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A morte da Teologia

A essência teológica tragada pela Pós-Modernidade promovendo a liquefação da substância doutrinal

 

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Fevereiro/2019

Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma lanterna e correu ao mercado e pôs-se a gritar incessantemente: ‘procuro Deus! Procuro Deus?’ – E como lá se encontrassem muitos daqueles que não criam em Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada. Então ele está perdido? Perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? Disse um outro. Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou num navio? Emigrou?

– Gritavam e riam uns para os outros.

O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar.

‘Para onde foi Deus?’, gritou ele, ‘já lhes direi!

Nós o matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? Que fizemos nós, ao desatar a terra de seu sol? Para onde se move ela agora? Para onde nos movemos nós? Para longe de todos os sóis? Não caímos continuamente? Para trás, para os lados, para a frente, em todas as direções?

… Não vagamos como que através de um nada infinito?

… Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina?

– também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! Nós o matamos.

Nietzsche[0]


Deus está morto, teria dito Nietzsche. A razão foi declarada morta por Schaeffer. A angústia humana teria decretado a morte do homem, segundo Kierkagaard. Estes dias escrevi sobre a morte da democracia. Agora, com profundo pesar, apresento argumentos que oficializam a morte da Teologia.

Estes argumentos estão por todas as partes e qualquer um, que tenha interesse no assunto poderia constatá-la a qualquer tempo. No entanto, trago aqui, argumentações de autores que pesquisam este tema há anos e corroboram com tal fato.

Antes, porém, esclareço o subtítulo deste artigo: A essência teológica tragada pela Pós-Modernidade que promove a liquefação da substância doutrinal.

Por essência teológica, entendo que é a substância doutrinal bíblica reflexiva e crítica cultural fundamentada em valores e princípios bíblicos e cristãos; e, essa ‘substância doutrinal’ foi e, está sendo tragada pela Pós-Modernidade. No entanto, não só pela Pós-Modernidade, o fato iniciou-se há muito tempo atrás, mas agora, de forma mais aparente, temos certa facilidade em oferecer o ‘atestado de óbito’ para a teologia. Essa, Pós-Modernidade, tem promovido uma ‘liquefação teológica’ (empresto o termo ‘liquefação’ do Sociólogo Zygmunt Bauman), no sentido de erosão do conteúdo cognitivo da fé cristã, caracterizando assim, a essência da sua morte.

 

TEOLOGIA DA MORTE DE DEUS[1]

A teologia da morte de Deus (ou teologia radical) é a forma como ficou conhecido um movimento teológico, relacionado ao conceito de secularização, que se deu durante a década de 1960. A partir de um artigo publicado pela revista Time com o título Christian Atheism: The “God Is Dead” Movement (em inglês, “Ateísmo cristão: o movimento ‘Deus está Morto'”), quatro teólogos foram agrupados no movimento: Thomas Altizer, Paul van Buren, William Hamilton e Gabriel Vahanian. No entanto, apenas Hamilton e Altizer se enquadram em todas as características do movimento.

Hamilton e Altizer distinguiram dez acepções distintas para a expressão “morte de Deus”. As duas primeiras são:

Que Deus não existe e jamais existiu. Esta é a posição do ateísmo tradicional.

 

Que outrora existiu um Deus; adorá-lo, glorificá-lo, crer nele, não era somente possível, mas até necessário; hoje, porém, esse Deus não existe mais. Esta é a posição da morte de Deus, quer dizer, da teologia radical.

A expressão “morte de Deus”, portanto, “é a constatação da ruptura que a modernidade introduz na história da cultura com o desaparecimento dos valores absolutos, das essências, do fundamento divino”.

Todos que falaram da morte de Deus, o fizeram em dado contexto de desilusão em que passava a sociedade. Uma desilusão, de conceitos, de estruturas… uma desilusão por perda dos referenciais até ali concebidos e estruturados com certos ou verdadeiros…

 

SEM LUGAR PARA A VERDADE[2]

Isso posto, vou utilizar como base para minha tese da ‘morte da teologia’ o livro: ‘Sem lugar para a verdade – O que aconteceu com a teologia evangélica?[2] O autor desta obra é David F. Wells, que é professor de Teologia Sistemática no Gordon Conwell Theological Seminary. O livro foi publicado pela editora Shedd e conta com 359 páginas. No entanto, não farei uma resenha completa do livro, apenas utilizarei citações específicas, que entendo estar relacionada com a proposta da minha tese.

Como professor, o autor faz sua reflexão baseada na morte ou desaparecimento da disciplina de Teologia no meio acadêmico e aponta, com regularidade, este vazio para a igreja, ou seja, também na igreja se pode observar que a ‘teologia está morta’.

À medida que o texto avança, citarei pontualmente, outros autores que corroboram com este pensamento.

Nas primeiras páginas Wells, argumenta que:

‘a diferença na orientação quanto à modernidade leva a diferenças categóricas na fé. A corrente da ortodoxia histórica que antes alimentava a alma evangélica agora está obstruída por um mundanismo que muitos não reconhecem como mundanismo por causa da inocência cultural com que ele se apresenta. Com certeza, essa ortodoxia nunca foi infalível nem deixava de ter máculas e pontos fracos, mas estou convencido que a emancipação de seu cerne teológico que boa parte do evangelicalismo está efetuando resulta em maior fidelidade bíblica. Na verdade, o resultado é exatamente o oposto. Agora temos fidelidade bíblica, menos interesse na verdade, menos seriedade, menos profundidade e menos capacidade de comunicar a Palavra de Deus para nossa geração de uma forma que ofereça uma alternativa ao que ela já pensa. A ortodoxia mais antiga era guiada pela paixão pela verdade, e era por isso que só podia se expressar em termos teológicos. O evangelicalismo mais recente não é guiado pela mesma paixão pela verdade, e é por isso que com frequência não tem interesse teológico’. WELLS[2] p.24

O autor esclarece que sua abordagem neste livro, será abrangente e que não está interessado apenas na teologia, mas na teologia guiada pela paixão da verdade e não só no evangelicalismo, mas no evangelicalismo como o veículo contemporâneo para expressar uma ortodoxia protestante histórica.

Para tanto, faz três perguntas importantes e balizadoras:

Por que essa ligação entre o passado e o presente foi interrompida?

 

Por que a paixão pela verdade diminuiu?

 

Por que os evangélicos contemporâneos supõem que sua fé sobreviverá intata sem essa paixão e sem essa teologia?

O autor declara que encontrar respostas para estas questões, que são complexas, é muito difícil, mas que está claro que o desaparecimento da teologia, tanto na igreja quanto no meio acadêmico, é em si mesmo um dos frutos da modernização e que tem pouco a ver com a forma como a teologia é construída em si mesma. E que, além disso, o esclarecimento dos laços entre o evangelicalismo contemporâneo e a ortodoxia histórica não é resultado de uma estratégia deliberada, mas antes, um dos efeitos da modernidade que os evangélicos aceitam inconscientemente.

Antes de continuar, trago aqui a definição da palavra teologia:

A palavra teologia compartilha de um sufixo logia, como ocorre na designação de muitas disciplinas e ciências, tais como biologia, fisiologia e antropologia. O sufixo vem da palavra grega logos, que achamos no começo do evangelho de João: ‘No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a palavra era Deus’ (Jo 1.1). O vocábulo grego logos significa ‘palavra’, ou ‘ideia’, ou, como um filósofo a traduziu, ‘lógica’ (é também desta palavra que obtemos a nossa palavra lógica). Portanto, quando estudamos biologia, estamos considerando a palavra ou a lógica da vida. Antropologia é a palavra ou a lógica sobre os humanos, sendo antropos a palavra grega que significa homem. A primeira parte da palavra teologia vem do vocábulo grego theos, que significa ‘deus’. Portanto, a teologia é a palavra ou a lógica sobre Deus. SPROUL[3]

Assim, teologia é o estudo da essência do próprio Deus e da percepção da vida e realidade com Deus no centro.

Para alinhar ainda mais o pensamento, destaco a diferença entre Religião e Teologia. Religião, está no contexto da sociologia ou antropologia e tem a ver com a expressão de fé, ou seja, com as práticas de adoração. A teologia, como já vimos, é o estudo da natureza e caráter de Deus, é um estudo ‘sobrenatural’ que lida com o que está acima e além das coisas deste mundo.

Dessa forma, para os Cristãos, tudo o que aprendemos – economia, filosofia, biologia, matemática – deve ser entendido à luz da realidade abrangente do caráter de Deus, tanto que, na Idade Média, a teologia foi chamada ‘a rainha das ciências’, e a filosofia, ‘sua criada’. Hoje, a rainha foi deposta de seu trono e, em muitos casos, mandada ao exílio, e um suplantador reina. Assim, substituímos a teologia pela religião. SPROUL[3]

Segundo João Calvino: Toda teologia, quando separa de Cristo, não é apenas vã e confusa, mas também louca, enganadora e falsa.

 

SINAIS INICIAIS DA PATOLOGIA TEOLÓGICA

No movimento modernista do século XIX, reconhece, em geral, que a antiga fé não podia mais ser preservada da mesma forma. Tinha de ser encontrada uma nova ‘síntese’ entre a modernidade e a fé em que ambas as ideias fossem ‘amparadas’, mas das quais, nada essencial seria perdido’; essa foi a afirmação de Tyrrell, citado por Wells.

Havia uma intenção, por parte dos modernistas, em preservar a fé e não destruí-la. No entanto não foi exatamente isso que aconteceu. A doutrina teria sido desacreditada pelo mundo moderno e o iluminismo, anteriormente, impossibilitou que teologia sistemática se firmasse sobre os próprios pés na perspectiva intelectual.

Segundo o autor: ‘Foi essa fraqueza, essa perda de vigor que levou Peter Berger a zombar que hoje os teólogos têm tanto medo de ser arrastados para a vala pela modernidade que decidiram entrar nela por conta própria’. WELLS[2] p. 139

Ainda, segundo Wells:

… as antigas afirmações doutrinais, confissões de fé do período da ortodoxia clássica e também os credos do período patrístico que tentavam resumir a verdade bíblica são agora tipicamente considerados ingênuos e completamente desatualizados. Eles não servem mais como o meio para definir o que tem de ser confessado, mesmo que ainda sejam conservados para propósitos litúrgicos. A ideia toda de confissão, mudou a verdade com uma referência externa e objetiva de intuição interna e subjetiva. Além disso, depois de Kant, é o sujeito pensante que define que tem de ser crido, não alguma autoridade externa. Essa mudança da autoridade externa para a autoridade interna foi focada de forma contundente no debate cada vez mais unificado durante o século XIX sobre qual é a ‘essência’ do cristianismo’. WELLS[2] p. 140

Mais tarde…,

no final do século, Adolf Harnack, em seu livro: O que é cristianismo?, traçou o surgimento e queda da fé cristã. Isso teria acontecido devido ao declínio do hábito prejudicial que surgiu no começo de vestir a fé cristã com as formas de pensamento da época, sobretudo a forma de pensar helenista e, que o caráter absoluto da fé cristã foi poluído por essa união com o relativo. No entanto, essa união produziu a doutrina dogmática, intelectualizada e externa que se passava como autoritativa, e as pessoas da igreja foram informadas que tinham de concordar com essa doutrina a fim de se tornarem fiéis. Esse desenvolvimento destruiu a essência da fé cristã. Harnack, popularizou a ideia da busca pela essência da fé na experiência interior e não na doutrina exterior; na autoconsciência religiosa, e não nos credos. Harnack não podia mais acreditar no ‘cristianismo dogmático’, e que deveria ser substituído pelas confissões pessoais que emergem da espiritualidade interior individual. WELLS[2] p. 141

Parece um pouco difícil entender esse passado frente à forma como o evangelho é anunciado hoje. Sendo a essência do evangelho o próprio Cristo, prega-se e anuncia-se o deus pessoal. Para alguns, este fato é totalmente natural viver a vida com Cristo distante dos ‘dogmas cristãos’ ou, escolher quais se quer acreditar e quais rechaçar.

Assim, vemos, naquela época, nascer o ‘movimento’ que despertou o indivíduo encontrar um Cristo relativizado pela consciência pessoal. A criatura pensando poder moldar o criador.

Surge então, a igreja liberal com o sugestivo lema: ‘Vida, não doutrina’.

 

A MORTE DE TEOLOGIA

A teologia não está morta por ela mesma, ou por qualquer outro segmento que a queira ver morta, mas, porque a própria igreja perdeu a capacidade de atualizá-la e contextualizá-la.

O vazio presente que a ausência teológica produz, ecoa nas ações que igreja moderna produz. Ações despidas de intencionalidade missionária e de evangelização. Ações que procuram mais agradar os fiéis, mantendo-os perto e atuantes na frequência semanal.

Uma igreja sem a teologia produz um vazio na vida moderna, onde a nova realidade escrita afastada de Deus, tem dificuldades para atualizar as ações de Cristo, produz mensagens redundantes e sem efeitos práticos, totalmente irrelevantes para a atualidade.

Hoje é difícil não perceber o desaparecimento da teologia da vida da igreja, e a orquestração desse desaparecimento por alguns de seus líderes, mas, por mais estranho que seja, é difícil de provar. É difícil não perceber esse fato no mundo evangélico – na adoração vazia tão prevalecente, por exemplo, na mudança de Deus para o ego como o foco central da fé, na pregação psicologizada que segue essa mudança, na erosão da convicção da fé, em seu pragmatismo estridente, em sua incapacidade de pensar de modo incisivo sobre a cultura, em seu júbilo no irracional. E a fé teria feito poucas dessas capitulações para a modernidade não fora sua capacidade para a verdade reduzida. Não é difícil ver esses fatos; evitá-los que é difícil. WELLS[2] p.115  

Uma igreja alimentada de excitação não é nenhuma igreja do Novo Testamento. O desejo de estimulação superficial é uma marca segura da natureza caída, a mesma coisa que Cristo morreu para nos libertar. A. W. Tozer

No século XIX, em particular, houve inúmeras tentativas de estabelecer um sistema de moral que não precisasse assumir a existência de Deus e sua revelação. Esses experimentos foram todos conduzidos por uma pequena vanguarda composta de filósofos, romancistas e artistas. O que muda é que agora toda a sociedade se tornou de vanguarda. É o todo da sociedade que agora está envolvido nesse experimento maciço de fazer o que nenhuma outra civilização importante fez – reconstruir-se de forma deliberada e autoconsciente sem alicerces religiosos. E o ponto principal desse esforço é uma a verdade em qualquer sentido absoluto se foi. A verdade, como a vida, está fraturada. Como a experiência, está desconjuntada. Como nossa percepção de nós mesmos, é incerta. A verdade assume diferentes aspectos conforme nos movemos entre as pequenas unidades de sentido que compõem nossa experiência social. Ela, como nossas maneiras, tem de ser adaptada a cada contexto e tem de permanecer flexível. É simplesmente um tipo de etiqueta. Não tem nenhuma autoridade, nenhum senso de justiça porque não encontra mais qualquer apoio em algo absoluto. Se a verdade convence é só porque nossa experiência dá a ela poder de persuasão – mas amanhã nossa experiência pode ser diferente. – WELLS[2] p. 105 e 106

Para Wells a era terapêutica suplanta a confissão e, com uma pregação, cada vez mais, psicologizada, o verdadeiro sentido da fé cristã se torna privatizado, a confissão é eviscerada e a reflexão reduzida ao pensamento sobre o ego.

Cada vez mais a redução da reflexão sobre Deus e a amplitude da reflexão sobre o ego, o trabalho de relacionar a verdade da Palavra de Deus com os processos da vida moderna são abandonados, assim a teologia morre. Esse processo de redução parte da academia e adentra à prática das igrejas.

Perdeu-se, com o passar dos anos, a convicção da expressão apostólica de fé cristã, tão defendida e promotora da reforma protestante, segundo alguns, isso se deu pelo pluralismo religioso. Agora privamo-nos do processo da verdade, que se tornou relativa.

No tempo presente, de exaltação do saber, das descobertas, das invenções práticas, não é mais possível perceber uma verdade única, ela foi pulverizada, e com ela, me parece, todo o sistema de crença que, por anos, manteve viva a expressão de fé, calcada numa teologia sóbria e bíblica. Assim, constituiu-se uma divisão entre a modernidade e a fé cristã na perspectiva teológica.

Na visão do autor, sempre que a modernidade penetra na igreja, o espaço social até mesmo dos cristãos que concordam com toda a gama de elementos do credo, são esvaziados de teologia. Para ele, até mesmo as crenças desses indivíduos são puxadas para a margem da vida, onde o papel central e integrante que ocupavam antes, são confiscados por outros interesses.

Assim, segundo o autor:

‘É nesse sentido que é apropriado falar do desaparecimento da teologia. Não é que os elementos do credo evangélico tenham se desvanecidos; eles não se desvaneceram. O fato de eles serem professados, no entanto não significa necessariamente que a estrutura da fé protestante histórica ainda está intata. A razão é que simplesmente enquanto esses itens da crença são professados, eles estão cada vez mais distantes do centro da vida evangélica em que definem o que era essa vida, e eles agora são relegados à periferia, na qual perdeu seu poder de definir como deve ser a vida evangélica’. WELLS[2] p. 129

Isso é fácil de se comprovar. Observe ao longo das semanas, o conteúdo das pregações e as ‘programações’ da igreja. Muitas, se não todas, estão voltadas para si. São redundantes, muitas vezes superficiais, com pouco ou nenhum aprofundamento teológico. Em períodos comemorativos as apresentações são hoje, mais necessárias do que o momento da reflexão bíblica, carregando ainda o nome de culto. Espiritualiza-se o banal. Criam rituais vazios de conteúdos teológicos, ou, misturam-se conceitos de uma ou outra expressão de fé nominando-as de cristã.

A profissionalização, faz com que líderes almejem cada vez mais ascender a cargos principais, pois há melhoras significativas em seus benefícios e salários. Essa característica, própria da urbanização, criou suas próprias culturas que por sua vez, provocaram mudanças profundas na morfologia da crença cristã. Isso não só abraça a modernidade, como a introduz no ponto principal da igreja, o púlpito.

‘A teologia, despojada da substância doutrinal e tornada não reflexiva e não crítica da cultura, agora transforma ‘virtude’ em um conjunto de habilidades diárias para obter sucesso em um mundo de tecnologia e fartura. Agora saber como ser religioso significa saber como ‘fazer isso’ em um mundo pragmático e decididamente hostil aos princípios absolutos e sentido transcendente e, por conseguinte, conduzido pela busca de sentido na autorrealização’. WELLS[2] p. 134

 

NÃO É AVIVAMENTO QUE A IGREJA PRECISA

Quem nunca pensou que a igreja, na Pós-modernidade, precisa de um avivamento? No entanto, se pararmos para refletir mais, podemos chegar à conclusão que um avivamento na igreja poderia não resolver em nada. Ao projetarmos que é a igreja que precisa de um avivamento, podemos nos colocar fora do contexto e crer que ‘eu’ não precise deste avivamento, somente ‘eles’.

Em uma era secularizada, com tetos cognitivos baixos e ancoradouros perdidos, temos de nos voltar para nós mesmos. Buscamos agora nosso acesso para a realidade apenas por meio do ego, tendo decidido que Deus e sua revelação não são mais pertinentes. Isso quer dizer que quando esvaziamos nosso mundo de Deus e dos absolutos que dirigem a vida humana, não abrimos com isso grandes buracos na arquitetura da nossa vida interior; antes, rearranjamos tudo para acomodar essas perdas. Compensamos tudo que perdemos nos voltando para nós mesmos. Carl Jung formulou esse tipo de compensação em uma lei: ‘Para toda peça de vida consciente que perde sua importância e valor […] surge uma compensação no inconsciente’. WELLS[2] p. 180

Particularmente, acredito que esta afirmação se dá quando o individuo passa a justificar sua ausência na igreja que frequentava. Há relatos de erros por toda parte. Nada era como antes, as pessoas mudaram etc. Perece que levantou-se o tapete e o que foi encontrado em baixo, não condiz com a ética moral cristã. Aquele período que outrora era bom, perdeu sua importância e valor; ao justificar a ausência cria-se uma compensação no inconsciente que chancela a decisão como assertiva.

A igreja precisa de reforma, não de avivamentos. Rever a postura da igreja na sociedade à luz da Palavra de Deus. Procurar ‘interpretar’ os hábitos do mundo moderno (ou Pós-Moderno) e confrontá-los com a Palavra de Deus. Como igreja, buscar, com mais afinco a aprofundamento o estudo bíblico como elemento fundante da fé e prática.

Quero dar um salto nas páginas do livro de Wells e encerrar minha tese, com o conteúdo apresentado por ele, seguido das minhas conclusões. Antes, porém, recomendo a leitura do livro, fonte de inspiração que traz luz e nos ajuda na compreensão do porquê certas situações acontecem no meu da igreja nos dias de hoje.

Assim, argumenta Wells:

Quando se fala da morte da teologia, fala-se de algo que tem ramificações profundas. A teologia não está morrendo porque o meio acadêmico falhou em desenvolver procedimentos adequados para reconstruí-la, mas porque a igreja perdeu sua capacidade para isso. E enquanto alguns abençoam essa perda como um passo à frente em direção à esperança de nova vitalidade evangélica, ela é de fato um sinal da aproximação da sua morte. O vazio da fé evangélica sem a teologia ecoa o vazio da vida moderna. As duas escolheram atravessar um mundo em que Deus não tem lugar, em que a realidade é reescrita, em que Cristo passou a ser redundante; e sua Palavra, irrelevante; assim, a igreja agora tem de encontrar novos motivos para sua existência.

 

A menos que a igreja evangélica recupere o conhecimento do que significa viver diante de um Deus santo, a menos que a igreja evangélica em sua adoração reaprenda a humildade, o maravilhamento, o amor e o louvor, a menos que consiga encontrar mais uma vez um propósito moral no mundo que repercuta a santidade de Deus e seja, portanto, profundo e inflexível – a menos que a igreja evangélica faça todas essas coisas, a teologia não terá lugar em sua vida. Mas o reverso também é verdade. Se a igreja conseguir encontrar um lugar para a teologia ao voltar seu foco para a centralidade de Deus, se ela repousar na suficiência dele, se recuperar sua fibra moral, então ela terá algo a dizer par um mundo afogado agora na modernidade. E há uma grande ironia aí. Os que são mais relevantes para o mundo moderno são os mais irrelevantes para o propósito moral de Deus, mas os que são irrelevantes no mundo em virtude de sua relevância para Deus têm, de fato, mais a dizer para o mundo. Estes são na verdade os únicos que têm algo a dizer ao mundo. Foi isso que Jesus declarou, o que a igreja em seus melhores momentos sabe, e o que podemos, pela graça de Deus, ainda descobrir mais uma vez. WELLS[2] p. 343

Apesar do cenário ser um pouco tenebroso nas argumentações da morte de teologia, entendo e observo sinais desta fragilidade, mas ainda creio que ela ainda não morreu para algumas igrejas. Para outras, já está morta e enterrada.

A intenção, neste texto, é despertar para acontecimentos, dentro e fora da igreja, no que diz respeito a como ela está estruturada de forma burocrática e organizada, tem se comportado e, como percebo a participação de alguns membros que buscam apenas ‘boas palavras para massagear seu ego’.

É fácil nos acomodarmos. Quer seja por não querermos nos envolver, quer por entendermos que não teremos êxito em qualquer ação reparadora. Se apenas participamos dos eventos ano após ano, sinto dizer-lhe que, se este é o seu caso em que não só a teologia está morta, mas toda a trindade, e os valores absolutos da fé cristã, acompanhadas das essências do fundamento divino. Sim, você matou a teologia.

Agora, se você ainda busca por conhecer, cada vez mais a Palavra de Deus, não se conforma com improdutividade de determinadas igrejas e luta constantemente para fazer a vontade de Deus, então, a teologia está mais viva do que nunca.

Mas não se preocupe (tanto) pois nem a teologia e muito menos a igreja serão ‘mortas’ neste mundo! Temos a promessa de Jesus que: as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela’ – Mateus 16:18b.[4]

Então, continue preparando-se, pois, a luta continua!

 

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[0] – NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. São Paulo: Cia. das Letras, 2001, p. 64-65

[1] – TEOLOGIA DA MORTE DE DEUS. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia_da_morte_de_Deus

[2] – WELLS, David F. Sem lugar para a verdade – O que aconteceu com a teologia evangélica? São Paulo, SP: Shedd Publicações, 2017.

[3] – SPROUL, R. C. Somos todos teólogos: uma introdução à teologia sistemática. São José dos Campo, SP: Editora Fiel. 2017

[4] BÍBLIA SAGRADA. Português – Nova Versão Internacional – NVI-P – Versão On Line – You Version

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1 Comentário

  1. Jeziel T Pereira

    Profundo. Para mim Deus não está morto e a Teologia está mais viva do que nunca. Mas as constatações apresentadas são verdadeiras e se multiplicam vorazmente. Prossigo em acatar a exortação bíblica: “Aquele que está de pé, cuide para que não caia”.

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