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Não sabes o que pedes

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Maio/2019


Mas não será assim entre vós… Marcos 10.43a

Eles estavam caminhando há um tempo juntos! Naquele último momento o mestre já havia falado sobre o divórcio, falou sobre não impedir as crianças de aproximarem dele e conversou com um jovem que cumpria a lei, mas era muito rico e, isso estava atrapalhando seu entendimento, tanto é que este jovem ficou muito triste pela resposta do mestre e saiu desiludido. Na sequência, o mestre falou, pela terceira vez, sobre como seria sua morte e, então, Tiago e João, num rompante, pedem ao mestre que lhes conceda algo muito importante. Eles queriam se assentar ao lado dele quando em sua glória, um à direita e outro à esquerda. O mestre, com carinho, explica que isso não compete a ele, mas ao Pai. Os demais, que escutavam a conversa, ficaram indignados com tamanha ousadia dos dois, pois estariam em numa posição igual à do mestre, com autoridade sobre todos. Para encerrar este ato, o mestre explica, de forma prática como eles deveriam proceder. A caminho de Jericó, encontram o cego Bartimeu, filho de Timeu, que estava sentado à beira da estrada pedindo esmolas.

Percebendo a presença do mestre, o cego começa a gritar, chamando o mestre de Filho de Davi. Sim, filho do Rei Davi! Tamanha era a importância deste, que por ali andava. Os discípulos bem que tentaram calar sua voz, mas, clamava cada vez mais alto. Sob orientação, os discípulos o conduzem até ao mestre, ao que este lhe pergunta: O que queres que eu te faça? Bartimeu responde: Raboni, que eu volte a enxergar! E, com apenas uma frase, o mestre ordena: “Vai em frente, a tua fé te salvou!”. No mesmo instante Bartimeu recuperou a visão e passou a segui-los pelo caminho.

Pedro, Tiago e João, já haviam presenciado outras cenas impressionantes com o mestre. Sentiam-se mais próximos e, talvez por isso, este pedido distinto e despido de humildade dos irmãos. Toda esta cena está relatada, com mais detalhes, no evangelho de Marcos, capítulo 10, a partir do versículo 1 até o 52.

Pedidos fora de contexto

O pedido dos irmãos Tiago e João, parecem fora de contexto. Mas creio que, por estarem mais íntimos do mestre, lhe pareceu bem poder usufruir de tal autoridade com ele. No entanto, eles poderiam pedir mais sabedoria, ou talvez mais ‘poder’ para realizar curas, para poder ajudar mais as pessoas que tanto precisavam.

Parece que eles deram voz ao desejo mais íntimo do seu coração. Eles ansiavam por um poder celestial, igual ou semelhante ao do mestre. Aqui, temos um ponto muito interessante que me vem à mente. Você se lembra quando o mestre estava para iniciar seu ministério e foi conduzido ao deserto para que o diabo lhe tentasse? Foi justamente a possibilidade de obter ‘mais poder’, ofertada pelo inimigo, que o mestre prontamente negou.

Os irmãos, no entanto, ainda no processo de aprendizagem, cedem ao anseio humano de obter mais poder, mesmo que fosse após a morte física. Por estar fora de contexto que o mestre queria mostrar, recebem as explicações de como devem agir, se quiserem ser imitadores de Jesus. O mestre com amor, explica e demonstra:

Quem quer ser o mais importante, seja o escravo dos outros.

Às vezes, nós também passamos por isso em nossa caminhada e, pedimos coisas sem sentido. A nossa alegria, no entanto, é que o Pai sabe o que realmente necessitamos. Apesar de ficarmos frustrados por não receber o que pedimos, pouco tempo depois, compreendemos que não ter recebido o que pedimos, foi a melhor opção.

Não sabemos o que pedir

São infinitas possibilidades que poderíamos pedir, se olharmos com os olhos naturais. As necessidades são muitas e algumas, extremas. Individualmente, cada um de nós, em momentos distintos, precisamos de algo ou queremos alguma coisa. Seja uma nova oportunidade de trabalho, a cura para nosso corpo ou para algum de nossos familiares. A lista se amplia a cada momento ao pensarmos em necessidades. O pior é que julgamos ser merecedores.

Semelhante aos irmãos, nossa visão é limitada e, por vezes, somos induzidos erroneamente por nosso coração, e nos damos conta que não sabemos o que pedir. Para alguns, a reação, quando chega neste entendimento pode ser: Se não sei o que pedir, não pedirei nada!

Creio que os ensinos de Jesus não sejam estes, mas aqueles de nos esforçar para compreender a nossa real necessidade, ou daqueles que amamos, para então, clamar ao Pai. De nada adianta, por exemplo, pedir para que o Pai me dê saúde física, se eu mesmo não faço nada para me manter saudável. De nada adianta, pedir por um novo trabalho, se não saio de casa para buscar novas oportunidades ou, busco pedir uma nova promoção se não busco por melhorar minha qualificação profissional.

Então, o que realmente importa?

Ao concentrarmos no foco de Jesus, vamos perceber sua identificação com os mais fracos, oprimidos, desprovidos não só de recursos, mas também de saúde e conhecimento. Aos olhos do mestre, devíamos olhar para nossa cidade e, chorar, pois, ela é um dos grandes celeiros destas necessidades, nos dias de hoje. Aos olhos do mestre, devíamos perceber mais a necessidade dos outros do que as nossas próprias. Devíamos servir mais do que querer ser servido. Poderíamos desenvolver mais a compaixão por aqueles que se perdem na cegueira deste mundo, do que esperar que tenham compaixão de nós.

O que realmente importa é que busquemos mais a humildade no serviço, suprimindo o desejo do coração em tornar-se importante a qualquer custo.

O que realmente importa é buscar torna-se sábio na verdade divina, estudando diligentemente a Palavra de Deus, para assim, não ser tragado por qualquer vento de doutrina falsa.

O que realmente importa é que em nós prevaleça o amor, o perdão e a humildade em reconhecer que nem se quer sabemos o que devemos pedir.

quem desejar tornar-se importante entre vós deverá ser servo; e quem ambicionar ser o primeiro entre vós que se disponha a ser o escravo de todos. Marcos 10. 43 e 44

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BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos King James – BKJ 1611 – Niterói, RJ : BV Films Editora, 2018.

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