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De imitatione Christi: O terceiro perante o mundo

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Março/2020


Mestre, qual é o grande mandamento na lei? Mateus 22.36

Como você se sentiria sendo o terceiro? A sociedade formatou em nós um sentimento negativo relacionado às posições de “segundo” e “terceiro”… Desde muito cedo aprendemos a competir e a buscar sempre o primeiro lugar. Assim, há em nós, certo desconforto em assumir os segundos e terceiros lugares. Talvez, por isso tenhamos alguma dificuldade em assumir voluntariamente ser o terceiro. Aos olhos do mundo, passamos por perdedores conformados se assumirmos, voluntariamente, o terceiro lugar. Empresas buscam os melhores. Nos estudos somos constantemente avaliados e, precisamos ficar sempre acima de uma determinada média. Assim, a busca por superação e a necessidade de melhor colocação nos traz um sentimento de competição constante. Mas, nem cogitamos a possibilidade de se estabelecer em outra posição.

Então, convido você a ponderar e a pensar em ser o terceiro. Se em seu coração está algum desejo em imitar[1] o Cristo de Deus, considere por começar a se tornar o terceiro perante o mundo.

Esta reflexão gira em torno do texto bíblico, relatado por Mateus[2], capítulo 22, versículos 36 ao 40, que diz:

Mestre, qual é o grande mandamento na lei?
E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.
Este é o primeiro e grande mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.

 

Logo, destacamos para nossa reflexão, Deus, nosso próximo e nós mesmos.

 

ASSIM, EM PRIMEIRO LUGAR: DEUS

Não adianta apenas dizer que conhece a Deus, que sabe da Sua existência ou, até mesmo que acredita Nele, se não pratica Seus mandamentos. O reconhecimento genuíno de Deus implica no entendimento soberano das Suas ações sobre tudo o que foi criado por Ele. Se reconheço a soberania de Deus sobre minha vida e sobre toda a criação estou mais perto de entender que Ele deve vir primeiro em minhas decisões, como está escrito:

Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Mateus 6.32,33

O crer e reconhecer Deus em primeiro lugar não está vinculado à uma participação obrigatória aos serviços da igreja. Vai além disso. Não está vinculada à prestação de serviços a homens e instituições. Vai além disso. O crer e reconhecer Deus em primeiro lugar, está vinculado à dependência DEle! Está na busca constante em servi-lo com amor e dedicação. Está em reconhecer SEu amor pelo pecador ao enviar SEu filho ao mundo com a mensagem de salvação e transformação do ‘coração de pedra’ ao ‘coração de carne’; pois aquele que outrora vivia conforme o mundo, agora vive dentro dos parâmetros do Deus restaurador.

Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário? Mateus 6.25

O não andar ansiosos faz parte do crer e reconhecer a soberania de Deus. Mas quantos de nós consegue viver assim? Quantos querem viver assim?

O que podemos observar são pessoas que vivem um evangelho nominal, que creem mais em suas próprias capacidades do que no poder de Deus. A este, recorrem somente no momento de dores e sofrimentos.

O crer e reconhecer que Deus deve vir em primeiro lugar é abdicar de coisas, pessoas, atitudes… Deve ser uma busca constante em querer fazer primeiro a vontade DEle. No entanto, essa vontade não está escrita nos jornais, não está disponível nas redes sociais. Está na própria Palavra de Deus, dada para nós, para o estudo, reflexão e prática. Toda a orientação do como fazer, para quê fazer, porque fazer, está disponível para todos aqueles que querem realmente, com todo o coração, a mente e forças, agir em prol do Reino de Deus. Independente de cargos, posições, placas denominacionais ou recursos financeiros. Vá e faça!

 

EM SEGUNDO LUGAR: NOSSO PRÓXIMO

No relato de Lucas 10 a partir do versículo 25 até o 37, traz um contexto diferente para a mesmo resposta de Jesus. A indagação vem de um mestre da lei com a pergunta: Que farei para herdar a vida eterna?

Jesus, no entanto, não responde diretamente e lhe retorna com outra pergunta: O que está escrito? Como interpretas? A respostas satisfaz a Jesus, ao que o mestre da lei, ainda com o intuito de provar Jesus, continua o diálogo: Quem é meu próximo?

Neste ponto, Jesus passa a discorrer uma parábola chocante para todos os que estavam ouvindo, utilizando da relação conflituosa entre os Judeus e os Samaritanos.

No entanto, a resposta de Jesus não está em como herdar a vida eterna, mas na entrega em amar a Deus e consequentemente, ao próximo, com amor e compromisso.

O apóstolo Paulo, em sua carta aos Filipenses, alerta aqueles irmãos (e a nós) que:

Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. Filipenses 2:3,4

De igual modo, Pedro afirma em sua carta para que:

Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre. Amém. 1ª Pedro 4:10,11

O verdadeiro Cristianismo de imitação está em direção ao outro. O Espírito Santo, age em nós para que sejamos testemunhas, apoio, companheiros, amigos, parceiros de outros para que eles cresçam e possam também experimentar a graça generosa do Deus criador e restaurador da vida. A mensagem de salvação do Cristo de Deus é para ser exposta para aqueles que ainda não o conhece, é para resgate do pecador das garras do diabo. Não é para ficar ‘guardada’ em nossa mente, como um ‘segredo’ que não pode ser contato. Se assim agimos, de forma alguma podemos dizer que amamos a Deus ou, que se quer entendemos a mensagem do evangelho. Podemos estar vivendo numa enganação, numa religiosidade insana que não agrada a Deus.

Ir de encontro ao nosso próximo (ou ao nosso ‘samaritano’)[3] vai requerer de nós o amor incondicional a Deus, pois só assim vamos conseguir atender as necessidades do nosso próximo, permitindo que Deus aja em nós primeiro.

Ao deixarmos de agir em direção ao nosso próximo, estamos satisfazendo as nossas necessidades. Estamos nos colocando, talvez, até mesmo no lugar de Deus, escolhendo o que fazer… não para satisfazer a Deus, mas a nós mesmos.

O evangelho sem o próximo é a satisfação criada para atender apenas a compaixão e o desejo humano. É um evangelho sem cruz, é um evangelho sem Cristo, uma mera ilusão religiosa sem base teológica. Enganação total!

 

E, EM TERCEIRO LUGAR: EU (e você) NO MUNDO, IMITANDO O CRISTO

Ninguém quer ficar em terceiro. Aprendemos desde muito cedo que ser o primeiro é sempre melhor e o ideal a ser alcançado. O primeiro recebe os louros da vitória[4], recebe o ouro e todas as honras. Geralmente, para os segundos e terceiros lugares, os prêmios são menores ou, menos valiosos. A própria mídia, entrevista o primeiro colocado e tece a ele todos os seus comentários.

A última corrida de São Silvestre, realizada na cidade de São Paulo, no dia 31 de dezembro de cada ano, mostra uma festividade muito cobiçada por atletas corredores de todo o mundo. É um feito extraordinário e faz parte do calendário internacional de corridas de rua. Na prova de 2019, no entanto, uma situação surpreendente, jamais vista, tomou a atenção mundial quando o queniano Kibiwott Kandie, que estava em segundo lugar, ultrapassa o ugandense Jacob Kiplimo, nos últimos três metros, e ainda, estabelece um novo recorde para a prova dos 15km com a marca de 42 minutos e 59 segundos. Neste caso, Jacob, o segundo lugar, que em todo o percurso estivera em primeiro, foi foco de várias entrevistas, não pelo mérito de chegar em segundo lugar, mas, por ter perdido a posição na reta final, foi considerado por muitos, ‘o perdedor’!

É sabido que no esporte e, também na vida, ninguém que treina ou que batalha para uma vida melhor, pensa ou quer ficar em segundo ou terceiros lugares. O objetivo é sempre o primeiro lugar. Assim, penso que muitos de nós tem dificuldades de ser o terceiro. Consideramos a primeira posição como a melhor, sempre! Esse pensamento, no entanto, não é novo, está intrínseco no ser humano.

Jesus nos ensina conceitos diferentes:

E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; Mateus 20:27

A sociedade, no tempo de Jesus e, ainda no tempo de hoje, percebem o primeiro como o melhor, é o ‘eu no centro’. Ao oportunizar aos seus discípulos uma nova perspectiva, ele muda o conceito da época e impõe novos parâmetros para aqueles, dispostos a serem seus discípulos e imitadores. O servo, nunca será considerado o primeiro. No conceito humano, nunca poderá alcançar qualquer boa oportunidade. Mas, no reino de Deus o conceito é diferente; aquele que serve, será sim o primeiro com Deus. Não que tenha as mesmas distinções nos céus, como as que temos na terra. Penso que Jesus tenha usado de uma figura de linguagem, de forma pedagógica, para que pudéssemos compreender seu significado.

Ser o terceiro no mundo, é assumir de forma genuína a personalidade de Jesus. Sendo o primeiro com Deus, despiu-se e se tornou terceiro, assumindo papel de servo para todos aqueles que estavam a sua volta. Ele amou o próximo incondicionalmente, cumprindo com o próprio mandamento que estava ensinando:

Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento… Amarás o teu próximo como a ti mesmo.

É a Ele que devemos imitar.

Amar a Deus em primeiro lugar, ao nosso próximo, como a nós mesmos!
Assim, seremos o terceiro perante o mundo, como testemunhas de Cristo, pois fomos restaurados e transformados pelo poder do evangelho!

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BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos King James – BKJ 1611 – Niterói, RJ : BV Films Editora, 2018.

[1] Talvez lhe interesse a leitura do meu artigo : De Imitatione Christ

[2] Esta mesma indagação está presente em Marcos 12.28 e Lucas 10.25, que por sua vez, se referem a Dt 6.5 e Lv 19.18

[3] O nosso Samaritano, pode ser representado aqui como aquela pessoa que, por algum motivo, temos dificuldades para nos relacionar e conviver.

[4] Mais informações, leia : Coroa de louros

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