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Através do último Adão, um novo povo é constituído

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Dezembro/2019


Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado.
Colossenses 1:13

No artigo anterior, escrevi sobre ‘o melhor presente de Natal: O último Adão’ fazendo uma comparação entre o primeiro Adão e Jesus. Neste artigo quero discorrer sobre algumas características, prefiguradas no Cristo de Deus, que moldou e constituiu um novo povo. As comparações agora são entre Jesus e o povo de Israel. À medida que o tempo histórico bíblico avança, Deus separa[1] algumas pessoas que vão formar a nação escolhida e separada pelo próprio criador. Mais tarde, Deus prepara o primeiro libertador[2] que será o elemento principal na estruturação do povo oprimido, na constituição das leis e normas que consolidam o povo de Israel como nação santa. No entanto, este povo se corrompe (várias vezes), entristecendo o coração de Deus ao ponto deste se arrepender de caminhar entre eles[3].

 

AFINAL, JESUS ERA HOMEM OU ERA DEUS?

No começo do cristianismo, certo grupo de pessoas negava que Jesus fosse realmente humano, outros dificilmente cogitavam a possibilidade que ele fosse Deus. Havia aqueles que pensavam que ele poderia ser algo (diferente / um híbrido) entre Deus e homem. Aquelas pessoas que negavam a humanidade de Jesus ficaram conhecidas como docetista. Este nome vem da palavra grega doke, que significa ‘parece’, e era uma palavra apropriada para a posição deles: Jesus não era realmente humano, ele apenas parecia ser.[4]

 

ALGUNS ARGUMENTOS

Calvino argumenta[5] que Jesus Cristo, para poder ser mediador, teve que se fazer homem e ao mesmo tempo devia ser verdadeiro Deus, ou seja, Deus e homem. Assim, coube ao Filho de Deus se fazer ‘Emanuel’, ou seja, Deus conosco, de tal maneira que sua divindade e sua natureza humana ficaram unidas. De outra forma seria impossível esperar que Deus habitasse entre nós. Sem a encarnação do Filho, não poderíamos ser filhos[6] de Deus e nem herdeiros[7] da Sua promessa. Assim, somente a vida poderia triunfar sobre a morte, somente a justiça sobre o pecado, somente a promessa divina sobre os poderes do mundo. Jesus ofereceu uma obediência perfeita dentro de sua natureza humana para poder triunfar sobre o juízo e a morte.

 

ELE ERA HOMEM E DEUS

Jesus encarnou[8], sentiu fome, sono, dores, angústia, amor, compaixão, ira[9]. Caminham por argumentações equivocadas aqueles que acham que em determinados momentos, principalmente os de aflições, Jesus fora somente Deus. Como vimos no artigo anterior, em seu momento de jejum no deserto, não usurpou agir como Deus. O mesmo se passa, no fato derradeiro da sua missão, ao entregar sua vida por amor de nós na cruz. Assim, Jesus representa a restauração ‘espiritual’ do novo Israel de Deus, Nele um novo povo é constituído. Povo formado a partir do sangue derramado. O sacrifício do cordeiro santo[10].

As escrituras afirmam, quanto à pessoa de Cristo, que Ele é verdadeira, real e perfeitamente homem. Tem, por tanto, duas naturezas: a natureza divina e a natureza humana, e estas são distintas, não se confundem. Contudo, é uma só pessoa. Era necessário que o Redentor participasse das duas naturezas, a fim de reconciliar o homem com Deus. Cristo satisfaz essa exigência. Ele é o Deus homem[11].

 

COMPARAÇÕES ENTRE A NAÇÃO DE ISRAEL E O NOVO POVO CONSTITUÍDO A PARTIR DE JESUS

A nação de Israel Jesus – Homem e Deus
Foram tentados no deserto e no deserto padeceram por 40 anos Foi tentado no deserto e não se submeteu

por 40 dias

 

Primeira tentação: ‘Se és filho de Deus, transforma estas pedras em pães’
Deus deu pão ao seu povo no deserto. Era o maná, que deveria ser ‘colhido’ para comer no mesmo dia. Muitos do povo ‘colhem’ para o dia seguinte, duvidando da providência de Deus Mesmo com fome, Jesus não cede em realizar um milagre como este e responde ao tentador: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus’

 

Segunda tentação: ‘Se és o filho de Deus, atira-te abaixo’
O povo reivindica que Deus prove seu cuidado, reclamando por água, carnes, ‘os alhos do Egito’, tentando e afrontando os cuidados de Deus Ao ser tentado por Satanás para que reivindicasse ser amparado pelos anjos, Jesus responde: ‘Não tentarás o Senhor seu Deus’

 

Terceira tentação: ‘Tudo isso te darei, se prostrado, me adorares’
Israel formou várias alianças com nações pagãs para ganhar segurança, criaram para si um ‘Deus’ (o bezerro de ouro) e prestaram culto Jesus não cede e diz: ‘Retira-te Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus, adorarás, e só a Ele darás culto’

 

Jesus estava retomando uma luta por justiça e obediência que seu povo, Israel havia perdido, totalmente, muito tempo atrás. As três tentações que Satanás lhe dirigiu – desconfiança em Deus, forçar Deus a agir antes da hora, deixar de adorar a Deus – foram os fracassos notórios da nação de Israel. Eles foram vencidos por Satanás, que, por isso, as lançou, agora, contra o novo Rei de Israel, por isso também, tanta opressão e negação ao ministério do Messias, mostrando assim, plena cegueira espiritual. Jesus triunfa e segue para ensinar seu povo como eles deveriam agir com os pobres, os oprimidos os doentes. Jesus inaugura o novo Reino do Criador. Ele escolhe doze discípulos, mais uma vez, em semelhanças às doze tribos de Israel, que vão abalar a sociedade daquela época e o futuro do mundo. A tribo de , possivelmente por causa de sua idolatria[12], não é mais contada entre as tribos de Israel, no apocalipse[13]. Mais uma semelhança à traição de Judas.

  

UM NOVO POVO É CONSTITUÍDO

Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue nos compraste para Deus de toda a tribo, e língua, e povo, e nação; E para o nosso Deus nos fizeste reis e sacerdotes; e reinaremos sobre a terra.[14]

 

Deus, o qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor; em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus. A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis.[15]


A constituição de um novo povo não quer dizer que o anterior tenha sido extinto, mas sim que, através do ato expiatório de Cristo, Deus dá a oportunidade de reconciliação dos remanescentes para esta nova constituição, o Israel espiritual de Deus. Dessa forma, os gentios (aqueles que não são judeus) foram agregados como filhos e coerdeiros com Cristo. Somos um em Cristo[16].

A beleza neste ato salvífico foi que em nenhum momento Deus, descumpriu seus pactos e suas promessas. Assim como o Filho, o Pai cumpre a promessa feita ainda no jardim do Éden[17]. Dessa vez, por amor, não destruiu os que estavam em desobediência, como fez no passado. Agora, chama os seus e busca reconciliar aqueles que, antes de Cristo, viviam sob a Lei.

Assim, encerro estas linhas com a citação do Apóstolo Paulo, na carta aos Efésios.

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo. Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado. 

Nele temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus, a qual ele derramou sobre nós com toda a sabedoria e entendimento. E nos revelou o mistério da sua vontade, de acordo com o seu bom propósito que ele estabeleceu em Cristo, isto é, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos. Nele fomos também escolhidos, tendo sido predestinados conforme o plano daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade, a fim de que nós, os que primeiro esperamos em  

Cristo, sejamos para o louvor da sua glória.

Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória.[18]

 

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Baixar em PDF :  

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos King James – BKJ 1611 – Niterói, RJ : BV Films Editora, 2018.

BRAGA, Ludgero. Manual dos Catecúmenos – São Paulo, SP : Casa Editora Presbiteriana, 1980.

CALVINO, Juan. Institución de la Religión Cristiana. Buenos Aires: Nueva Creación, 1988.

[1] Esta separação começa por Abraão narrada a partir do capítulo 11:27 do livro de Gênesis

[2] Este é o início da história de Moisés narrado no livro de Êxodo, a partir do capítulo 2ss

[3] Narrativa a partir do capítulo 32 do livro de Êxodo

[4] GILBERT, Greg. Quem é Jesus Cristo? Fiel Editora

[5] O argumento de Calvino está no livro II, capítulo XII, a partir da página 341, das Institutas

[6] ‘o primogênito de toda a criação’ Cf. Colossenses 1:15

[7] Cf. Romanos 8:17

[8] Cf. João 1:1; 18; 20:28; Filho de Deus, cf. Mateus 3:17; 12:18; 17:5

[9] Cf. Mateus 4:2; 8:24; 9:36; João4:6; 19:28

[10] Cf. Lucas 22:44; João 19:30

[11] Cf. Manual dos Catecúmenos, p. 78

[12] Cf. Juízes, capítulo 18

[13] Cf. Apocalipse 7:5-8

[14] Cf. Apocalipse 5:9-10

[15] Colossenses 1:13-22

[16] Cf. Gálatas 3:28

[17] Cf. Gênesis 3:15

[18] Cf. Efésios 1:3-13

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