hábitos e a minha esperança e fé no Deus criador e mantenedor da vida. Isso pode me ajudar a escolher a melhor parte e se colocar aos pés de Jesus e dedicar a Ele muito mais do que dediquei até agora, uma entrega incondicional, assim como Ele fez. Enquanto escrevo este artigo (19/3/2020), há 224.335 casos identificados com 9.247 casos fatais através do COVID-19, no mundo.

 

A DIFICULDADE EM VIVER CADA DIA POR FÉ 

Assim com o medo da morte, alguns estão com medo na vida. Medo de perder o emprego, medo da resseção, medo falte papel higiênico no mercado (não se preocupe, ninguém sabe o porquê disso, mas estão com medo) medo de ter que fechar as portas do comércio etc… Como bons Brasileiros, aprendemos desde a tenra idade a focar nos problemas e não nas possíveis soluções. É momento de mudar isso, mantenha o foco em aproveitar melhor seu tempo ‘forçado’ livre. Assim, diante dessa Pandemia, que não sabemos quanto tempo vai durar, seja mais proativo; desenvolva mais a sua fé; ore mais. Ore mais por sua saúde física e espiritual. Ore por sua família, ore por sua comunidade, sua cidade, seus governantes. Ore pelos distintos países que já vinham sofrendo por calamidades distintas e agora mais uma situação dessas. Aproveite os dias em casa, ofereça ao Senhor um jejum verdadeiro e legítimo. Pense nos vários almoços, jantares e lanches que você já ofereceu (ou participou) e perceba, não há mais, a sala de jantar está vazia, a casa está grande demais. Essas reuniões, agora, não fazem mais diferença. Celebre o seu momento a sós, mas não deixe de convidar Deus para um bate-papo! Aproveite e peça mais fé a Ele!

 

A DIFICULDADE EM BAIXAR AS ARMAS E SE ALIAR PARA ENFRENTAR A BATALHA 

Vejo, na mídia Brasileira, os ‘poderes’ se digladiando a cada dia que amanhece. Utilizam da causa principal (Pandemia) para passar o recado de incompetência alheia. A todo momento, um fala em como lidar com a crise, outro diz que está errado e deve ser de outro jeito. Penso, e faço uma analogia. Imaginemos se todos estivéssemos em um grande navio? Com certeza, se não houvesse ponderação nas palavras e decisões, se não baixassem suas ‘armas’ para o bem comum e coletivo, para os quais eles foram eleitos, todos se afogariam. Assim, tenhamos cuidado ao perceber o que a mídia está transmitindo.

 

A DIFICULDADE EM ACEITAR QUE MUITAS COISAS VÃO SER DIFERENTES A PARTIR DE MARÇO DE 2020 

Marque, o mês de março do ano 2020 em sua agenda. Se possível, escreva no seu diário sua percepção de mundo. Se não tem um diário, é uma boa oportunidade para começar e desenvolver o hábito de refletir e escrever. No entanto, perceba que tudo será diferente. Seus planos deverão ser revistos. É claro, se você fez um bom plano, possivelmente você considerou riscos e troçou, possíveis caminhos. Mas, caso contrário, aproveite e marcha lenta mundial e repense seus planos levando em conta, variáveis que deverão ser implementadas a partir de agora. Viagens, passeios, treinamentos, palestras, decisões… tudo deverá ser revisto. Estamos num momento ímpar em nosso mundo. Seria como o mundo todo, colocasse o pé no freio, ou, reduzisse a marcha. Isso nos ensina que poderíamos estar numa velocidade muito maior nesta fase da humanidade. E nessa velocidade mais alta, perdemos por completo nossa racionalidade, nossa espiritualidade, nossa empatia, nosso confiança em Deus e no próximo. Como um condutor imprudente, que faz do seu veículo uma arma, a humanidade com suas ganancias e desejos imediatos ‘produziu’ a sua própria morte! Imprudentes, mataram a muitos, eles mesmos sobreviveram.

A CERTEZA QUE SEREMOS TRANSFORMADOS

Não tenho dúvidas que nós seremos transformados neste tempo de crise. O mundo será transformado, o comércio, os processos, os relacionamentos… A grande questão é se esta transformação nos tornará cidadãos melhores em nossas práticas ou, trará resultados negativos para nós e para nossa sociedade? Em maio de 2019 escrevi um artigo intitulado: Morrendo um pouco a cada dia onde utilizo como texto bíblico, o capítulo 3, versículo 21 da carta que o apóstolo Paulo escreveu aos Filipenses que diz:

…esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as coisas que estão diante de mim…

Neste texto trago também um relato (resumido) da história de José do Egito e a forma como lidou com todos os imprevistos na vida e obteve o reconhecimento de Deus e dos homens, tornando-se o principal no Egito. Sua resiliência e atitudes frente às situações adversas da vida, fez dele uma referência para todos nós. Também trago o relato do mito da Fênix, que se renova a cada ciclo, oportunizando uma novo perspectiva de vida e ações[1].

É dentro desta perspectiva que podemos aproveitar este tempo de crise global para buscar reconhecer a forma como pensamos o mundo e como estamos vivendo no mundo.

É uma oportunidade única para ajustarmos questões sobre relacionamentos pessoais e comunitário.

É uma oportunidade única para aprender a usar os recursos disponíveis para que possamos ser mais produtivos.

É uma oportunidade única para voltar nossos pensamentos, orações e temor ao Deus criador e mantenedor da vida, fortalecendo nossa esperança e fé.

É uma oportunidade única para aceitar nossa finitude e que, por mais que achamos que a tarefa está inacabada, ter a certeza, que SIM, a tarefa está inacabada e não será você que irá finalizá-la. Aceite, e esteja (sempre) com ‘suas malas’ prontas para partir deste planeta, a qualquer momento.

É uma oportunidade única para baixar as armas e lutar a mesma batalha, pois estamos juntos no mesmo barco!

É uma oportunidade única para renovar nossas energias, respirar fundo e ‘renascer das cinzas’, indo de encontro com as mudanças, reinventando a forma como vemos e agimos. Perceber com mais clareza como estamos impactando a sociedade com nosso testemunho, com nossa alegria e com o amor de Cristo em nós.

Este é um convite, é uma reflexão para superação da ansiedade e do medo!
Você aceita?

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BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos King James – BKJ 1611 – Niterói, RJ : BV Films Editora, 2018.

[1] Leitura recomendada do artigo: Morrendo um pouco a cada dia

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