Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Março/2019
‘Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz.’ (cf. Jr 29.7)
[…] uma mulher me perguntou por que a igreja tinha de estar sempre envolvida em algum trabalho em prol da cidade. Ela achava que isso tomava tempo demais e exigia muito esforço. Deduzi que, para ela, a igreja ideal deveria ser acomodada, funcionar em algum bairro nobre e se reunir em um templo com bancos acolchoados. Contudo nossa ideia de igreja era bem diferente da dela, e hoje ela frequenta uma igrejinha num local tranquilo, onde se encontra com seus amigos refinados e segue sua rotina agradável.
Por favor, não me entenda mal. Não há nada errado com bairros tranquilos, bancos acolchoados, igrejas em localização privilegiadas com coisas refinadas e agradáveis. Quem mora nos bairros nobres e afastados da miséria das cidades também precisa do Senhor. O problema surge quando qualquer igreja, não importando sua localização, se preocupa exclusivamente com seu próprio conforto e conveniência e ignora os perdidos e feridos que a cercam. Deus nos chamou para fazermos muito mais do que simplesmente nos reunirmos num templo. Quando nosso enfoque principal está em nossa própria vida, deixamos de cumprir o propósito mais importante que Deus tinha ao estabelecer Sua Igreja: alcançar os perdidos com a mensagem de salvação do evangelho de Jesus Cristo.
Infelizmente, a atitude dessa mulher é igual à de muitos membros das igrejas em todo o nosso país hoje. Nos últimos cinquenta anos, centenas de igrejas abandonaram os bairros pobres das cidades, procurando regiões mais ‘adequadas’, e muitas das que permaneceram nesses bairros construíram uma ‘redoma protetora’, numa tentativa desesperada de simplesmente continuar existindo. Diante do ataque de uma cultura mundana cada vez mais hostil e pagã, muitas comunidades se fecharam em suas quatro paredes, desistindo por completo de tentar influenciar essa cultura com a verdade clara do evangelho.
Esse isolamento da Igreja moderna, embora não seja novo, contraria o propósito de Deus e é diverso da prática da Igreja do Novo Testamento. A Igreja primitiva revolucionou o mundo por meio do evangelho no espaço de apenas uma geração. A despeito do sacrifício e do custo pessoal, aqueles primeiros cristãos transformaram a cultura de sua época, com demonstrações incríveis de poder e autoridade espiritual de uma forma que nunca mais voltou a acontecer. Com o passar do tempo, grande parte da Igreja acabou distorcendo os princípios originais. Hoje, em vez de confrontar a cultura popular e os valores distorcidos da sociedade, apresentando as verdades de Deus com ousadia e profecia, a Igreja, em geral, se tornou na melhor das hipóteses, ineficaz e, na pior, conformou-se com o mundo.
Se nosso plano for restaurar nossas cidades, então será necessário restaurar primeiro a Igreja. Temos de voltar ao propósito e plano originais do Senhor, que nos levavam a buscar os perdidos e a tocar os intocáveis. Precisamos recuperar nossa perspectiva que nos possibilita conhecer o coração de Deus e ter a ‘mente de Cristo’.
Esse texto é um fragmento de um dos capítulos do livro Alcançado os Necessitados, referenciado abaixo.
Bart Pierce, foi dependente de drogas por muitos anos. Ele saiu do fundo do poço e se tornou agente de transformação na cidade Baltimore/EUA. Foi ordenado pastor e tem, ao longo dos anos, resgatado muitas pessoas excluídas pela sociedade.
O conteúdo do livro é essencial para quem quer trabalhar com os mais pobres e excluídos das cidades. Eis aqui um material, que servirá como guia de serviços para Igrejas, Grupos pequenos, Células e todos aqueles que querem imitar Jesus.
Abaixo, descrevo o artigo cinco do pacto de Lausanne que trata sobre a responsabilidade social cristã:
A responsabilidade social cristã
Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada.
Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política a salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos, parte do nosso dever cristão.
Pois ambas são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam.
Quando as pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar, mas também divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta.
O pacto de Lausanne, foi elaborado no Congresso Internacional de Evangelização em 1974 na Suíça. Foi assinado por 2700 participantes de 150 países, transformou-se no documento missiológico mais importante para o movimento evangélico contemporâneo, e daí surgiu o Lausanne Committee for World Evangelization – Comitê de Lausanne para a Evangelização Mundial. O relator final do Congresso foi o líder anglicano John Stott.
Nesta oportunidade foi elaborada uma declaração sóbria e amadurecida sobre a missão prioritária da Igreja, que, no final do artigo quatro afirma:
“Os resultados da evangelização incluem a obediência a Cristo, o ingresso em sua Igreja e um serviço responsável no mundo”.
Se nossa intenção, como Igreja é transformar o mundo, cumprindo com a missão que Jesus nos deixou, vamos precisar fazer muito mais do que simplesmente permanecer sentados nos bancos confortáveis das nossas igrejas domingo após domingo ouvindo mensagem que ‘massageiam nos egos’!
Como grupos caseiros, familiares e ou Células temos uma vantagem muito maior, pois representam a ‘Igreja de Cristo fora do Templo’ e isso é fantástico e se tornou um importante passo na atualidade.
No entanto, a meu ver, estes grupos estão ‘replicando’ os passos e ações dos cultos, sem apresentar qualquer mudança significativa na sociedade, objetivando apenas, crescimento numérico.
O Pr. Gary Skinner, contribui com a seguinte definição, pronunciada em sua prédica em 2005 no 7º Encontro Nacional de Igrejas em Células, ele afirma que:
As células devem estar fora para abençoar a comunidade; Deus não pede para nós irmos para a Igreja, mas que sejamos a Igreja na comunidade; Amor e serviço à comunidade; Ensinar as comunidades a obedecer a Deus; Precisamos entender a comunidade; devemos amar nossa comunidade; devemos se conectar com a comunidade; Devemos perguntar como podemos ajudar os líderes comunitários, mesmo que os achemos corruptos; Devemos formar líderes das células para que sejam líderes comunitários; Precisamos ter visão de Líderes Servos; Devemos realizar Projetos Semente na comunidade levando o amor de Deus; Precisamos servir o povo da comunidade; Devemos perguntar como podemos ajudar na comunidade; Devemos curar a comunidade. (Frases extraídas da prédica do Pr. Skynner/2005).
Dessa forma, creio que não nos falte exemplos, materiais e admoestações sobre a verdadeira missão. O que nos falta é a obediência prática na execução! Precisamos ser mais assertivos com a missão dada por Cristo e cumprir com o nosso chamado como Igreja no mundo para que possamos promover a restauração das nossas cidades e demonstrar o amor de Cristo pelos excluídos!
As Células e Grupos Caseiros, são os ‘olhos de Deus’ espalhados pelas cidades!
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BIANCO, Claudecir. Agentes de Esperança – Estabelecendo o Shalom de Deus através da missão integral – Curitiba: E-book – Amazon, 2016.
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos de Genebra – São Paulo: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
COMISKEY, Joel. Crescimento Explosivo da Igreja em Células – Como o seu pequeno grupo pode crescer e se multiplicar. Ministério Igrejas em Células no Brasil: Curitiba, 2005.
MONERGISMO – Pacto de Lausanne – Disponível em <http://www.monergismo.com/textos/credos/Pacto_de_Lausanne.pdf> Acesso em 14 de outubro de 2008.
PIERCE, Bart. Alcançando os Necessitados – Como a igreja pode criar um programa de ação social e envolver-se de forma prática no amparo às pessoas necessitadas. Curitiba, Ed. Betânia, 2003.