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A prática da Missão Integral

“Por que vocês me chamam ‘Senhor, Senhor’ e não fazem o que eu digo?

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Setembro/2018

“Por que vocês me chamam ‘Senhor, Senhor’ e não fazem o que eu digo?
Eu mostrarei com quem se compara aquele que vem a mim,
ouve as minhas palavras e as pratica.
É como um homem que, ao construir uma casa,
cavou fundo e colocou os alicerces na rocha.
Quando veio a inundação, a torrente deu contra aquela casa,
mas não a conseguiu abalar, porque estava bem construída.
Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as pratica
é como um homem que construiu uma casa sobre o chão, sem alicerces.
No momento em que a torrente deu contra aquela casa,
ela caiu, e a sua destruição foi completa”.
 
Palavras de Jesus – Lucas 6.46 e 49 – NVI-P

Artigos e outras reflexões são escritos a cada dia sobre a temática da Missão Integral – MI. Alguns continuam a apresentar textos bonitos e bem escritos que nos satisfazem com sua leitura e nos dão uma sensação de que, ou estamos próximos dessa prática ou, tão distantes que nos sentimos seres de outro planeta pensando que nunca conseguiremos realizar esta missão em sua integralidade.

Trago aqui, uma descrição, inicial sobre o significado de Missão Integral, por Renê Padilha7 em seu livro: O que é Missão Integral?

Embora a expressão ‘missão integral’ esteja na moda, o modelo de missão que ela representa não é recente. Com efeito, a prática da missão integral remonta a Jesus Cristo e à igreja do primeiro século. Além disso, cabe destacar que, atualmente, há um crescente número de igrejas que a praticam sem necessariamente usar a expressão para referir-se ao que estão fazendo: ‘missão integral’ não faz parte do seu vocabulário. E é óbvio que a pratica da missão integral é muito mais importante que o uso deste conceito para referir-se a ela.

A expressão ‘missão integral’ foi gerada principalmente no seio da Fraternidade Teológica Latino-americana há mais ou menos duas décadas. Ela foi, na realidade, uma tentativa de destacar a importância de conceber a missão da igreja dentro de um marco de referência teológico mais bíblico que o ‘tradicional’, ou seja, o que se havia instalado nos círculos evangélicos, especialmente por influência do movimento missionário moderno. Nos últimos anos, tem se difundido de tal modo que a tradução literal da expressão para o inglês, integral mission, está incorporando-se, pouco a pouco, ao vocabulário daqueles que, fora do âmbito dos evangélicos de fala espanhola, defendem uma aproximação mais holística à missão cristã. C. Renê Padilla, 2009 p.13-14

Para aqueles que se satisfazem apenas com a leitura, o sentimento que de a igreja está, de alguma forma, sendo impactada por este conteúdo, o faz pensar que a prática também é uma realidade.

Para outros que acreditam que estão distantes dessa verdade, o sentimento de revolta, e até mesmo de dúvida é inevitável.

  • Como lidar com a proposta da MI nos dias de hoje?
  • Será que este ‘formato’ de missão não se adéqua mais nos dias atuais?

Essas e outras dúvidas já devem ter alcançado aqueles que, começaram ‘seguir’ Jesus e hoje são seus ‘imitadores’. Leia o artigo: Há muito tempo deixei de seguir Jesus

Bem, o que podemos perceber é que alguns equívocos sobre a MI estão justamente, em minha opinião, na forma como entendemos o conteúdo bíblico.

Assim, quero sugerir algumas afirmações que considero poder balizar o conteúdo deste texto:

1 – Ser Cristão é somente uma prática de participação dominical.

2 – Estou muito preocupado com meus afazeres diários; leitura e reflexão da bíblia, não fazem parte da minha agenda. 

3 – Os ministérios desenvolvidos ‘dentro’ da minha igreja já são suficientes. 

4 – Missão Integral é uma ação à parte, para quem tem ‘chamado’ específico para trabalhar com os pobres.

Convido você a iniciarmos essa investigação pelo Antigo Testamento.

No livro de Gênesis, quando lemos sobre a criação, vemos que Deus prepara um cenário, composto e organizado de tal forma que irá atender o ser humano de forma integral. Um cenário de paz e harmonia. Uma paz, no sentido mais amplo possível.

Há várias citações para a palavra PAZ na bíblia, que foram transliteradas da palavra Hebraica ‘Shalom’.

Aqui temos algumas citações:

A palavra paz do AT – Shalom – significa “completude”, “saúde” e “bem-estar”. Pode significar prosperidade material (Sl 122.6ss.) ou segurança física (Sl 4.8), mas também pode significar bem-estar espiritual associado à retidão e à verdade (Sl 85.10; Is 57.19ss.). Era considerada um presente de Deus, de modo que a era messiânica seria um tempo de paz (Is 11.1ss.). O NT mostra o cumprimento dessa esperança; Jesus trouxe a paz (Lc 1.79) e a concedeu a seus discípulos (Lc 7.50). A palavra do NT contém todo o significado de Shalom e está ligada à retidão (Rm 14.17). O sacrifício de Cristo pelo pecado traz às pessoas paz com Deus (Rm 5.1) seguida de paz interior (Fp 4.7) não turvada pelas lutas do mundo (Jo 14.27). Jesus morreu em parte para criar a paz entre as pessoas (Ef 2), mas elas devem promovê-la ativamente [grifo meu] (Ef 4.3) já que o Espírito as enche dela (Gl 5.22). (WILLIAMS, 2000, p. 280).10

O mundo criado e existindo na mais perfeita ordem, o Shalom estabelecido.

Para Castro4, Shalom:

Representa um estado de integridade, harmonia, inteireza e unidade. Relaciona-se também à ideia de bem-estar social, prosperidade, plenitude de vida, realização de vida pessoal, comunitária e nacional. (CASTRO, 2000, p. 96).

Tudo o que foi criado, foi colocado à disposição do homem para que ele o utilizasse, cuidasse e administrasse.

Assim, a sabedoria do criador não se limitou em atender apenas a área espiritual do ser humano, mas, de forma majestosa, deu a ele alimento, água, ar e tudo mais.

Ainda, para atendê-lo de forma mais completa, o criador lhe deu uma auxiliadora.

Pode-se observar aqui que o ser humano é uma unidade de corpo, alma e espírito, inseparáveis entre si.

Dessa forma, pode-se imaginar que as necessidades básicas do ser humano foram muito bem atendidas.

Passado algum tempo, mesmo com a queda, estas necessidades não foram extirpadas, mas foram de certa forma, “prejudicadas” em sua essência.

Corrobora com este pensamento o autor Juan Stam quando afirma:

A criação não se contempla separada da salvação, nem a salvação separada da criação. Por isso, a teologia bíblica da criação é absolutamente indispensável para nossa fiel compreensão tanto do Evangelho como da missão da Igreja. Jamais podemos entender biblicamente a salvação e a missão se desvincularmos da criação. (STAM, apud PADILLA, 2006, p. 30).6

Pode-se entender, a partir dessa citação, entre outras coisas, que o propósito da missão da Igreja não é somente a salvação da alma, mas a transformação da pessoa na sua totalidade, de modo que esta transformação glorifique a Deus em todas as dimensões da vida humana.

No Antigo Testamento, verificamos que existe uma clara atenção de Deus pelos pobres e oprimidos. Não significa dizer que Deus faça acepção de pessoas ou de classe social. Mas, com certeza, Ele olha de maneira especial para aqueles que não têm vez, que não têm voz, que não têm suas necessidades básicas atendidas.

Observam-se várias citações Bíblicas que nos é apresentada as causas, realidades e consequências da pobreza.

Outras citações falam do oprimido, do humilhado, do desesperado, do que clama por justiça, do fraco, do desamparado, do destituído, do carente, do pobre, da viúva, do órfão e do estrangeiro.

Podemos encontrar outras citações, como, por exemplo, no livro de Isaías, capítulo 58, versículos 2 ao 12.

Pois dia a dia me procuram; parecem desejosos de conhecer os meus caminhos, como se fossem uma nação que faz o que é direito e que não abandonou os mandamentos do seu Deus. Pedem-me decisões justas e parecem desejosos de que Deus se aproxime deles. “Por que jejuamos”, dizem, “e não o viste? Por que nos humilhamos, e não reparaste?” Contudo, no dia do seu jejum vocês fazem o que é do agrado de vocês, e exploram os seus empregados. Seu jejum termina em discussão e rixa, e em brigas de socos brutais. Vocês não podem jejuar como fazem hoje e esperar que a sua voz seja ouvida no alto. Será esse o jejum que escolhi, que apenas um dia o homem se humilhe, e se incline a cabeça como o junco e se deite sobre pano de saco e cinza? É isso que vocês chamam jejum, um dia aceitável ao Senhor? “O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo o jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo? Aí sim, a sua luz irromperá como a alvorada, e prontamente surgirá a sua cura; a sua retidão irá adiante de você, e a glória do Senhor estará na sua retaguarda. Aí sim, você clamará ao Senhor, e ele responderá; você gritará por socorro, e ele dirá: Aqui estou. “Se você eliminar do seu meio o jugo opressor, o dedo acusador e a falsidade do falar; se com renúncia própria você beneficiar os famintos e satisfazer o anseio dos aflitos, então a sua luz despontará nas trevas, e a sua noite será como o meio-dia. O Senhor o guiará constantemente; satisfará os seus desejos numa terra ressequida pelo sol e fortalecerá os seus ossos. Você será como um jardim bem regado, como uma fonte cujas águas nunca faltam. Seu povo reconstruirá as velhas ruínas e restaurará os alicerces antigos; você será chamado reparador de muros, restaurador de ruas e moradias. (Isaías 58.2-12 – NVI).

Texto impactante e até mesmo constrangedor para nossa prática atual.

Outra citação pertinente está no livro de Ezequiel, capítulo 16, versículo 49, que afirma que o pecado de Sodoma, além do orgulho, da vaidade e da imoralidade, era que aquela cidade, sendo rica e abastada, nunca atendeu o pobre e o necessitado: “não fortalecia a mão do infeliz e do pobre.” (Ez 16.49).

Assim, pode-se observar que as orientações de Deus para seu povo no Antigo Testamento, apresentavam os objetivos de cuidado e zelo para aquele que sofria e era oprimido.

Vamos agora observar alguns conteúdos no Novo Testamento, precisamente no evangelho de João, capítulo 10, versículo 10b, Jesus diz: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.”

O entendimento desse versículo é tão desafiador quanto é a prática da MI da Igreja neste mundo em transformação.

A vida em abundância está relacionada com o Messias, que por sua vez está relacionado com o anuncio do Profeta Isaías, descrito no capítulo 9, versículo 6, lemos:

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Isaías 9.6.

“Príncipe da Paz”, refere-se a Jesus como “Sar-Shalom”: o que faz sentido porque, nEle, pela fé nEle, pela obediência aos Seus mandamentos, podemos achar “Shalom,” inteireza, perfeição e bem-estar para nossa vida.

Este mesmo pensamento é abordado por Clóvis Castro4, citando Moltmann:

No Novo Testamento o vocábulo “paz” não se refere a uma ordem qualquer imposta ao caos nem implica unicamente na supressão de todos os conflitos, se não que supõe a nova ordenação escatológica de todas as coisas e, por conseguinte há de estar em consonância com a paz de Deus neste mundo de discórdia e antecipá-la, já que a comunidade vive da paz de Deus através da soberania de Cristo. (MOLTMANN, apud CASTRO, 2000, p. 98).

No entanto, este anúncio deve ser ainda mais ampliado à medida que se estabelece a soberania de Cristo em nossas vidas.

Ao buscarmos imitar a Cristo, buscamos viver uma vida que agrada a Deus de forma integral, ou seja, ela quer para si os “benefícios” da vida transformada porque nos arrependemos dos nossos pecados e recebemos o perdão.

Dessa forma, encontramos aqui um elemento norteador da Missão Integral realizada por Jesus, conforme destaca Jorge Barro2:

Jesus desenvolveu sua missão a partir da proclamação de arrependimento e perdão. “Arrependimento e perdão de pecados” é um outro modo de dizer “salvação”. […] Salvação é integral, holística, e tem consequências espirituais, morais e sociais. Jesus andou com os pecadores, doentes, excluídos e com as pessoas sem esperança da sociedade palestina. (BARRO, 2002, p. 84).

Uma vida de dedicação e serviço fará do discípulo um imitador de fato. Fará de um mero ajuntamento de pessoas uma Igreja que pratica a Missão Integral, encarnada na sociedade e disposta a transformá-la.

Pode se afirmar também que a prática da Missão Integral terá como consequência o crescimento diaconal da Igreja, que será evidenciado, como afirma Barro:

Por crescimento diaconal entendemos a intensidade do serviço que a Igreja presta ao mundo, como prova concreta do amor redentor de Deus. Esta dimensão envolve o impacto que o ministério reconciliador da Igreja exerce sobre o mundo, o seu grau de participação na vida, conflitos, temores e esperanças da sociedade e na medida em que seu serviço ajuda a aliviar a dor humana e a transformar as condições sociais que têm condenado milhões de homens, mulheres e crianças à pobreza. (COSTAS, apud BARRO, 2002, p. 106).

É, todavia, nesta dimensão que será necessário viver como Igreja, num mundo que, a todo o momento, passa por transformações.

Há a necessidade de entendermos que a prática da MI está ligada diretamente na ação que Deus espera de seu povo.

Passa pela compreensão que este povo foi restaurado pela morte e ressurreição de Jesus.

Mostra que é uma ação prática e envolvente na comunidade local. Não são ações vazias de significados, porém, concretas e com objetivos definidos.

Não é uma ação realizada por uma única pessoa, mas por uma equipe coesa, transformada pela ação de Deus em suas vidas, que estão dispostas de forma solidária e apaixonada expressar o amor de Deus.

O autor Júlio Zabatiero9, amplia e corrobora com este conceito de prática ao afirmar que:

Todo fazer teológico deve ser prático, ou seja, todo fazer teológico tem como finalidade orientar a ação cristã presente em resposta ao agir de Deus – no passado, presente e futuro. Zabatiero, 2005, p. 125

No passado, Deus levantava um profeta para denunciar as corrupções e as idolatrias do povo, assim deve ser no presente.

Da mesma forma como Deus anuncia um renovo através do envio Jesus, propondo a restauração do Shalom.

No entanto, num mundo de constantes mudanças, dificuldades surgem e confunde a muitos.

Devemos ter atenção para que não sejamos moldados a viver uma espiritualidade de ritos e praticas pouco ou nada eficazes para o Reino de Deus.

O autor Hordern6, nos dá uma pista de forma como não permitir que esta ‘modelagem’ aconteça:

A Teologia deve levar em consideração as condições contemporâneas. Nunca bastará que simplesmente se repita o que disseram os teólogos do passado. Eles foram realmente grandes, pelo fato de que fizeram aplicações da Palavra de Deus atendendo às exigências de sua época. Em vez de ficarmos repetindo suas ideias, o que temos de fazer é realizar para o nosso tempo o que eles entenderam necessário para o tempo quando viveram. Barth insiste que seus alunos leiam muito, tendo a Bíblia numa das mãos e os jornais na outra. (HORDERN, 2003, p. 167).

Mesmo assim, em minha opinião, penso que o entendimento da MI do povo de Deus está ofuscada por iniciativas farisaicas, superficiais e muitas vezes assistencialistas.

Nossa participação está concentrada em nossa frequência nos cultos e missas dominicais. Temos dificuldades para conciliar horários para agir de forma diferente.

Vivemos um cristianismo de ‘fachada’, sem práticas efetivas.

O autor Hering, cintando David Bosch3, diz que: “… a missão é, simplesmente, a participação das pessoas cristãs na missão libertadora de Jesus.” (HERING, apud BOSCH, 2002, p. 619).

Ao mesmo tempo que esta afirmação é simples, torna-se complexa. No lugar que nos organizarmos e investir recursos para a prática efetiva do que sabemos que devemos fazer, gastamos recursos promovendo encontros, seminários, cursos e palestras, para dizer aos nossos irmãos o que precisamos fazer.

Podemos refletir melhor sobre esta prática, você não acha?

No entanto, ao estudar a bíblia, entendo que, como Povo de Deus, as orientações do que devemos fazer já foram passadas para a Igreja há mais de 2000 anos.

Stan Rowland8, em seu livro, Evangelismo e Ação Social, nos diz que:

O amor de Deus pelo homem é o agente fundamental de mudança na vida das pessoas. O caráter de Deus é o amor. Seu propósito e Seu desejo são nos regenerar como indivíduos, de maneira que Ele possa canalizar Seu amor através de nós para um mundo faminto de amor. (ROWLAND, 2004, p. 262).

Todavia, há em cada cristão uma tensão entre o novo e o velho homem. Algo que muitas vezes impede uma prática mais efetiva de vida eclesiástica, social e, até, dificultando o amor ao próximo.

Note que Rowland fala que o ‘propósito de Deus é nos regenerar’, ou seja, temos aqui, mas não só, que a questão está em nós e não somente e exclusivamente ao grupo que pertencemos.

A situação, agora fica mais tensa e talvez, complique-se ainda mais. Veja o que diz Ronaldo Cavalcante5:

Pessoalmente a vida do cristão pode ser descrita como uma batalha, uma tensão entre o antigo e o novo. Há um clima constante de inadequação: estamos no novo éon, mas o antigo ainda subsiste. Assim, o cristão testemunha em si a luta entre os desejos da carne e a vontade do Espírito que nele habita, mas que não consumou sua obra, o que acontecerá mediante a ‘ressurreição do corpo’, quando então o cristão terá um ‘corpo espiritual’ inteiramente dirigido pelo Espírito. (CAVALCANTE, 2007, p. 82).

Penso que uma prática efetiva se dê a partir do individuo transformando pelo poder do Espirito Santo. A tensão, de fato, existe, mas creio que não devemos se ‘conformar’ e se ‘acostumar’ com práticas que não correspondam com a expansão do Reino.

Daí uma reflexão simples.

Cada vez que você for para um culto ou missa, ou até participar de algum evento, pergunte-se a si mesmo:

Em que este conteúdo impactará minha vida para que o Reino de Deus seja expandido na Terra?

A afirmação de Jesus quando disse que seus discípulos deveriam ser Sal e Luz, foi sem dúvidas, desafiador para aquela época.

Seus discípulos, penso eu, não tinham uma rede de amigos como temos hoje. Eles não tinham uma vida ‘religiosa’ como esta que a sociedade cristã forjou até nossos dias.

Penso que, no primeiro momento, toda a responsabilidade estava nos ombros daqueles que queriam obedecer ao mestre, era individual.

Assim, esse testemunho e essa luta constante deve levar o cristão ao encontro do outro de forma integral. A missão integral, começa primeiro por mim!

A partir de uma mente renovada pela ação do Espírito Santo, o cristão e sua Igreja devem procurar enxergar sua comunidade com outros olhos.

Olhos de compaixão, de amor, de solidariedade, para que assim, possam, de forma concreta, se encarnar na vida comunitária e promover as mudanças necessárias, motivando os membros das Igrejas a serem testemunhas e promotores do Shalom de Deus, para que a missão integral se concretiza de forma eficaz e o Reino de Deus se expanda.

Conclui-se, portanto, que a Missão Integral da Igreja é totalmente bíblica; consequentemente, não deve ser uma filosofia cega ou um modismo passageiro.

A Igreja precisa evangelizar sua comunidade, prestando a ela um serviço responsável, cumprindo a tarefa de Cristo. Missão Integral traduz-se como a ação do povo de Deus na comunidade. É a práxis cristã restaurando o Shalom.

É a busca e o estabelecimento da justiça de Deus. É a cosmovisão Teísta sendo fortalecida e desenvolvida na Igreja e, consequentemente, na comunidade.

São ações fundamentadas no amor a Deus e ao próximo, ações que, ao longo do tempo, criam vínculos e estabelece relações duradouras.

A Igreja deve se encarnar na comunidade de tal forma que caminhe com ela, devendo assim, exercer ações críticas e proféticas, que denunciem a injustiça humana e anunciem a justiça de Deus.

É uma Igreja que é transformada e procura transformar os outros. É uma Igreja que anuncia e vive o Evangelho de vida abundante porque o Shalom de Deus chegou até ela, e ela, vive a Missão Integral.

Portanto, a MI só se realiza quando uma igreja recebe com discernimento o testemunho da Escritura, obedece e dispõe-se a assumir o custo da fidelidade a Deus.

A MI nasce de cada página sagrada, concretiza-se em nossos contextos históricos e se orienta colocando todas as coisas sob o senhorio de Jesus Cristo.

O Espírito Santo abre nosso entendimento e nos sustenta com sinais que anunciam a presença libertadora do Reino de Deus.

Cabe, no entanto, a cada um aceitar o desafio e cumprir com sua responsabilidade como povo de Deus.

Há a necessidade de compromisso ainda maior, por parte dos Cristãos (os imitadores de Cristo) com as comunidades, onde o próprio Deus os colocou, para que ainda hoje, como povo de Dele, se estabeleça a Sua PAZ, que é o Seu Shalom ‘conceitual’, sendo a sua prática a Missão Integral do povo de Deus.

Procurai a Paz (Shalom) da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao SENHOR;
porque na sua Paz vós tereis Paz (Shalom). Jeremias 29.7

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1Jesus – Mateus 10.38 – NVI

2 – BARRO, Jorge Henrique. De cidade em cidade: elementos para uma teologia bíblica de missão urbana em Lucas-Atos. Londrina: Descoberta, 2002.

3 – BOSCH, David J. Missão transformadora – Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão – São Leopoldo: Sinodal, 2002.

4 – CASTRO, Clóvis Pinto. Por uma fé cidadã – a dimensão pública da Igreja. São Paulo: Loyola, 2000.

5 – CAVALCANTE, Ronaldo. Espiritualidade cristã na história – das origens até santo Agostinho. São Paulo: Paulinas, 2007.

6 – HORDERN, William E. Teologia Contemporânea. São Paulo: Hagnos, 2003.

7 – PADILLA, C. René. El proyecto de Dios y lãs necessidades humanas. Buenos Aires: Kairós, 2006.

8 – ROWLAND, Stan. Evangelismo e Ação Social – Multiplicando luz e verdade. Londrina: Multiplicação da Palavra, 2004.

9 – ZABATIERO, Júlio. Fundamentos da teologia prática. São Paulo: Mundo Cristão, 2005.

10 – WILLIAMS, Derek. Dicionário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2000.

Foto: Cal Bianco – Capela na Base de JOCUM em Recife/PE

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