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Vós sois o Sal da Terra

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Setembro/2021


Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. 

Evangelho de Mateus, capítulo 5, versículos de 13[1]

Vamos refletir um pouco sobre as palavras de Jesus, momentos após dar início ao seu ministério e passar a anunciar o Reino de Deus e a fazer discípulos.

É difícil imaginarmos a reação dos discípulos de Jesus quando Ele fala sobre ser sal da terra, mas, com toda a certeza, seus ouvintes estavam entendendo o que o mestre queria dizer, pois todos sabiam muito bem para que servia o sal.

O evangelho de Mateus tem uma ‘simbologia’ teológica muito interessante. O autor, R. C. Sproul nos informa que:

As palavras iniciais e finais de Mateus localizam as boas notícias dentro da história redentora narrada na Escrituras do AT e no NT. Em Mateus 1.1, “genealogia” evoca Gênesis. No princípio, o primeiro homem, Adão, recebeu autoridade sobre as demais criaturas. Através de sua obediência, morte e ressurreição, Jesus, o Filho do Homem, agora possui toda a autoridade no céu e na terra (28.18). Jesus é “o filho de Abraão” (1.1), aquele que traz bênção sobre “todas as nações” (28.19). Jesus é “o filho de Davi” (1.1), o rei que “vem em nome do Senhor” (21.5, 9) para inaugurar o reino do céu há muito esperado (4.17). Cumprindo a promessa profética do “Deus conosco” (1.23), Jesus estará com sua igreja “sempre, até o fim dos séculos” (28.20). [1]

É sobre este assunto que devemos nos aprofundar em estudos; é essa a mensagem que precisamos passar e, é sobre esses fundamentos que devemos colocar nossos pés.

Acompanhe nas próximas linhas, reflexões sobre ser sal e o anúncio desta mensagem.

 

AGREGANDO UM CONCEITO INTERESSANTE – O QUE SIGNIFICA EVANGELIZAR?

Evangelizar significa emitir uma convocação para a conversão, bem como para confiar; é a entrega, não só de um convite divino para receber um Salvador, mas também de uma ordem divina para arrepender-se do pecado.

Em outras palavras, evangelizar é apresentar a Cristo Jesus às pessoas a fim de que, por meio do poder do Espírito Santo, elas possam depositar sua confiança em Deus para que recebam o Salvador, Jesus Cristo, com o efeito muito claro e genuíno do arrependimento dos seus pecados, buscando uma vida de crescimento e conhecimento da Palavra de Deus.

No entanto, não podemos esquecer que a evangelização é obra humana, mas a fé é dom de Deus. Entendo que os frutos da pregação do evangelho, não dependem dos desejos e intenções dos homens, mas da vontade do Deus todo-poderoso, que dá consciência ao pecador dos seus pecados levando-o gentilmente ao arrependimento e à mudança de vida.

Ao fazer isso, estamos sendo sal da terra! Estamos cumprindo com nossa tarefa como cristãos.

 

NÃO PODEMOS SER SAL SEM ARREPENDIMENTO

No capítulo 4, versículo 17, do evangelho de Mateus, Jesus diz: “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus!”

A partir deste momento Jesus passa a anunciar o Reino de Deus em pregações, curas e milagres. O Reino é chegado para aqueles que estavam sofrendo, angustiados, famintos, doentes. Aqueles que, mesmo estando fisicamente próximo das outras pessoas da sociedade vivem à margem, não tinham direitos e eram humilhados. Olhando-os com compaixão, Jesus passa a falar-lhes:

Alegrem-se vocês que são pobres, vocês que choram, vocês que são humildes, vocês que tem fome, vocês que tem misericórdia para com os outros, vocês que são limpos de coração, vocês que buscam a paz, vocês que sofrem perseguições; vocês devem ficar alegres pois o Reino do vosso Deus chegou até vocês e é este que vos fala. (Cf. Mt. 4.2-12 – adaptado).

Como não ser impactado com palavras como estas? Como deixar de seguir alguém que conseguiu parar diante de mim, e expressou seus sentimentos de forma tão personalizada? Creio que muitas curas e transformações aconteceram no momento da ministração destas palavras.

Vós sois o sal da terra […] continua Ele! Serão vocês que darão sabor ao mundo! O mais interessante deste texto é que Jesus ainda não havia escolhido seus discípulos, ele disse essas palavras para a multidão que o seguia. Sim, para todos aqueles oprimidos, aqueles que se dispuseram o olhar e ouvir o que Ele tinha a dizer.

Todos compreendiam o significado poderoso desse conjunto de palavras. Mesmo se sentido inútil perante os homens, mesmo não tendo qualquer riqueza, mesmo padecendo de dores, podemos ser sal e trazer sabor para outras pessoas. Foi assim para aqueles pobres e oprimidos e, é assim para nós também!

Diferente daquelas pessoas que ouviam Jesus nos primeiros dias de seu ministério, que não tinham recursos, ao contrário, grande maioria de nós goza de saúde e recursos, mas será que estamos sendo o sal da terra? Será que não nos acostumamos com o conforto das nossas igrejas e a rotina dos nossos cultos que não influenciamos mais nossa sociedade? Será que não nos tornamos insípidos?

 

COMO PODEMOS SER SAL DA TERRA?

Podemos ajudar os outros

Entenda o ajudar como algo individual, próprio de você mesmo, sem depender de outras pessoas, seus horários e seus recursos. Essa ajuda, não precisa ser apenas financeira, pode ser com sua disponibilidade de tempo, de energia, de voluntariado. Pode ser a dedicação sua para limpar a casa de uma pessoa com dificuldades de locomoção. Pode ser tantas coisas, que só virão à mente, se você dedicar um tempo para refletir sobre isso e se dispuser a ajudar efetivamente.

Podemos nos reunir com os amigos

Com o passar dos anos, vamos nos aproximando mais das pessoas que professam a mesma fé que a nossa e, deixamos de promover amizades com pessoas não cristãs. Esse é um erro que todos nós precisamos corrigir e evitar. De que adianta ser “sal dentro do saleiro?”. De que adianta ‘fugir’ do mundo ao ponto em que as pessoas nem se quer conhece a fé que professamos. Precisamos abrir espaços em nossa vida para cultivar amizades verdadeiras com pessoas que não conhecem Jesus. Essas pessoas devem ser alvo da nossa evangelização.

Podemos ser éticos com nossos compromissos

Independente do compromisso que você tenha, a forma como vai executá-lo, ou cumpri-lo, tem tudo a ver com sua conduta ética, que é claro, deve ser cristã. Chegar atrasado em um compromisso, na Igreja ou fora dela, mostra sua desorganização, mostra sua falta de interesse e sua irresponsabilidade. Sabemos que, para os irmãos da Igreja, essa falta de compromisso é relativizada de forma banal. Mas, não deveria ser assim! O que falar sobre a falta de compromisso, atrasos ou falta de organização perante as pessoas, com as quais nos relacionamos secularmente. Parece que ser ético com os compromissos atualmente é um diferencial! Procedendo com seriedade e compromisso, podemos, sabiamente, criar pontes para conversas sinceras sobre a responsabilidade individual e seriedade ao assumir um compromisso e, assim, apontar nossas conversas para a evangelização, com todo o respeito e carinho para com a pessoa que estamos nos relacionando.

Podemos negar a participação em conluios

Me lembro de uma situação em que fui provado nesta questão. Trabalhava com vendas e um supervisor de minha área, me pediu uma nota fiscal de combustível no valor de R$ 150,00. Eu disse para ele que somente tinha abastecido, naquele período, o valor de R$ 90,00. Ele disse que não importava, e que eu deveria ‘arrumar’ uma nota fiscal no valor de R$ 150,00, se não seria desligado da empresa. Infelizmente para ele, fui desligado no dia seguinte. Ele cumpriu com sua palavra e eu cumpri com meu papel, não me sujeitando ao fato. Penso que ambos respondemos adequadamente às nossas convicções.

Mas, e quando tomar uma decisão dentro deste assunto não for tão simples assim? E quando a situação for muito mais complexa do que essa, como proceder? Simplesmente ore a respeito, na certeza de que o Espírito Santo de Deus vai lhe dar a resposta e apontar a direção do caminho a seguir. Mas uma coisa podemos concluir, não há como ser sal, se não tivermos o ‘sabor’ de Cristo em nós! Tenha atenção para não ir perdendo ‘seu sabor’ aos poucos, com as pequenas coisas e depois, se tornar totalmente insípido. 

Ensinando os outros

“Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, ide e fazei com que todos os povos da terra se tornem discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a obedecer a tudo quanto vos tenho ordenado. E assim, Eu estarei permanentemente convosco, até o fim dos tempos”. Mt. 28.18-20[1]

Foram estas as últimas palavras de Jesus! Depois de algum tempo caminhando com seus discípulos, Ele os envia para proclamarem tudo o que aprenderam, o que eles viram o mestre fazer e a experimentar com sua prática a ação do Espírito Santo neles.

Sabemos, pela história bíblica e teológica que estes discípulos, tiveram ‘sucesso’ em algumas áreas e, em outras nem tanto, mas todos cumpriram sua missão. Hoje, não podemos apontar para aqueles, mesmo conhecedores das verdades (que é Cristo) que não estejam cumprindo sua com sua missão; precisamos, de forma individualizada, olhar para nós mesmos e buscar identificar qual está sendo a nossa prática efetiva para o Reino de Deus, para cumprir a missão que Cristo nos deixou.

Com toda a humildade, devemos converter o nosso coração ao Senhor, pedindo a Ele a ajuda necessária para vencer as barreiras que estão impedindo o avanço da proclamação do evangelho, seja de forma individual ou coletiva.

Individualmente podemos fazer muitas coisas para sermos sal! Coletivamente podemos fazer ainda mais! Mas não deixe que a omissão coletiva tire de você o ‘sabor’ do Cristo que veio buscar o pecador!

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[1] – Bíblia de Estudos da Fé Reformada – São José dos Campo, SP : Editora Fiel, 2021

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