Menu fechado

A sociedade líquida e as ilusões das redes sociais

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Março/2020


Saibam disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis. 2ª Timóteo 3:1

Neste artigo, quero tratar de um assunto que me intriga, já faz algum tempo. Meus argumentos, serão com relação ao modus vivendi em nossa sociedade, trazendo a conceituação de ‘Modernidade Líquida’[1], refletindo sobre como esta sociedade permitiu-se moldar e, continuamente se conformando com as ilusões das redes sociais, sem perceber quão danosa são. Inicialmente, trago à memória, o texto do Apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos, capítulo 12, versículos 1 e 2 que alerta, justamente para não nos conformar com este Século, ou seja, ‘pegar’ a forma, ou ainda, tornar-se igual aos procedimentos deste mundo; acompanhe o que ele diz:

Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

Nesta perícope, encontramos uma chave interessante. O Apóstolo nos apresenta padrões diferentes (e por que não dizer – opostos). Quando nos apresentamos para Deus, experimentamos a boa e perfeita vontade DEle. O contrário disso, já é conformidade com os padrões do mundo. Isto posto, vamos aos pontos em destaque nesta reflexão.

ARGUMENTOS E EVIDENCIAS

Sou usuário das redes sociais há pelo menos quinze anos e da Internet há muito mais tempo. Uma das minhas formações acadêmicas é na área de análise de sistemas, trabalhando com desenvolvimento de sites, nesta mesma faixa de tempo, ou seja, minhas argumentações não são infundadas ou rasas, como se fosse de uma pessoa totalmente leiga no assunto que decidiu escrever este texto. Trago como parâmetros principais, as seguintes fontes: (1) O filme de Edward Snowden[2] – Herói ou Traidor; (2) O livro: Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais – de Jaron Lanier[3]; (3) A Bíblia Sagrada e, (4) As minhas próprias experencias e reflexões.

A RAIZ DE TODOS OS MALES

Leandro Karnal[4], em seu livro ‘O que aprendi com Hamlet’, faz uma feliz argumentação que se encaixa perfeitamente com a reflexão em curso.

Você passa horas percorrendo estradas virtuais na internet para verificar coisas e acompanhar vidas alheias e isso consome sua energia e sua alegria? Uma palavra: Inveja, que deriva de invidere, ver com maus olhos ou não ver. Inveja é cegueira. Pior, o olho do invejoso magnifica a luz real ou existente de terceiros e cega sobre as luzes possíveis de si. Em vez de ser feliz na relva, ficamos contemplando, pesarosos, sóis e luas. Abrir mão da dor permanente da comparação e projeção sobre a luz alheia é um desafio. Precisamos reaprender o caminho da máxima grega: conhece a ti mesmo. Isso não garante que cada vaga-lume se torne o Sol, todavia impede que ele se queime no equívoco da busca da luz alheia. Vaga-lume invejoso morre triste.[5]

Ao lançar uma reflexão sobre o conteúdo visto em seu próprio perfil, você não terá qualquer dificuldade em perceber textos, expressões e postagens de pessoas, conhecidas é claro, mas que demonstram certa inveja e críticas ácidas sobre os mais diversos assuntos.

Geralmente por sua falta de capacidade de argumentação mais profunda, está sempre desferindo ataques e rotulando todos como pessoas pertencentes ao ‘outro lado’. Esse tipo de pessoa apenas considera as suas argumentações como as mais corretas.

Penso que, ao postar textos, vídeos ou imagens com o foco de demonstrar certa ‘superioridade intelectual’, esta pessoa encontra-se num processo de doença emocional e social, para a qual, não precisa de mais tempo para ‘relaxar’ nas redes sociais, mas sim de um profissional para lhe promover a cura.

Mas, quem quer reconhecer-se doente e procurar ajuda, ou, quem quer se ‘salvar’ da maldição dos algoritmos e das ilusões desta sociedade, tornando-se livre?

AS BÊNÇÃOS DA LIBERDADE

No livro, ‘Modernidade líquida’, Zygmunt Bauman, logo no primeiro capítulo, traz uma reflexão, citando um dos principais poemas épicos da Grécia antiga, afirmando que os marinheiros enfeitiçados e transformados em porcos, se revoltaram com a possibilidade de se tornarem novamente homens. Eles aceitaram de tal forma a ‘nova vida’ que, se o feitiço fosse desfeito, a liberdade, para eles, seria uma maldição. Acompanhe a citação de Bauman:

Numa versão apócrifa da Odisseia[6], Lion Feuchtwanger propôs que os marinheiros enfeitiçados por Circe e transformados em porcos gostaram de sua nova condição e resistiram desesperadamente aos esforços de Ulisses para quebrar o encanto e trazê-los de volta à forma humana. Quando informados por Ulisses de que ele tinha encontrado as ervas mágicas capazes de desfazer a maldição e de que logo seriam humanos novamente, fugiram numa velocidade que seu zeloso salvador não pôde acompanhar. Ulisses conseguiu afinal prender um dos suínos; esfregado com a erva maravilhosa, a pele eriçada deu lugar a Elpenoros – um marinheiro como insiste Feuchtwanger, em todos os sentidos mediano e comum, exatamente ‘como todos os outros, sem se destacar por força ou por sua esperteza’. O ‘libertadoElpenoros não ficou nada grato por sua liberdade, e furiosamente atacou seu ‘libertador’:

Então voltaste, ó tratante, ó intrometido! Queres novamente nos aborrecer e importunar, queres novamente expor nossos corpos ao perigo e forçar nossos corações sempre a novas decisões? Eu estava tão feliz, eu podia chafurdar na lama e aquecer-me ao Sol, eu podia comer e beber, grunhir e guinchar, e estava livre de meditações e dúvidas: ‘O que devo fazer, isto ou aquilo?’ Por que viste? Para jogar-me outra vez na vida odiosa que eu levava antes?[7]

Este texto apresenta uma similaridade alta com o texto bíblico onde Jesus expulsa os demônios dos dois endemoninhados Gadarenos que viviam nos sepulcros. Ao perceberem Jesus passando por ali, indagam o Mestre:

‘que queres conosco, Filho de Deus. Vieste aqui para nos atormentar antes do devido tempo?’

Percebendo a libertação eminente os demônios imploram por permanecer na ‘região’, escolhendo ‘entrar’ na manada de porcos[8].

Estas reflexões nos mostram que poucas pessoas conseguem lidar (bem) com a liberdade. Ao relacionarmos as redes sociais como uma prisão na atualidade, podemos afirmar que pouquíssimas pessoas querem ser libertas das ilusões, outras nem se quer desconfiam que estão aprisionadas.

A sutiliza que esta prisão promoveu na sociedade, é tão profunda que, aqueles que dela não participam são considerados como ‘alienados no mundo’. Por sua vez e, como resultado, não é difícil de observar que as conversas presenciais dos membros ativos das redes sociais, se limitam aos mesmos conteúdos lidos, curtidos ou escritos por eles nos seus perfis, tornando a conversa presencial uma extensão da manifestação digital e, consequentemente, superficial, fria e sem conteúdo. A sociedade está se moldando aos algoritmos, reproduzindo falas com apenas 280[9] caracteres.

O ‘PSICANALISTA’ VIRTUAL COM ALCANCE MUNDIAL

Conheço pessoas que postam tudo nas redes sociais; se estão acima do peso, se estão com dificuldades em casa, como o marido, ou esposa; se estão com dificuldades na educação dos filhos… como se esperassem algum conselho que as libertassem de tal sofrimento (se é que querem ser libertas). Quero entender que são momentos de desabafo e assim, fico mais intrigado e me pergunto: Será que estas pessoas não têm ninguém de confiança para desabafar ou, deliberadamente optam por postar esses conteúdos nas redes sociais, talvez com o intuito de afrontar a outra parte? Qual é preferido: ter uma (eu digo apenas, uma) pessoa (em carne e osso) para te ouvir, ou demonstrar para TODOS seus amigos (consequentemente amigos da outra parte em questão) que a situação está ruim, precária ou totalmente desestruturada? Quais sinais estes indivíduos estão tentando passar?

Assim como você, tenho observado posts de pessoas descontentes com o comportamento do seu cônjuge, trabalho, sociedade, igreja, sistema político, governo etc. Ou seja, é mais fácil criticar do que se concentrar e investir energias na busca de possíveis soluções. Mas é justamente nestes termos que funciona a proposta dos algoritmos das redes sociais, é assim que o comportamento nas redes devem funcionar, pois é através das polêmicas que acontecem os maiores ‘envolvimentos’, despertando a inconformidade com os cenários mais ‘sólidos’ da sociedade, tornando as pessoas mais ‘descoladas’ e mais incorporada na sociedade atual (líquida, diga-se de passagem).

Destaco aqui algumas frases ‘soltas’ que tenho refletido e observado, nas poucas vezes que acesso a principal rede que ainda mantenho. Sim, digo que ainda mantenho pois, já deixei de utilizar as outras duas, e esta terceira em breve, será abandonada.

… a boca fala do que está cheio o coração…

… veja como meu mundo é ‘perfeito’ e maravilhoso…

… meus valores são os mais altos possíveis…

… ciúmes, raiva, ódio, antipatia, depressão…

… sem tempo para estudar, para cuidar da saúde… a mente está atrofiando…

… qualquer ‘joguinho’ serve contanto que me distraia…

… o abandono completo da leitura e da reflexão que ultrapassem um mísero parágrafo de 5 linhas…

… a transformação das fotos em pixels…

… o belo recebeu um upgrade…

… sou mais descolado que você, kkk…

… primeiro não conseguimos mais guardar números… agora as emoções se tornaram símbolos…

… as expressões em palavras estão com os dias contados…

… o retrocesso de uma ou, duas gerações…

… a insanidade de obter as coisas com mais rapidez…

… o contentamento dos vídeos e das notícias fragmentadas…

… a perda de tempo (e dinheiro) em postagens ridículas e infames…

… a ignorância por trás de um Clik…

… nas Rede Sociais eu me sinto diferente…

… está difícil viver a realidade…

… a necessidade de se manter on-line, supera a necessidade básica da vida, que se ‘dane’ Maslow … 

… com as Redes sociais a temporada de pesca foi liberada: minha igreja é melhor que a sua…

… venha, façamos para nós um perfil nas Redes sociais e nos tornaremos iguais a eles…

… sim, com um perfil nas Redes sociais, você se tornará conhecedor do bem e mal e, o melhor, poderá interagir com eles…

… aquele que nunca evangelizou, agora acredita estar evangelizando o mundo através de suas postagens… e fica frustrado quando não recebe muitos likes…

… pastores e líderes descolados… postam comidas e passeios enquanto seus liderados se esforçam para dar o dízimo…

… o que dizer da série: ‘Falei e pronto’! – disponível para qualquer pessoa…

… a exposição de fotos de crianças e idosos, sem necessidade, tudo em troca de likes…

… preciso viajar… preciso comprar… preciso ir a tal lugar… para postar…

… as frases dos livros que nunca foram lidos, passam a sensação de uma pessoa culta…

… a visão de mundo estreita e o compartilhamento das Fake News… ‘eu não sabia’…

… a difamação virou banalidade, você pode tudo…

… crianças sendo moldadas pelas Tecnologias e Redes sociais por pais descolados…

… o que é visto e lido, para muitos é a expressão da realidade…

… histórias manipuladas…

… angustiado por não poder acessar as Redes sociais, você fica ainda mais chato, ‘explodindo’ com tudo e todos…

… aqueles que no passado não gostavam de seguir ordens, hoje são totalmente manipulados pelos algoritmos e se alegram com isso…

… como ‘eles’ sabiam que estou ‘precisando’ deste produto…

… ‘eles’ sabem tudo sobre você, mais do que você pode imaginar…

… os textos já estão causando danos aos usuários, agora há a manipulação dos vídeos, os chamados ‘deepfakes’…

Observe que, nas redes sociais o problema do mundo sempre está na outra pessoa, nunca em você mesmo? Isso já resultado da manipulação ofertada, mas cuidado, tem muito mais vindo por aí, é apenas uma questão de tempo!

HERÓI OU TRAIDOR

Ao refletir sobre o filme de Edward Snowden, podemos perceber as sutilezas utilizadas pelas grandes empresas da área de tecnologia, no que diz respeito ao ‘laço’ utilizado para manipulação em massa. Algoritmos especialmente criados para gerarem sugestões específicas de acordo com os critérios definido anteriormente pelo próprio usuário (ingenuamente e voluntariamente). Ao criar um perfil nas redes sociais, fornecemos todos os dados pessoais, profissionais, familiares e sociais, sem qualquer restrição. Dessa forma, damos aos algoritmos e aos proprietários deles, acesso total e irrestrito sobre as informações declaradas ali. Assim, cada vez que uma empresa ou governo paga para divulgar seu produto ou serviço, as empresas de tecnologias vendem seu perfil (se estiver alinhado com o propósito do anunciante). Logo, você vai receber a oferta dos produtos e/ou serviços, entre seus posts e dos seus amigos.

O filme mostra como Edward percebeu que a situação estava ficando fora do controle quando o próprio governo dos EUA tinha acesso à todas as informações de qualquer pessoa do planeta. Não só ‘penetrar’ nas redes sociais, mas também em mensagens de e-mails e SMS.

Ao tentar expor as informações que havia obtido com o intuito de denunciar as intenções do governo e de algumas empresas de tecnologias, as pessoas, poderiam tomar suas decisões e decidirem reagir adotando nova postura frente aos relatos. Mas, aconteceu exatamente como na citação de Bauman e dos endemoninhados Gadarenos, não queriam ser libertos! A liberdade seria uma maldição. Snowden, para muitos, é um traidor.

 

RETOME O CONTROLE DA SUA VIDA

Coisas que essa geração deseja

Eles não querem pensar, querem sentir;

Não querem doutrina, desejam novidades;

Não querem adorar, querem shows;

Não querem Escolas Bíblicas, querem circo;

Não querem o Evangelho da Cruz, desejam o evangelho dos milagres;

Não querem Deus e sim serem comparados a Deus;

Não querem pastores, preferem coaches;

Não querem pregações, querem autoajuda

Renato Vargens[10]

No livro, ‘Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais’Jaron Lanier, fala de evidências ainda mais claras e chocantes. As argumentações do autor, em alguns pontos, podem trazer dificuldades de compreensão para um usuário básico das redes sociais, mas no geral, as informações são claras e objetivas.

Acompanhe alguns destaques que fiz da leitura deste livro.

Argumento UM – Você está perdendo seu livre-arbítrio

Quando temos medo de que as pessoas não nos considerem descolados, atraentes ou de status elevado, acabamos nos sentimos mal. Esse temor é profundo e chega a doer.

DOIS – Largar as redes sociais é a maneira mais certeira de resistir à insanidade dos nossos tempos

O problema ocorre quando todos os fenômenos que acabei de descrever são impulsionados por um modelo de negócio em que o incentivo é encontrar clientes dispostos a pagar para modificar o comportamento de alguém.

Sua mudança de comportamento foi transformada em produto.

TRÊS – As redes sociais estão tornando você um babaca

Exploração de ansiedades sociais em nome do engajamento.

Enquanto isso, você, pessoalmente, pode fazer uma coisa. Se, ao participar de alguma plataforma on-line, você notar algo desagradável dentro de si mesmo, uma insegurança, uma sensação de baixa autoestima, uma ânsia de partir para o ataque, de bater em alguém, saia desta plataforma.

QUATRO – As redes sociais minam a verdade

Quando vícios forjados tecnologicamente são aplicados para manipular as massas em nome do lucro, fica óbvio que essas massas são afastadas da verdade. Esse é precisamente o objetivo.

CINCO – As redes sociais transformam o que você diz em algo sem sentido

Os exemplos extremos mais comuns, porém, podem surgir quando mulheres e meninas que tentam se expressar na internet constatam que suas palavras e imagens são sexualizadas ou incorporadas a uma estrutura violenta ou manipuladora. A presença de mulheres on-line tem sido com frequência transformada de maneira grotesca para propósitos de humilhação, constrangimento e assédio.

SEIS – As redes sociais destroem sua capacidade de empatia

[…] significa que os algoritmos determinam o que você vê. Isso quer dizer que você não sabe o que as outras pessoas estão vendo, porque o componente C calcula resultados diferentes para cada um. Não dá para saber o quanto a visão de mundo dos outros está sendo induzida e moldada […]

SETE – As redes sociais deixam você infeliz

…redução da capacidade de sentir prazer na vida a não ser no que a pessoa esteja viciada, seja lá o que for, e os viciados em redes sociais parecem propensos à anedonia[11] a longo prazo.

Quaisquer que sejam os detalhes, perceba o que está acontecendo. De repente, você e outras pessoas estão sendo postos em um monte de competições idiotas nas quais ninguém pediu para entrar. Por que não lhe enviam tantas fotos legais quanto mandam para seu amigo? Por que você não tem tantos seguidores quanto ele? Essa constante dosagem de ansiedade social só deixa as pessoas mais grudadas ali. Mecanismos profundos nas partes sociais do nosso cérebro monitoram nossa posição social, e ficamos morrendo de medo de sermos deixados para trás, como um animalzinho à mercê dos predadores na savana.

Vejo que fulano foi julgado como sendo mais popular / inteligente / conectado / valioso / seja lá o que for, e o diabinho diz: ‘Ah, é?’ E então sinto que preciso fazer alguma coisa: ou ganhar o jogo ou encontrar um jogo diferente.

É preciso lembrar mais uma vez que as emoções negativas, mais do que as positivas, são imãs, mais acessíveis e lucrativas para as pessoas.

OITO – As redes sociais não querem que você tenha dignidade econômica

Isso significa que uma empresa Bummer pode construir um modelo de você em software — e controlar o que você vê em um feed manipulador — executando programas exclusivamente nos computadores dela. Esses computadores são postos em locais superseguros, que você nunca visitará, e seu software é super-hipersecreto. Todos os outros tipos de arquivo têm sido violados por hackers, mas não os algoritmos de busca ou feed das grandes empresas Bummer. O código secreto para manipular você é guardado como as joias da Coroa.

NOVE – As redes sociais tornaram a política impossível

O Facebook e outras empresas estão se tornando o ransomware[12] da atenção humana. Eles têm tanto controle sobre a atenção de tanta gente e por tanto tempo do dia que se tornaram os guardiões do cérebro.

A situação me lembra a prática medieval das indulgências, em que a Igreja Católica da época às vezes exigia dinheiro para uma alma entrar no céu. As indulgências foram uma das principais reclamações que motivaram a separação dos protestantes. É como se o Facebook estivesse dizendo: ‘Pague-nos ou você não existe’. É o início de uma máfia existencial.

DEZ – As redes sociais odeiam sua alma

Gaiolas de mudança comportamental só podem manipular uma criatura de cada vez, mas quando toda a sociedade é manipulada de maneira coordenada, devemos buscar uma estrutura maior que sirva de explicação.

A ansiedade espiritual é uma chave universal que explica o que de outro modo pode parecer problemas não relacionados em nossa realidade. A modernidade é quase sempre apresentada por tecnólogos da Bummer como um ataque à condição especial do ser humano, e as pessoas naturalmente reagem com horror, como se elas pudessem ser negadas. É uma resposta racional porque é uma resposta ao que de fato tem sido dito.

Recomento a leitura completa deste livro e convido a uma reflexão sadia e comprometida com este assunto, principalmente se você faz parte de alguma liderança e trabalha com pessoas, pois a influência das redes sociais está por todas as partes da nossa sociedade, dá uma olhada nestes números[13]:

  • 70% dos usuários estão conectados a uma página de negócio, gerando 645 milhões de visualizações;
  • 93% dos profissionais de marketing utilizam o Facebook em suas campanhas;
  • 85% dos curtidores de marcas no Facebook recomendam marcas a outros usuários;
  • 2,7 milhões é a média de curtidas por dia;
  • 510 mil comentários são postados a cada 60 segundos.

Para finalizar, destaco que as redes sociais têm seus (poucos) benefícios (cada um deve encontrar o seu) e que, podemos utilizá-los a nosso favor, desde que seja feito com moderação e sabedoria. Também, não quero demonizar as redes sociais, isso não é necessário, pois, como sabemos, ela já faz parte das concepções de homens naturais[14], logo, não devemos esperar coisas ‘boas’ e diferentes das quais vou descrever e argumentar aqui. Assim, devemos considerar um uso equilibrado como elemento chave neste caso e, a reflexão profunda como aquela que poderá determinar se, mesmo em equilíbrio, você deverá continuar se expressando e sendo influenciado pelas redes sociais. Depois disso, considere tirar umas ‘férias’ das redes sociais; dedicando-se à leitura, por exemplo. Ao perceber que superou estas fases ‘em boas condições’, considere abandonar as redes sociais e recuperar a sua vida de forma mais saudável e centrada na palavra de Deus.

Não podemos conhecer a Deus em sua plenitude se o mundo nos influencia mais que as Escrituras.

Paul Washer

Interessante observar que esta preocupação sobre manipulação em massa, não é assunto novo. Pessoas e governos querem isso a qualquer preço. No livro: ‘A Igreja do final do Século XX’ (publicado no Brasil em 1995 mas, lançado nos EUA em 1970) – Franscis A. Schaeffer, no capítulo sete intitulado ‘O homem moderno, o manipulador’, discorre sobre a manipulação científica, a manipulação da lei, a manipulação da história, a manipulação da religião, da televisão, arte, teatro e, finaliza o capítulo falando da manipulação química e eletrônica (termo utilizado na época equivalente para ‘tecnologia’).

Assim, fica aqui o alerta!

Espero que possamos ser mais espertos e iniciar um movimento contrário às redes sociais, para interromper as manipulações e não mais permitir estas ilusões em nossa vida!

E aí? Você está pronto para começar fazer uma limpeza das redes sociais da sua rotina e se concentrar em assuntos mais importantes?

_______________________

Baixar em PDF :  

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos King James – BKJ 1611 – Niterói, RJ : BV Films Editora, 2018.

LANIER, Jaron. Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais Gávea, RJ : Editora Intrínseca, 2018.

KARNAL, Leandro, SILVA, Vaderez Carneiro. O que aprendi com HamletPorque o mundo é um teatro – Rio de Janeiro, RJ : LeYa, 2018.

SCHAEFFER, Franscis A. A Igreja do final do Século XX – Viçosa, MG : Editora Ultimato, 1995.

[1] Termo cunhado por Zygmunt Bauman – Sociólogo e Filósofo Polonês

[2] Ex-analista da CIA (Agência Central de Inteligência) que também trabalhou como agente da NSA (Agência Nacional de Segurança) –

[3] É músico e cientista de computação estadunidense.

[4] Doutor em História Cultural pela USP e palestrante

[5] Cf. p. 82 e 83

[6] Leia mais sobre em Wikipédia

[7] Zygmunt Bauman – Modernidade Líquida – p.27 e 28

[8] Cf. Mateus 8:29 e 30

[9] Antes de 2017 eram apenas 140 caracteres.

[10] Renato Vargens traz um excelente conteúdo através do seu texto intitulado: Cristianismo Hibrido – Disponível em http://pulpitocristao.com/2009/09/cristianismo-hibrido.html

[11] Anedonia é a perda da capacidade de sentir prazer, próprio dos estados gravemente depressivos. Também é encontrada na neurastenia e em alguns tipos de esquizofrenias e no transtorno de personalidade esquizoide.

[12] Ransomware é um tipo de software nocivo (conhecido também como malware) que restringe o acesso ao sistema infectado com uma espécie de bloqueio e cobra um resgate (como em um sequestro) para que o acesso possa ser restabelecido.

[13] Números sobre o Facebook – Disponível em: https://mercadobinario.com.br/a-importancia-e-os-beneficios-da-interacao-no-facebook/

[14] O termo: Homem Natural é designado para o ser humano que ainda não recebeu a Graça de Deus através da Salvação em Jesus Cristo.


Post relacionado