Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Outubro/2019
Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. Romanos 8:22
No primeiro artigo intitulado O Shalom de Deus e conceito moderno de progresso fiz esclarecimentos sobre a conceituação e significado da palavra Shalom e, apresentei a definição do que é missão integral, pela ótica de Renê Padilha. Na sequência do artigo, citei algumas porções do livro: ‘Galactolatria – mau deleite’ da Dra. Sônia T. Felipe, trazendo a realidade nefasta da indústria sobre o rebanho bovino e a usurpação do leite.
No segundo artigo intitulado O Shalom de Deus e o cristianismo líquido explorei a reflexão, em uma análise crítica, sobre o cristianismo expressado nas últimas décadas, conceituando-o como ‘cristianismo líquido’. No final, aproveitei a ênfase nas três possibilidades de mudanças, também descritas no artigo anterior, na perspectiva de John M. Perkins que são: o deslocamento, a reconciliação e a redistribuição, como sugestões práticas para a missão integral mais eficiente, por parte da igreja e seus fiéis.
Neste terceiro artigo intitulado de O Shalom de Deus e a crise hídrica quero trazer à memória a incapacidade humana no cuidado com recursos naturais, principalmente, neste caso, a água. No entanto, para esta reflexão, trarei conceitos e dados técnicos. Para tanto, vou descrever a integra das considerações finais dos autores Nádia Rita Boscardin Borghetti, José Roberto Borghetti e Ernani Francisco da Rocha Filho, em sua obra intitulada: A integração das águas – Revelando o verdadeiro aquífero Guarani – 2011. Em 2017, ganhei uma edição diretamente das mãos de José Roberto Borghetti, que tive a oportunidade de conhecê-lo na Faculdade que eu trabalhava e ele fazia mais uma Pós-graduação em Sustentabilidade e Política Pública.
Assim, segue o texto dos autores: A integração das águas. O conteúdo completo da obra você por ler, clicando AQUI.
—- INÍCIO DO TEXTO DOS AUTORES —-
Vivenciamos a cada dia a degradação do meio ambiente – vivemos num mundo desafiado pelo efeito estufa, pelo desmatamento das florestas, pela poluição do ar, do solo e das águas. Essa degradação é agravada, anualmente, quando 80 milhões de pessoas são adicionadas ao número total da população mundial, reclamando seus direitos sobre os recursos naturais da Terra.
O desenvolvimento industrial, a urbanização e a necessidade de água de irrigação para alimentar uma população em crescente número, estão exercendo imensa pressão sobre os recursos hídricos, representando uma ameaça para o desenvolvimento humano. Esta pressão reflete no estresse ecológico, pois o volume hídrico restante para a manutenção dos ecossistemas tem-se tornado cada vez menor, levando muitos deles ao colapso. Essa é a herança que será deixada para as gerações futuras.
Os efeitos causados pelas alterações climáticas serão somados a esta pressão hídrica, gerando um forte impacto na distribuição da água do planeta, provocada pelas mudanças nos padrões de escoamento e na crescente evaporação da água. Os cenários das alterações climáticas apontam para um aumento dos fluxos hídricos a curto prazo, seguido de uma aridez a longo prazo.
Os glaciares funcionam como extensos tanques de água, armazenando água e neve em forma de gelo, e liberando o conteúdo durante o verão. Esse caudal sustenta os sistemas fluviais que constituem a fonte de subsistência de muitos sistemas ecológicos e agrícolas. À medida que os reservatórios glaciares se esgotam, os caudais diminuem. O degelo glaciar apresenta ameaças para mais de 40% da população mundial. Sete dos grandes sistemas fluviais da Ásia – Brahmaputra, Ganges, Amarelo, Indo, Mekong, Salwin e Yangtze – serão afetados pelo rápido degelo glacial criando alguns riscos imediatos para o desenvolvimento humano, uma vez que estes sistemas fluviais fornecem água e garantem o abastecimento de alimentos para mais de 2 bilhões de pessoas (PNUD, 2007).
Portanto, já não é mais inconcebível acreditar que o mundo caminha para um déficit hídrico, quando 70% do planeta está coberto por águas. Quando pensamos que o planeta dispõe da mesma quantidade de água (praticamente a mesma de há 3 bilhões de anos) para um número cada vez maior de pessoas e que essas mesmas pessoas poluem os rios, e desviam excessivamente a água dos mesmos e dos aquíferos para a agricultura, secando o curso daqueles e diminuindo o nível de água desses, começamos a ter uma noção de que a água não é um recurso infinito e inesgotável.
Além disso, nos deparamos com a irregularidade na disponibilidade (distribuição) dos recursos hídricos em todo o planeta, condicionada ainda pelas características socioeconômicas de cada região, ou seja, nem sempre abundância de água significa acesso da mesma em qualidade e quantidade para a população. Em muitas regiões do mundo a baixa disponibilidade de água quase nada tem a ver com escassez de água.
A Indonésia, por exemplo, possui uma disponibilidade natural de água superior a 13.000 m 3 por pessoa; entretanto, um quarto da sua população não tem acesso à água potável, na Etiópia, no leste da África, em 2003, mais de 12 milhões de pessoas enfrentaram a fome, numa terra sedenta de água, mesmo tendo 84% da vazão do Rio Nilo fluindo por seu território (ESTADO DO MUNDO, 2004). Isso significa que um governo com influência do poder, da política e do dinheiro pode levar água para sua população, mesmo numa região com escassez natural de água; já um governo sem poder e sem dinheiro pode levar à privação de água, mesmo numa região de grande riqueza hídrica.
Observa-se, ainda, em muitas regiões do mundo todo, que aqueles que consomem mais água pagam menos, e aqueles que pouco consomem, pagam mais. Populações urbanas de baixa renda e pobres, não-conectadas à rede, frequentemente são forçadas a recorrer a suprimentos alternativos e caros, como vendedores de água, que podem cobrar muitas vezes mais do que usuários pagam pela água encanada. As pessoas que vivem nos bairros degradados de Jacarta (Indonésia), Manila (Filipinas) e Nairóbi (Quênia) pagam 5 a 10 vezes mais por água e por unidade do que as que vivem nas zonas de elevado rendimento das suas próprias cidades — é mais do que pagam os consumidores em Londres ou Nova Iorque (PNUD, 2006).
O mercado mundial de água envasada se contrapõe à condição de precariedade ao acesso de água potável que gera graves riscos de saúde pública que milhões de pessoas enfrentam nos países do terceiro mundo. Essa comparação realça as disparidades existentes no acesso a água potável e à água mineral engarrafada em particular. Os 25 bilhões de litros de água mineral consumidos anualmente pelas famílias dos EUA ultrapassam o consumo total de água potável de 2,7 milhões de pessoas no Senegal que não têm acesso a uma fonte de água tratada. Os alemães e os italianos consomem, entre si, água mineral em quantidade suficiente para cobrir as necessidades básicas diárias de mais de 3 milhões de pessoas no Burquina Faso (PNUD, 2006).
À medida que os lençóis freáticos caem, os fazendeiros devem perfurar cada vez mais fundo e comprar bombas mais possantes para trazer a água à superfície. Os pobres não podem pagar por essa tecnologia e acabam arrendando suas terras aos grandes proprietários de poços, tornando-se trabalhadores nessas fazendas maiores. Outras vezes veem-se obrigados a vender sua propriedade e migrar para os centros urbanos, inchando mais ainda as periferias das grandes cidades. Portanto, a crescente pressão pela transferência de água da agricultura para a indústria ameaça aumentar a pobreza rural, uma vez que a água é um recurso produtivo vital para os pequenos agricultores (dependentes da agricultura de subsistência), que representam mais de metade da população mundial, indicando que a escassez hídrica está intimamente relacionada com as desigualdades sociais e contribui para que essas se intensifiquem mais, principalmente nos países em desenvolvimento (PNUD, 2006).
Por outro lado, seguramente, é possível afirmar que a escassez hídrica também significa escassez alimentar, pois o principal insumo da agricultura irrigada é a água e à medida que esta é desviada para a demanda exigida pelas cidades e indústrias, provoca-se a perda da capacidade de produção de alimentos, tornando as nações mais dependentes da importação de grãos e, como consequência elevando os preços no mercado internacional. Mesmo assim, a importação de grãos tem se tornado uma forma eficiente de importar água, uma vez que 1 (uma) tonelada de grãos representa mil toneladas do líquido, e esta água pode ser desviada para usos domiciliares e industriais. Por outro lado, uma tonelada de água utilizada na indústria gera, aproximadamente, em produção – cerca de 70 vezes o lucro auferido pelo mesmo volume de água utilizada para cultivo de grãos (ESTADO DO MUNDO, 2000), e o desvio da água da agricultura para a indústria em países que buscam o crescimento econômico torna-se uma opção óbvia.
A degradação de mananciais tem tornado o processo do tratamento convencional insuficiente para assegurar os padrões de potabilidade definidos pelas normas de saúde pública, principalmente nos grandes sistemas das regiões metropolitanas e as novas alternativas para suprir a sede da humanidade são cada vez mais caras. As indústrias geram grandes volumes de água servida, e nos países em desenvolvimento grande parte destes continua sendo despejada, sem tratamento, em rios e córregos vizinhos, poluindo o pouco que resta de água potável. As indústrias de alimentação e bebidas, celulose e papel e têxtil são responsáveis por mais de 3/4 das cargas poluentes da água nos países em desenvolvimento.
Um número crescente de cidades está recorrendo à água do mar dessalinizada ou água salobra como prevenção à futura escassez hídrica. Esse processo concentra-se, principalmente, no Golfo Árabe e Oriente Médio, nos países ricos em petróleo. Em 2004, existiam cerca de 9.500 usinas de dessalinização em todo o mundo, com uma capacidade instalada estimada de 11,8 bilhões de metros cúbicos por ano – 0,3% do atual consumo mundial. As necessidades energéticas quanto aos custos da dessalinização vêm caindo com a melhoria das tecnologias, e a capacidade mundial desse processo está se expandindo a uma taxa anual de cerca de 11%. Porém, em termos unitários, a maioria das medidas de conservação e eficiência pode atender às novas necessidades hídricas a 10–25% do custo de produção de água dessalinizada, não fazendo sentido dessalinizar o mar e, no processo, lançar mais gases de estufa na atmosfera, quando a redução de desperdícios e o aumento da eficiência poderão suprir água com melhor custo-benefício e menor dano ecológico (ESTADO DO MUNDO, 2004).
O alto número de rios compartilhados por dois ou mais países, combinado com uma escassez hídrica cada vez maior para populações crescentes, leva muitos políticos e cientistas a alertar para um futuro de “guerras hídricas.” A situação é agravada quando se observa a grande disparidade de renda na população, entre a nascente e a foz, como acontece ao longo dos rios Nilo e Amarelo.
No quadro 5.1 encontram-se listadas as áreas mais críticas no conflito hídrico.
É obrigação do Estado, o fornecimento de pelo menos um volume mínimo de água potável e saneamento necessário para uma boa saúde, para toda a população, sem nenhuma forma de distinção, e principalmente sem custos para aqueles que não podem arcar com eles. Para a ONU (Organização das Nações Unidas), o “acesso razoável” a água potável é definida como a disponibilidade de, pelo menos, de 20 a 50 litros por pessoa por dia, de uma fonte a uma distância não superior a 1 quilômetro do lar.
As Metas de Desenvolvimento do Milênio para 2015 estabeleceu a redução à metade da proporção de pessoas sem acesso à água potável e ao saneamento adequado. A fim de atender aos novos compromissos, os serviços de água terão que alcançar mais 550 milhões de pessoas, e o saneamento adequado 1,3 bilhões de pessoas, até 2015 (Assembleia Geral da ONU, 2000) – globalmente, isso exigirá menos de 1% das extrações atuais em todo o mundo.
Os projetos para atender a demanda de água devem ser desenvolvidos visando a sustentabilidade econômica, social e ambiental, e obedecendo critérios técnicos, legais e institucionais. É essencial que governos cumpram suas obrigações e protejam a segurança pública da água estabilizando o crescimento populacional e elevando a produtividade hídrica, para que a escassez de água não se transforme em falta de alimentos.
É urgente a conscientização da sociedade para a necessidade do uso adequado da água, e mais importante ainda é que essa conscientização venha acompanhada pela mudança nos padrões de conduta e hábitos, pelos consumidores individuais, com relação ao seu uso e conservação – evitando o desperdício, o que significaria entender a diferença entre racionalizar e racionar. Racionalizar o uso da água não significa ficar sem ela periodicamente. Significa usá-la sem desperdício, considerando-a um bem vital para a sobrevivência do planeta.
A escolha por uma dieta mais saudável e menos intensiva no uso de água, uma paisagem adequada ao clima e um estilo de vida com menos bens materiais poderão transformar os consumidores de água em gestores da água. Esta conscientização necessita do respaldo da educação ambiental básica com a inserção do tema “água” em todas as disciplinas da grade curricular das redes públicas e privadas de ensino infantil, fundamental e médio. A capacitação de jornalistas e gestores de recursos hídricos certamente contribuiria numa ampla divulgação e informação sobre os problemas hídricos, alertando e esclarecendo sobre a real necessidade dessas mudanças de atitudes.
Felizmente, ao longo dos últimos quatro anos, tem-se observado um movimento, ainda que modesto, de divulgação e alerta para o desperdício da água. Os órgãos gestores dos recursos hídricos disponibilizam informações e sugestões em seus sites oficiais e em material promocional. Os órgãos de comunicação têm inserido o tema em propagandas educativas e na programação jornalística. Membros da sociedade em todo o país têm tomado iniciativas próprias para evitar o desperdício com a instalação de equipamentos sanitários que visem economia de água, caixas d’água para captação e reutilização de águas servidas e águas de chuva, em residências e condomínios, além da mudança de simples atitudes e hábitos do cotidiano.
Portanto, são prioritárias e possíveis mudanças nos hábitos das pessoas e dos governos com relação ao uso da água visando o crescimento econômico e ao mesmo tempo respeitando a capacidade dos recursos hídricos. No quadro 5.2 estão relacionadas algumas medidas que visam o aumento da eficiência hídrica a fim de evitar a escassez de água nos próximos anos.
MEDIDAS PRIORITÁRIAS PARA AUMENTAR A EFICIÊNCIA HÍDRICA
- Controle do crescimento populacional: o incremento aos serviços de planejamento familiar, aos programas de saúde reprodutiva das mulheres e às oportunidades educacionais e econômicas para as mulheres, teria o benefício duplo de melhorar sua qualidade de vida e reduzir a taxa de natalidade.
- Aumento da produtividade hídrica agrícola:
- escolha de lavouras menos sedentas;
- escolha da lavoura a ser desenvolvida em função das condições climáticas e ambientais locais (ex. índice pluviométrico);
- adoção de métodos mais eficientes de irrigação – irrigação por gotejamento;
- conhecimento da quantidade exata de água necessária para determinadas lavouras – apenas 40% da água desviada é efetivamente utilizada na irrigação, os outros 60% são desperdiçados porque se aplica água em excesso, fora do período de necessidade da planta, em horários de maior evaporação do dia, pelo uso de técnicas de irrigação inadequadas ou, ainda, pela falta de manutenção nesses sistemas de irrigação.
- Substituição de gramados sedentos por grama nativa resistente à seca, proteção vegetal, flores silvestres e plantas que vicejam naturalmente em seus climas locais.
- Mudanças de dietas alimentares a fim de satisfazer as necessidades nutricionais com menos água. São necessárias cinco vezes mais água para suprir 10 gramas de proteína da carne bovina do que do arroz.
- Instalação de utensílios eficientes em termos de consumo de água (sanitários, chuveiros e torneiras) e eletrodomésticos (lavadoras de roupa e prato) nas residências e estabelecimentos comerciais e industriais.
- Substituição dos hidrômetros industriais e comerciais a cada quatro anos e hidrômetros residenciais a cada sete anos, para assegurar faturamento correto e minimizar perdas de água não-medida.
- Reutilização (reuso) de águas servidas e de água não-potável pelas indústrias, estabelecimentos públicos e comerciais, e pelas residências. Por exemplo, na refrigeração de equipamentos, na limpeza das instalações etc. Essa água reciclada pode ser usada na produção primária de metal, nos curtumes, nas indústrias têxteis, químicas e de papel e nos sanitários. Nos países em desenvolvimento, 70% dos resíduos industriais são despejados sem tratamento em águas que poderiam ser usadas para o abastecimento.
- Reutilização de materiais e produtos químicos usados: indivíduos e empresas poderão ajudar a reduzir o risco de poluição dos aquíferos por metais pesados, produtos químicos isoladores, solventes de limpeza e outras substâncias tóxicas que vazam dos aterros.
- Compra de produtos de papel reciclado em vez de papel virgem, por exemplo, poupa-se não só árvores e energia, mas também a água utilizada na manufatura do papel. E produtos de alumínio fabricados com sua sucata requerem apenas 17% da água que o mesmo produto necessita ser feito de alumínio bruto.
- Coleta de águas pluviais em terrenos com mais de 500 m2 de impermeabilização dos solos.
- Ampliação ao acesso ao tratamento de esgotos: nos países em desenvolvimento, entre 90 e 95% do esgoto é despejado sem tratamento em águas que poderiam ser usadas para o abastecimento.
- Manutenção de aterros, tanques de combustíveis, tanques de depósitos de lixo químico.
- Realização de manutenção constante nas redes de abastecimento e dentro de nossas casas para detectar vazamentos e outras perdas em adutoras e tubulações e consequentes reparos.
- Identificação das conexões ilegais e de contabilidade falha. Conexões ilegais são sujeitas a multas de até US$ 50.000 ou três anos de detenção.
- Conhecimento da disponibilidade dos sistemas aquíferos e a qualidade de suas águas são primordiais ao estabelecimento de política de gestão das águas subterrâneas. O uso sustentável de aquíferos renováveis exige que nossas retiradas não excedam o nível de recarga.
- Implantação de tarifas mais altas para água e esgoto para as indústrias, com o cuidado de não incentivar a perfuração de poços profundos sem a devida fiscalização.
- Adoção de tarifa escalonada como instrumento econômico que pode proporcionar um uso mais eficiente e equitativo da água. Com esse método, o preço unitário da água para um consumidor aumenta juntamente com o volume utilizado. Isso permite que um nível básico de água domiciliar tenha um preço bastante baixo, enquanto um maior uso é cobrado a uma taxa mais alta, de modo escalonado (em indústrias, hotéis etc.). A possibilidade de cobrar mais caro pela água dos grandes consumidores poderia encorajar a sua conservação. Tarifas subsidiadas – subsídios cruzados e investimentos em fontes públicas para garantir que ninguém seja impedido de ter acesso à água devido à pobreza, com uma despesa máxima em água de 3% do rendimento familiar.
- Juntamente com regulamentos rígidos e tarifação mais efetiva, os mercados da água podem ajudar a melhorar a eficiência de uso e alocação. A possibilidade de negociar água encoraja os consumidores a conservá-la, já que podem vender a que foi poupada e faturar uma renda extra. Onde existem títulos ou direitos claros sobre a propriedade da água, “limitar-conservar-negociar” pode ser uma estratégia eficaz para a proteção de ecossistemas e incremento da produtividade hídrica.
- Legislação específica que discipline o uso das águas subterrâneas e coíba a abertura de novos poços, essa franquia de ordem legal tem contribuído para problemas de superexploração, pois o principal fator de risco da utilização de todas as águas subterrâneas resulta do grande número de poços rasos e profundos que são construídos, operados e abandonados sem tecnologia adequada, devido à falta de controle e fiscalização nas esferas federal, estaduais e municipais (ABAS, 2002).
- Criação de leis e normas específicas de utilização racional dos recursos hídricos com viabilidade socioeconômica e ambiental, para o abastecimento público, agricultura, indústria e turismo termal, com equipamentos mais eficientes.
- Institucionalização de políticas que criem incentivos para poupar água e eliminem subsídios perversos que encorajam padrões insustentáveis de utilização de água.
- Autonomização dos governos e das comunidades locais através da descentralização, do desenvolvimento de capacidade e de um financiamento adequado, destinando pelo menos 1% do PIB à água e ao saneamento, por via da despesa pública.
“Uma sociedade sustentável e segura é uma que atenda suas necessidades hídricas sem destruir os ecossistemas dos quais depende ou as perspectivas das gerações futuras. Coletivamente, poderemos nos mover em direção a uma sociedade moderna, com base numa irrigação mais eficiente, produtiva, ecologicamente segura e potencialmente duradoura. Aceitar o desafio imposto pela reserva finita de água doce na Terra requer também a diminuição de nossas pressões individuais e coletivas sobre os sistemas naturais. Portanto, o maior desafio é atingir o equilíbrio entre as necessidades humanas e as necessidades dos ecossistemas – Sandra Postel, 2004.”
—- FIM DO TEXTO DOS AUTORES —-
Como podemos observar, a incapacidade humana em administrar todo e qualquer recurso natural, são limitados beirando a irracionalidade. Percebe-se um ser que não se desenvolveu como ser pensante. Como crianças, são incapazes de perceber a finitude dos recursos naturais, consumindo desenfreadamente sem analisar cenários futuros. Com os olhos no presente, a exploração é sua prática em detrimento da conservação e manutenção adequadas A mesma insanidade está presente naqueles que não se envolvem em nenhuma discussão que aborda temas iguais a estes. A omissão é tão danosa quanto a prática exploratória.
PARTINDO PARA AÇÕES PRÁTICAS
No livro ‘O que é Missão Integral’, de Carlos René Padilha está uma citação bem oportuna para este assunto que estamos refletindo e diz respeito às questões que foram propostas acima. Ele escreve sobre John M. Perkins, um profeta negro de Mendenhall, Mississippi, Estados Unidos. John nunca se limitou ao terreno do teórico, mas se propôs a criar estratégias para que mudanças acontecessem. Assim, ele resume em três princípios:
1º – Deve haver deslocamento: Para servir de maneira efetiva aos pobres devo deslocar-me, ou seja, integrar-me à comunidade necessitada. Ao ser vizinho dos pobres, as necessidades da comunidade se tornam minhas necessidades.
2º – Deve haver reconciliação: O evangelho tem o poder para reconciliar as pessoas com Deus, com os outros, comigo mesmo e com a criação. A reconciliação que atravessa barreiras raciais, culturais e econômicas não é um aspecto opcional do evangelho.
3º – Deve haver redistribuição: Deus nos chama a compartilhar com aqueles que sofrem necessidades… Isso significa compartilhar nossas capacidades, nosso tempo, nossas energias e nosso evangelho de forma que capacitem as pessoas a interromper o ciclo da pobreza e a assumir sua própria responsabilidade diante de suas necessidades. p. 96 (PADILHA)
Estes princípios descritos aqui, creio que expandem o cuidado com os mais pobres e podem ser totalmente empregados na restauração do Shalom de Deus.
Por deslocamento, podemos compreender que precisamos sair das quatro paredes e buscar compreender outros cenários presentes no mundo, como por exemplo: a exploração humana dos recursos naturais e sua biodiversidade.
Por reconciliação precisamos ter claro em nossa mente que o Evangelho não está restrito somente a área espiritual do ser humano. Como igreja, poderíamos criar momentos para discutir nossa desobediência com relação à missão integral intrínseca no Evangelho.
Por redistribuição, precisamos compreender (e agir) que se somos conhecedores da verdade que liberta devemos ser os porta-vozes, restaurando o Espírito da Criação, compartilhando deste conhecimento com o mundo.
No entanto, devemos levar em consideração que toda a iniciativa de mudanças e melhoras contínuas sejam ecológicas, sociais, culturais e tecnológicas é, sem dúvidas, importante ao ser humano mas, serão apenas no plano terreno, pois o homem sem Deus é apenas o ser criado, com imagem e semelhança ofuscadas pelo pecado, destituído da salvação eterna, carente da graça do seu criador.
Como Igreja de Cristo podemos (e devemos) fazer muito mais do que, repetidamente, promover cultos a Deus. Isso, indiscutivelmente é importante. Mas também é extremamente importante sermos agentes promotores do Shalom de Deus neste mundo, até a volta e restauração completa por Cristo Jesus, pois esta tarefa nos foi dada desde a fundação do mundo!
____________________________________
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos King James – BKJ 1611 – Niterói, RJ : BV Films Editora, 2018.
FELIPE, Sônia T. Galactolatria : mau deleite : implicações éticas, ambientais e nutricionais do consumo de leite bovino – São José, SC : Ed. da autora, 2012.
PADILHA, Carlos René. O que é missão integral? – Viçosa, MG : Ultimato, 2009.
WILLIAMS, Derek. Dicionário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2000.
BORGHETTI Nádia Rita Boscardin, BORGHETTI José Roberto, FILHO Ernani Francisco da Rocha. A integração das águas – Revelando o verdadeiro aquífero Guarani – Curitiba, PR : Edição da Autora, 2011. Disponível em http://jrborghetti.com.br/site/images/livros/integracaodasaguas.pdf