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Meu apego a poder e dinheiro é um vício

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Março/2019


Recente veio a público o depoimento do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, preso há três anos. Ele afirmou, em depoimento, que resolveu revelar o esquema de corrupção que operou em seu governo para ficar bem consigo mesmo. Sentindo-se mais aliviado, Cabral confessou que seu erro foi: “meu apego ao dinheiro e ao poder é um vício”.

Cabral afirmou também que sente uma dor “muito profunda” pelo que fez. “Foi muito para quem tem uma carreira política reconhecida pela população. É uma dor muito profunda”.

Chamou minha atenção não somente por assumir sua culpa, mas também pelo reconhecimento do vício. Até hoje, não me recordo ter ouvido nos depoimentos dos atuais presos por corrupção no Brasil, qualquer deles ter assumido sua culpa com declaração semelhante.

No entanto, já ouvi:

“Veja, estou muito tranquilo com relação a todas estas denúncias, pois sou inocente”

“Não tem nenhum motivo para sermos presos porque não cometemos nenhum delito”

E outras tantas que também nos fazem pensar:

“Como pode, com tantas provas jurídicas e tantas denúncias, ele tem a audácia em afirma que não fez nada?”

Dizem que em cemitérios só há santos enterrados e que em prisões, todos são inocentes!

O que realmente quero destacar é a declaração de Sérgio Cabral. Por um lado, acho interessante que ele tenha entendido e reconhecido que foi este ‘vício’ que o levou à situação de encarcerado perante a justiça e a sociedade brasileira.

O que observo em nossa nação, é que por muito tempo vigorou, com muita força, a lei de Gerson: “O importante é levar vantagem em tudo, certo?” Para quem não sabe, Gerson foi um grande jogador de futebol, nas décadas de 60 e 70, participante da seleção Brasileira que derrotou o México na copa de 1970. Por ser fumante, foi convidado para fazer um comercial na televisão dos cigarros da marca Vila Rica. Neste comercial, cunhou esta frase, que até hoje ressoa Brasil afora.

Há outra situação interessante: alguns jornalistas televisivos, que ressaltam a inteligência dos políticos que estão presos, afirmando serem inteligentes, habilidosos, articulados etc. Ora, em meu entendimento, se estes elogios fossem verdadeiros, não deveriam estar na cadeia para cumprir penas de vários anos.

Talvez, estamos contemplando a geração de Gerson, se diluindo no resultado de suas ações pois, deliberadamente, decidiram ‘levar vantagem em tudo’.

Outro pensamento que permeiam nossa cultura é aquela atribuída a Nicolau Maquiavel: “Os fins justificam os meios”. Se bem que não foi exatamente isso que ele teria dito, mas sim, teria sido a interpretação de que para manter o poder o Príncipe deve desenvolver características tidas como “não éticas”, como a crueldade e hipocrisia.

Esta frase é comumente associada ao autor italiano graças a este trecho do capítulo XVIII da sua obra O Príncipe:

“…Nas ações de todos os homens, em especial dos príncipes, onde não existe tribunal a que recorrer, o que importa é o sucesso das mesmas. Procure, pois, um príncipe, vencer e manter o Estado: os meios serão sempre julgados honrosos e por todos louvados, porque o vulgo sempre se deixa levar pelas aparências e pelos resultados, e no mundo não existe senão o vulgo…”

Muitas pessoas, ainda navegam por estes mares e utilizam destas artimanhas para conquistar seus objetivos, dessa forma, querem mostrar que está disposta a fazer qualquer coisa para conseguir algo que se deseja. De forma geral, esta frase era mais usada em contextos políticos, mas foi adotada em outras áreas, até mesmo dentro do espaço eclesiástico. Já ouvi, um determinado ‘líder’ usa-la num contexto inusitado de discussão entre ‘irmãos’.

Em 1988, Richard J. Foster lançou seu livro: Dinheiro, Sexo e Poder, no Brasil, pela editora Mundo Cristão, que se tornou clássico da literatura evangélica. Neste material, Foster afirma que Dinheiro, Sexo e Poder sempre estiveram envolvidos em praticamente todos os movimentos sociais, políticos e econômicos. Que levaram pessoas da Ascensão ao declínio e a derrocadas de homens, mulheres, famílias, etnias, povoados e nações. Sabemos, no entanto, que o dinheiro, o sexo e o poder não são, em si, maléficos por sua natureza, mas o que determina seus efeitos são os princípios e o caráter de quem deles dispõe.

“Quer conhecer o caráter de uma pessoa? Dê a ela algum poder.” Abrahan Lincoln

Na bíblia há várias narrativas onde o poder corrompeu algumas pessoas. O dinheiro, talvez, tenha sido a opção de Judas. O sexo, levou Amnon, filho de Davi, a se ‘apaixonar’ por sua irmã, Tamar e tanto fez que a transformou em objeto de seu prazer (2ª Sm 13, 1-20), conforme escreveu José Neivaldo de Souza no artigo: Luxúria: uma paixão antiga, que recomendo a leitura.

Aquele, pois, que pensa estar em pé veja para que não caia. 1ª Coríntios 10.12

Interessante notar que, na sequência deste versículo, o apostolo Paulo ainda admoesta:

Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar. 1ª Coríntios 10.13

Sim, espero que toda uma geração abandone estes pensamentos de ‘levar vantagem em tudo’ e que ‘os fins justificam os meios’. Que deixe isso no passado e que assuma, cada um a sua responsabilidade e cumpra com seu chamado. Se político, com suas atribuições, se cidadão, com suas responsabilidades, não só para si, mas para com seu próximo num convívio mais humano e digno de respeito mútuo.

No entanto, é melhor reconhecer o erro o quanto antes e procurar ajuda, do que, depois de comprovado algum fato… depois da humilhação e vergonha, declarar…

padeci, pois não reconheci que estava viciado em poder e dinheiro.

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BÍBLIA. Português. Bíblia on line – Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>

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