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A Evangelização na Pós-Modernidade

Da verdade concreta à relativa

Por: Claudecir Bianco – Teólogo e Missionário
Agosto/2018

Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim.
Evangelho de João, capítulo 14, versículos 6
B-NVI-P 1

Para nós que nascemos nos anos 60, 70 e 80, era relativamente simples assumir conceitos estritamente como verdadeiros ou falsos. Parece que a aceitação das propostas com estes critérios eram óbvias. Se divergências houvessem, seriam entre sim ou não. Era relativamente simples ter como certo e concreto uma única verdade, ou como não verdadeiro, e pronto.

Assim, para esta geração, quando se pretende anunciar o Evangelho, estes conceitos são como convicção de verdadeiro, único ou falso e nada mais.
Mas, o que está acontecendo, nos dias atuais, sobre a forma que estamos anunciando o Evangelho?

Para eles, os nascidos mais tarde, está claro o pensamento de que há muitas opções de escolhas e não mais o sim ou não, como era para nós.

Nos conceitos da Pós-Modernidade, a verdade é totalmente relativizada, não há verdade absoluta. Você interpreta da forma como fica melhor para você. Você deve ficar confortável. Na Pós-Modernidade, não existe um único caminho.

Numa releitura, o texto de João 14.6, que diz:

‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida’!

Nos tempos de hoje poderia ser escrito assim: ‘Talvez eu seja um caminho, uma verdade, uma vida’.

Ao anunciarmos hoje, devemos ter a atenção de estamos falando a uma geração de pessoas que nasceram e creem que tudo do mundo é semelhante a um buffet, você escolhe o que quer.

Entendendo que a mensagem não mudou, devemos ter a atenção na forma como estamos anunciando o Evangelho à presente geração.
Se anunciarmos, da forma como fazíamos antes, podemos ser rechaçados logo de início.

Então, o que fazer?

  • Opção a) Não fazer nada, estão todos perdidos;
  • opção b) Continuar anunciando da mesma forma;
  • opção c) Contextualizar a forma de anunciar.

Se optou pelas alternativas ‘a’ ou ‘b’, será importante rever seus conceitos sobre a Pós-Modernidade e métodos de Evangelização.
Se optou pela opção ‘c’ continue lendo este artigo, creio que poderá te ajudar com algum insight nesta área, é claro, se você for um ‘inconformado’!

Trago aqui uma citação interessante para clarear o conceito e forma sobre a Pós-Modernidade nas palavras de Stanley J. Grenz.

O Pós-Modernismo desafia a descrição definida. Seja lá o que for além disso, ele implica a rejeição radical da perspectiva intelectual moderna. Trata-se de uma revolução no conhecimento. De modo mais específico, a era pós-moderna marca o fim do “universo” – o fim da cosmovisão que a tudo abrange.
Em certo sentido, os pós-modernos não possuem cosmovisão alguma. No centro do pós-modernismo há uma negação da realidade de mundo unificado como objeto de nossa percepção. Os pós-modernos rejeitam a possibilidade da construção de uma cosmovisão única correta e contentam-se simplesmente em falarem de muitas visões e, consequentemente, de muitos mundos.
Ao substituir a cosmovisão moderna por uma multiplicidade de visões e de mundos, a era pós-moderna, na verdade, substituiu o conhecimento pela interpretação. (Grenz. 1997. P. 68)2

É uma Pós-Modernidade Líquida, como disse o sociólogo Polonês Zigmunt Bauman.
Para entender o que isso significa devemos entender que a sociedade humana progride em estágios, sempre desenvolvidos a partir de estágios anteriores.

Mas por que Pós-Modernidade Líquida?

A caracterização da sociedade, o sociólogo a definiu de ‘sólida’, por ser ordenada, racional, previsível e relativamente estável.
Sendo sua característica determinante a organização das atividades e das instituições humanas em paralelo às linhas burocráticas.
Haveria também, nesta modernidade dita sólida, um elevado nível de equilíbrio nas estruturas sociais, significando que as pessoas viviam segundo uma série de normas, tradições e instituições estáveis.
Assim, a Pós-modernidade Líquida é um fluxo de incertezas. No nível ideológico seria a afirmação de que o conhecimento científico poderia melhorar os problemas naturais e sociais.

As ciências, os especialistas, os acadêmicos e as autoridades políticas, que antes eram consideradas figuras supremas de autoridade, ocupam hoje, um status de guardiões da verdade.

No entanto, na visão de Bauman, eles são considerados tanto a causa como a própria solução. Essa dicotomia levou ao ceticismo por parte da sociedade. Incertezas minaram os indivíduos quanto a emprego, educação e bem-estar.

A autocriação da identidade pessoal se dá através da prática constante do consumo, pois o status profissional e os laços familiares se afrouxaram.

O senso do Eu não é tão fixo, mas fragmentado, instável, quase sempre incoerente internamente. Os conceitos de fundo e raso se fundiram, e é impossível separá-los.

Nossa percepção de mudanças nunca foi tão concreta como nos dias atuais. Ao vivermos na era globalizada e com fácil e rápido acesso às informações e acontecimentos nos induz a vivermos e agirmos de forma mais rápida e intensa.

Tudo muda a cada instante… isso sempre aconteceu, o diferente agora é que acompanhamos mais de perto cada mudança e, promovemos as muitas mudanças também…

Numa vida líquida moderna, não há laços permanentes, e caso tenhamos algum… ele dever ser frouxo para que possa ser desfeito… quando as circunstâncias mudam. Bauman – Modernidade Líquida 3

Isto posto, percebemos pontualmente algumas dificuldades para o anúncio do Evangelho sem que haja uma identificação do receptor da mensagem.

Para a geração atual, como vimos, os conceitos são fluidos, sem afirmação concretas… são líquidas por não se consolidarem, não há laços permanentes.

Uma sugestão para que o anúncio do Evangelho seja eficaz, deve ser, despida inicialmente, de qualquer afirmação fechada, contundente.

Com certeza, perderemos o contato com a pessoa, se seguimos de forma muito obtusa.

Não estou dizendo para diminuir ou modificar a mensagem, mas apenas ter atenção aos primeiros conteúdos transmitidos.

A ideia é, como diria o Apóstolo Paulo, fornecer primeiro o leite, depois, alimentos mais sólidos. É para os neófitos que o leite deve ser oferecido, para que se nutra e depois, alcance o desenvolvimento na fé. [Leia o artigo: Há muito tempo deixei de seguir Jesus]

A radicalização de uma postura rígida, fundamentalista e, muitas vezes ‘agressiva’ ao outro, vai afastar mais do que atrair, e a conquista não acontecerá.

Desse modo, alguns contentam-se por apenas participar das reuniões da Igreja e não atuam de forma efetiva numa evangelização ‘Pós-Moderna’.

Abandone o medo tolo de alguns, crendo que a mensagem será diminuída, com uma proposta de anúncio ‘Pós-Moderno de Evangelização.
Isso não acontecerá, se as pessoas, detentoras de mensagem, souberem como agir, se houver preparo sério e criterioso no formato desta ‘nova’ forma de evangelização.

Há um livro chamado ‘Proibida e entrada de pessoas perfeitas’ do Pr. John Burke, que em breve, farei outro artigo, mas quero apenas introduzir a ideia central do livro.

Burke relata sua experiência com sua igreja, a Gateway e, pergunta ele:

O que tem em comum um budista, um casal de motoqueiros, um ativista dos direitos homossexuais, um nômade, um engenheiro, um muçulmano, uma jovem mãe, um judeu, um casal que vive junto sem ser casado e um ateísta?
Eles são a futura igreja da América!
Grande parte deles tem entre 20 e 30 anos de idade e tornou-se seguidores de Cristo nos últimos cinco anos. Muitos agora estão conduzindo outros à nossa comunidade.

Esse livro é fantástico e retrata, em detalhes, conceitos e práticas para que uma igreja e seus membros tenham mais sabedoria e eficácia na evangelização na Pós-Modernidade.

Concluo, alertando que todos nós pertencemos à ‘Pós-Modernidade’. Os mais velhos desta geração, receberam, através dos ensinos e das vivências práticas de sua época, os resquícios da modernidade, dita ‘sólida’ por Bauman, e estamos presenciando as mudanças mais efetivas na sociedade com toda a rapidez, própria da sua característica.

O que precisamos é fazer diferente, se quisermos resultados diferentes!

Abram os olhos e vejam os campos!
Eles estão maduros para a colheita.
Palavras de Jesus no Evangelho de João 4.35

O Evangelho de Jesus Cristo foi proclamado em todas as eras com poder para converter as pessoas dos seus pecados e transformar seus corações e mentes.

Hoje em dia, a mensagem ainda é a resposta para a sociedade Pós-Moderna, ansiosa e temerosa por seu futuro.

Nossa missão, como imitadores de Cristo, consiste em amar o pecador e conversar com ele sobre o plano que Satanás usa para afastá-lo cada vez mais do centro da vontade de Deus.

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[1] – Bíblia – Nova Versão Internacional – Português. YouVersion – on line
[2] – Grenz, Stanley J. Pós-Modernismo – Um guia para entender a filosofia do nosso tempo. São Paulo, Editora Vida Nova, 1997.
[3] – Bauman, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro, Editora Zahar, 2001.
[4] – Burke, John. Proibida e entrada de pessoas perfeitas. São Paulo, Editora Vida Acadêmica, 2006.

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