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Pelo vale da sombra da morte

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Maio/2019


Porquanto tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do bom ânimo provenientes das Escrituras, mantenhamos firme a nossa esperança. Romanos 15.4

O salmo 23 é um salmo de louvor e adoração, que reconhece a bondade e o cuidado de Deus. Escrito por Davi, assim como outros 71, que compõe um dos livros da Bíblia. É o mais lembrado, e talvez o que mais tem comentários. Muitos o utilizam impresso, gravado em objetos e exposto em algum canto da casa ou do comércio. Sem dúvidas, é um salmo muito bonito e com profundidade riquíssima, se refletido com atenção. Os salmos representam uma coleção da poesia hebraica inspirada, que mostra a adoração e descreve as experiências espirituais do povo, separado por Deus. É a parte mais íntima do Antigo Testamento e nos dá uma revelação do coração do judeu, percorrendo todas as escalas de suas experiências com Deus e a humanidade. Em outros livros do Antigo Testamento, observamos Deus falando com os homens das mais distintas formas, nos salmos, vemos o homem buscando palavras para falar com Deus.

Observe abaixo, o conteúdo desta belíssima poesia que nos inspira a cada dia:

O Senhor é o meu pastor; nada me falta. Em verdes prados me faz descansar, e para águas tranquilas me guia em paz. Restaura-me o vigor e conduz-me nos caminhos da justiça por amor do seu Nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem. Tu prepararás um banquete para mim na presença dos meus inimigos; me honrarás, a felicidade e a misericórdia certamente me acompanharão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor por dias sem fim. 

Ansiando por dias melhores

Neste salmo, Jeová é representado como o pastor, o guia de seu povo. Nestas palavras, somos conduzidos a pensar menos em nossas atitudes para com Ele e mais em Sua responsabilidade por nós. O rebanho não guarda o pastor, mas o pastor guarda o rebanho. Somos impulsionados a olhar para longe de nós mesmo e a confiar que Ele nos guarda e protege. Declarar através das nossas palavras para que Deus veja nossos desejos e, ao expressarmos que confiamos nEle, vai nos ajudar na compreensão de como teria sentido Davi aos escrever este belo poema. Com Deus, os ‘pastos’ são mais verdejantes; suas águas são tranquilas; os caminhos do Senhor são de justiça e paz. Ele nos refresca quando estamos exaustos; nos dá a cura quando estamos doentes; restaura nosso vigor; nos conduz pelos caminhos certos; nos acompanha no vale da sombra da morte; e nos ajuda a refletir sobre aquelas pessoas que nos agridem, trapaceiam e nos traem; Ele nos motiva a caminhar em frente, pois demonstra a sua bondade e cuidado, dia após dia. Ela coloca em nosso coração o anseio por dias melhores de bondade e misericórdia.

Ainda que tenhamos isso em mente e, até mesmo, possamos a declamar este salmo, a vida nos apresenta situações difíceis e delicadas. Momentos de solidão, medo, angústias, abandonos, traições e fraquezas físicas, emocionais e até mesmo, espirituais, são constantes provas que vivemos em nossa intimidade. Nos fechamos em nós mesmo, por acreditar que ninguém precisa saber deste sofrimento ou, por alguma vergonha. São poucas as palavras para uma oração; os joelhos doem; as lágrimas são os alimentos destes dias de sombras e tristezas, que persistem e parecem não ter fim; são os vales da sombra da morte, relatado pelo rei Davi, no referido salmo.

Ainda que…

Ao mesmo tempo em que escrevo estas linhas, me vem à mente o texto do profeta Habacuque, no capítulo 3, versículos 17 ao 19, que diz:

Ainda que a figueira não floresça, nem haja uvas nas videiras; mesmo falhando toda a safra de olivas, e as lavouras não produzam mantimento; as ovelhas sejam sequestradas do aprisco, e o gado morra nos currais, eu, todavia, me alegrarei no SENHOR, e exultarei no Deus da minha salvação! Yahweh Adonai, o SENHOR Soberano, é a minha força! Ele faz os meus pés como os do cervo; faz-me caminhar por lugares altos. 

O livro de Habacuque apresenta o quadro de um homem de Deus, embaraçado com a aparente tolerância de Deus pela iniquidade. O profeta está rodeado por todos os lados da injustiça triunfante e não castigada. A princípio seu clamor pelo julgamento, aparentemente não é ouvido por Deus. Quando, finalmente, é respondida a sua oração e pronunciado o julgamento, ele fica ainda mais surpreso, porque os agentes do julgamento de Deus, os caldeus, são mais ímpios e mais dignos de castigo do que suas vítimas. Habacuque está cheios de dúvidas. Mas, felizmente ele leva a sua inquietação a Deus que logo a dissipa, e apresenta uma solução dos seus problemas resumida na declaração que é o coração do livro – ‘O justo viverá pela fé’ (2.4). Isso quer dizer que, por mais tenebroso que se apresente o futuro e por mais triunfante que pareça o mal, o justo não deve julgar pelas aparências, mas sim pela Palavra de Deus. Embora os ímpios vivam e prosperem nas suas impiedades e os justos sofram, estes últimos devem viver uma vida de fidelidade e confiança. O profeta muito aprendeu com esta lição, porque, embora sua profecia comece com mistérios, perguntas e dúvidas, termina com certeza e afirmações de fé. (Cf. PEARLMAN, 1999, 169).

Perceba a semelhança com o salmo de Davi e a riqueza destes dois maravilhosos conteúdos. Sem dúvidas o estudo da Palavra de Deus deve ser constante da vida do Cristão para que sua mente e seu coração transbordem de ensinamentos e de verdades divinas. Nos momentos de angústias, seremos consolados pelo Espírito de Deus, à medida que recordamos dos estudos e dos textos bíblicos. Ainda que nos falte a alegria… Ainda que os inimigos se levantem contra nós… Ainda que mundo pareça sem solução… Ainda que o choro não sesse… devemos nos alegrar do Senhor e exultar no Deus da nossa salvação!

Aproveite os momentos

Há um livro muito interessante de Spencer Johnson, intitulado ‘Picos e Vales’ (recomendo a leitura). Johnson também escreveu o best seller: ‘Quem mexeu no meu queijo?’ (outra leitura recomendada). Picos e Vales relata a história de um jovem que vive infeliz até encontrar um senhor que mora em uma montanha. Após conversar sobre suas experiências, o jovem aprende a refletir sobre os caminhos que escolheu e percebe que, entre dois picos, há sempre um vale: um momento em que devemos avaliar nossas conquistas e nos concentrar nos objetivos que desejamos alcançar. Nesta história, podemos aprender que através dos momentos bons e ruins que acontecem, devemos aprender sobre como nos sentimos por dentro e como reagimos aos acontecimentos externos. Tenha atenção e perceba que alguns dos erros que cometemos nos momentos bons de hoje poderão gerar momentos ruins no futuro e as ações sábias que realizamos nos momentos ruins de hoje, poderão gerar os momentos bons de amanhã.

Todos passam por Picos e Vales

É natural que todo mundo tenha picos e vales no trabalho e na vida pessoal. Picos e vales não são apenas os momentos bons e ruins que acontecem em nossa vida. É também o modo como nos sentimos internamente e, como reagimos aos acontecimentos externos. Picos e vales estão ligados. Picos são os momentos em que você valoriza o que tem. Vales são os momentos em que você sente falta do que não tem. Os acontecimentos externos, geralmente, estarão fora do nosso controle, mas podemos controlar nossos picos e vales pessoais com o que acreditamos e com o que fazemos. Muitas vezes o caminho para fora do vale surge quando decidimos ver as coisas de outra forma. Podemos transformar nosso vale num pico quando identificamos e tiramos proveito do bem oculto nos momentos ruins.

Entre cada pico sempre haverá vales

O modo como administramos o momento que estamos em cada vale, durante nossa jornada, vai determinar o tempo que levaremos para atingir o próximo pico. Esse momento pode ser um período para descansar, refletir e se renovar, como o mito da Fênix (Morrendo um pouco a cada dia). É possível ter menos momentos ruins quando valorizamos e administramos os bons momentos com sabedoria, refletindo nas tomadas de decisões e procurando realizar movimentos assertivos. O motivo mais comum pelo qual ficamos pouco tempo num pico, pode ser a arrogância que se disfarça de segurança. O motivo mais comum pelo qual ficamos muito tempo no vale, pode ser o medo de tomar decisões; este medo se disfarça de conforto. Nos vales, tenha consciência que são momentos e que, por algum tempo determinado, passará. Procure perceber se o sofrimento deste vale, não está sendo oportunizado para despertar para uma verdade que você poderia estar ignorando.

Por sua vez, podemos criar um pico quando seguimos verdadeiramente nossa visão sensível. O medo diminui e nos tornamos mais tranquilos e bem-sucedidos. É possível sair de um vale mais rápido quando conseguimos sair de nós mesmos: no trabalho, sendo mais úteis, na vida pessoal, sendo mais amorosos.

Superando os desafios dos vales

Para administrar os momentos bons e ruins, procure fazer da realidade sua amiga. Se estiver temporariamente num pico ou num vale, pergunte-se: Qual é a verdade nesta situação?

Para sair mais rapidamente de um vale, procure identificar e aproveitar o bem oculto neste momento ruim. Relaxe e reconheça que os vales têm fim. Faça o oposto daquilo que o pôs no vale. Não seja tão centrado em si mesmo; seja mais útil no trabalho e mais amoroso na vida pessoal e com você mesmo. Evite comparações e descubra o bem que jaz oculto no momento ruim, aproveitando-o sem demora em benefício próprio.

Para permanecer mais tempo num pico, procure valorizar e administrar seus momentos bons com sabedoria. Seja humilde e agradecido. Continue fazendo as coisas que o levaram até lá. Continue fazendo tudo cada vez melhor, aperfeiçoe-se. Faça mais pelos outros. Poupe recursos para os vales que estão por vir.

Para chegar a seu próximo pico, procure seguir sua visão sensível. Imagine-se usufruindo de um futuro melhor em detalhes tão específicos e verossímeis que em breve terá prazer em fazer o que for preciso para chegar lá, de forma consciente, ética e segura.

Para ajudar outras pessoas a superarem seus picos e vales, compartilhe estas orientações, ajudando-as a perceber que os momentos bons e ruins são naturais em nossa jornada e que, o que fará a diferença, será a forma como vivemos e percebemos cada um deles no momento que surgirem.

Saindo do vale da sombra da morte

Ao caminhar por este vale, clame por segurança, orientação e a presença de Deus em sua vida, assim como fez o rei Davi.

Durante a jornada neste vale, não busque por comparações com outras pessoas ou, fique relembrando outros momentos, pois isso poderá lhe trazer mais tristezas e sofrimentos. Fale e procure reagir como fez o profeta Habacuque ao dizer: Ainda que esta situação perdure… Eu me alegrarei no Senhor!

Ao vivenciar momentos no vale, procure entender suas reações e promova movimentos gentis de mudanças de atitudes e posturas. Reflita sobre as ações que te levaram para este momento, aproveite e aprenda com estas lições.

Erga a cabeça e siga em frente!

Enfrente este momento, pois com toda a certeza, ele passará e você ficará mais forte!

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BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos King James – BKJ 1611 – Niterói, RJ : BV Films Editora, 2018.

JOHNSON, Spencer. Picos e Vales : aproveite os momentos bons e ruins em seu trabalho e em sua vida – Rio de Janeiro, RJ : BestSeller, 2009.

PEARLMAN, Myer. Através da Bíblia : Livro por livro – São Paulo, SP : Editora Vida, 1999.

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