Menu fechado

O que eu faço, tu não o sabes agora

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Dezembro/2019


Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado. Colossenses 1:13

No primeiro artigo, intitulado ‘O melhor presente de Natal: O último Adão’ fiz uma comparação entre o primeiro Adão e Jesus, comparando as tentações de ambos, bem como a desobediência de Adão e suas consequências e, como oposto, a obediência de Jesus e a graça estendida. No segundo artigo, intitulado ‘Através do último Adão, um novo povo é constituído’ discorri sobre algumas características, prefiguradas no Cristo de Deus que moldou e constituiu um novo povo, com o povo de Israel, destacando a similaridade das tentações no período de 40 anos, que os judeus passados no deserto e os 40 dias que Jesus passou no deserto.

Neste artigo, quero destacar que, passadas as tentações de Jesus, no avançar da história bíblica e, depois de vários sinais realizados por Ele, muitos eram céticos e o queriam morto. Até mesmo os discípulos tinham dificuldades para compreender os sinais e estavam em dúvidas sobre a real natureza desse descendente de Nazaré. Vamos observar agora, como se desenrolou outros momentos na vida e ministério do Filho de Deus e seu impacto na sociedade da época e sobre as gerações futuras.

 

A MISSÃO DO CRISTO DE DEUS

Depois de passadas as tentações, Jesus retorna para Nazaré. Num determinado sábado, estava na sinagoga e levantou-se para ler. A Ele foi entregue o livro do profeta Isaías. Abriu o livro e leu o seguinte trecho:

O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para pregar o evangelho aos pobres; ele enviou-me para curar aos quebrantados de coração, para pregar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, e para pôr em liberdade os oprimidos, para pregar o ano aceitável do Senhor.[1]

Após esta leitura, todos com os olhos fitos nele, aguardavam seus argumentos. Para a surpresa de alguns e extrema ira de outros, Ele afirma que: Neste dia se cumpriu esta escritura em vossos ouvidos.[2]

Esta foi a primeira declaração pública de Jesus, logo depois dos 40 dias de jejum e provações. Revigorado e convicto de sua missão, fala primeiro para os descentes dos judeus, dentro da sinagoga, no dia santo, em sua cidade natal. Dessa forma, não só consolida sua palavra como a torna cumpridora das profecias[3], o Messias será chamado Nazareno, descente de Davi, capacitado pelo Espírito de Deus e que traz a salvação para todo aquele que crer.

 

OS SINAIS DADOS POR CRISTO 

Jesus, em seu ministério, realizou muitos milagres, mostrando assim poder nas doenças, na natureza e até mesmo sobre a morte ressuscitando mortos. Os milagres de Jesus, narrados nos Evangelhos, não relatam e nem representam a totalidade de maravilhas que Ele realizou durante seus 3 anos e meio de pregação e ensinos sobre o Reino de Deus, acompanhado pelo grupo de seus discípulos.

Segue aqui a relação dos milagres de Jesus relatados nos Evangelhos, em ordem cronológica. Todos estes milagres tinham, como resultado a glória a Deus e a consolidação do poder de Jesus como Seu Filho, Messias e Salvador.

A água transformada em vinho. João 2:1-11

Cura do filho de um funcionário real. João 4:46-54

A pesca milagrosa. Lucas 5:1-11

A cura de um endemoninhado. Marcos 1:21-28

A cura da sogra do Pedro. Marcos 1:30-31

A cura de um leproso. Marcos 1:40-45

A cura de um paralítico. Marcos 2:1-12 (Cafarnaum)

O homem de mão ressequida. Marcos 3:1-5

A tempestade acalmada. Marcos 4:35:41

O endemoninhado Gadareno. Marcos 5:1-21

A mulher que tinha um fluxo de sangue. Marcos 5:25-34

A filha de Jairo. Marcos 5:22-24 e 35-43

O centurião de Cafarnaum. Mateus 8:5-13

A cura de dois cegos. Mateus 9:27-31

A cura de homem mudo é endemoninhado. Mateus 9:32-33

A cura de um paralítico. João 5:1-15 (Betesda)

O filho de viúva de Naim. Lucas 7:11-17

O endemoninhado cego e mudo. Mateus 12:22

A 1ª multiplicação dos pães. Mateus 14:13-21

Andando por cima do mar. Mateus 14:22-32

A cura do endemoninhado epilético. Mateus 17:14-18

A moeda na boca dum peixe. Mateus 17:27

A mulher siro-fenícia. Marcos 7:24-30

A cura de um surdo e gago. Marcos 7:31-37

A 2ª multiplicação dos pães. Marcos 8:1-10

A cura de um cego de Betsaída. Marcos 8:22-26

A cura de um cego de nascença. João 9

A cura de uma mulher paralítica. Lucas 13:11-17

A cura de um hidrópico. Lucas 14:1-4

A cura de dez leprosos. Lucas 17:11-19

A ressurreição de Lázaro. João 11

Bartimeu, o cego, curado. Marcos 10:46-52

A figueira seca. Marcos 11:12-14 e 20

A cura da orelha, de Malco. Lucas 22:50-51

A 2ª pesca maravilhosa. João 21:1-14

Estes foram os milagres relatados nos Evangelhos, no entanto, João destaca que:

Jesus fez diante de seus discípulos, muitos outros sinais ainda, que não se acham escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome[4].

Mas, que outros sinais teria feito Jesus?

Creio que, seguindo a metodologia de como realizava seus milagres tudo se concentrava em ampliar a Lei dada por Deus a Moisés, demonstrando em sua prática o amor incondicional.

 

O CUMPRIMENTO E A AMPLIAÇÃO DA LEI 

Ao se concentrar na letra da Lei, podemos ser duros, insensíveis e frios para as tomadas de decisões e análise dos fatos. É oportuna a citação de Paulo, quando escreveu sua carta aos Gálatas: ‘de modo que a lei foi a nossa pedagoga[5], para trazer-nos a Cristo, a fim de que pudéssemos ser justificados pela fé.[6]

Essa Lei servia para controlar a conduta dos israelitas, e, quando acatada, protegia-os contra danos físico e moral. Conforme Moisés disse ao povo:

Vê, eu coloco diante de ti nesse dia a vida e o bem, e a morte e o mal; por isso, te ordeno hoje, que ames ao Senhor teu Deus, que andes nos seus caminhos, e que guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos para que possas viver e te multiplicar; e o Senhor teu Deus te abençoará na terra que vais possuir[7]

A Lei, dada por Deus a Moisés, tinha a intenção em manter os israelitas unidos como povo, mesmo durante os períodos que foram conquistados e passaram a ser dominados por estrangeiros. Procurava preservar as condições necessárias para o aparecimento do Messias, protegia a Palavra da verdade de Deus e impedia que a adoração verdadeira fosse totalmente perdida de vista.

Esta Lei, conforme está escrito em Hebreus, capítulo 10, versículo 1:

‘Porque a lei, tendo a sombra das coisas boas que virão, e não a imagem exata das coisas, não pode nunca, com os mesmos sacrifícios que eram continuamente oferecidos de ano em ano, aperfeiçoar os que se achegam’.

A Lei, como sombra, dava uma ideia da forma geral ou do desenho da realidade, porque Jesus colocou as coisas prefiguradas pela Lei no domínio da verdade real.

Assim, o apóstolo João declara, no capítulo 1, versículo 17:

‘Porque a Lei foi dada por meio de Moisés, mas graça e verdade vieram por meio Jesus Cristo’

Dessa forma, Jesus amplia a Lei acrescentando o amor incondicional ao perdoar pecados que, se descobertos, o pecador sofreria pena de morte. Amou aqueles que a própria sociedade judaica excluía, rompeu os padrões de relacionamento com os Samaritanos e as mulheres, ousou cuidar da casa do seu Pai quando expulsou os comerciantes que exploravam o povo[8].

Um novo mandamento eu vos dou: Que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que vós também ameis uns aos outros[9]

 

O PREPARO DOS DISCÍPULOS

Um pouco antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que havia chegado o tempo em que deixaria este mundo e iria para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.

Estava sendo servido o jantar, e o Diabo já havia induzido Judas Iscariotes, filho de Simão, a trair Jesus. Jesus sabia que o Pai havia colocado todas as coisas debaixo do seu poder, e que viera de Deus e estava voltando para Deus; assim, levantou-se da mesa, tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura. Depois disso, derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha que estava em sua cintura.

Chegou-se a Simão Pedro, que lhe disse: ‘Senhor, vais lavar os meus pés?’

Respondeu Jesus: ‘Você não compreende agora o que estou fazendo a você; mais tarde, porém, entenderá’.

Disse Pedro: ‘Não; nunca lavarás os meus pés!’.

Jesus respondeu: ‘Se eu não os lavar, você não terá parte comigo’.

Respondeu Simão Pedro: ‘Então, Senhor, não apenas os meus pés, mas também as minhas mãos e a minha cabeça!’

Respondeu Jesus: ‘Quem já se banhou precisa apenas lavar os pés; todo o seu corpo está limpo. Vocês estão limpos, mas nem todos’. Pois ele sabia quem iria traí-lo e, por isso, disse que nem todos estavam limpos.

Quando terminou de lavar-lhes os pés, Jesus tornou a vestir sua capa e voltou ao seu lugar.

Então lhes perguntou: ‘Vocês entendem o que fiz a vocês? Vocês me chamam ‘Mestre’ e ‘Senhor’, e com razão, pois eu o sou. Pois bem, se eu, sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei os seus pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros’. 

Eu dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz. 

Digo verdadeiramente que nenhum escravo é maior do que o seu senhor, como também nenhum mensageiro é maior do que aquele que o enviou. 

Agora que vocês sabem estas coisas, felizes serão se as praticarem[10]

Eu creio que os discípulos tiveram dificuldades para compreender o real significado deste sinal. Ainda hoje, ao presenciarmos um ato com este, nos emocionamos e podemos até nos sentir constrangidos.

Depois de todos os milagres, dos sinais e do reconhecimento de que Jesus era o Messias, a reação de Pedro parece razoável. Para os outros a dúvida e um turbilhão de sentimentos naquele instante os fez refletir sobre qual era a mensagem que ampliava a Lei de Moisés, levando-a ao extremo do amor incondicional expresso no mais singelo ato de humildade.

Antes, porém, Jesus havia falado para as multidões e, com eles, seus discípulos dizendo: ‘Abençoados são os pobres em espírito… Abençoados são os que choram… Abençoados são os mansos… Abençoados são os que tem fome e sede de justiça… Abençoados são os misericordiosos… Abençoados são os puros de coração… Abençoados são os pacificadores… Abençoado são os perseguidos por causa da justiça… Abençoados sois vós…’[11]

Estes e outros ensinos de Jesus, tiveram guarida na mente e no coração dos discípulos. Eles estavam prontos, cada um no seu tempo e com suas próprias características, para realizar ainda mais do que o próprio mestre. O tempo de Jesus era chegado e o último sinal seria realizado na mais dura prova, a morte na cruz. O Filho de Deus tornou-se maldito em nosso lugar. A restauração e a constituição do novo Israel de Deus foram consumados. O medo, a dor, o abandono sentido por Cristo na cruz ecoava, na mente de alguns, ‘o que eu faço, tu não o sabes agora’.

Muitos, dos que se dizem seguidores de Cristo, ainda não se deram conta da magnitude que foi o sinal, derradeiro, dado por Jesus. Outros permanecem sob Lei, não reconhecendo a Graça, vivendo em opressão religiosa. Há aqueles que clamam por seu livre arbítrio, mostrando total desconhecimento da Palavra de Deus ou por ensinamentos obscuros e rasos. Fazem parte deste grupo, aqueles que se sentem na obrigação de defender a figura de Jesus que está sendo blasfemada constantemente na sociedade. Se sentem insultados, ficam indignados. No entanto, demonstram total ignorância dos ensinos realizados pelo mestre.

Me imagino perguntando para Jesus:

– O que o Senhor acha sobre tudo isso?

Creio que Sua resposta seria, mais ou menos, assim…

‘Deixe-os, pois eles não sabem o que fazem. Até mesmo, muitos dos que meu Pai me deu, tardam a descobrir quem sou eu, ou, o que eu fiz e o que Eu quero que eles façam, quanto mais aqueles que são deste mundo. A você cabe cumprir os meus ensinamentos e a exercer o amor incondicional que partilhei.’

Que o Senhor nos ajude a manter o foco em Sua Palavra sendo verdadeiros discípulos e imitadores do Seu amor e da sua Graça!

____________________________________

Baixar em PDF :  

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos King James – BKJ 1611 – Niterói, RJ : BV Films Editora, 2018.

[1] Cf. Lucas 4.18

[2] Cf. Lucas 4:21

[3] Cf. Isaías 4:2; 11:1; Jeremias 23:5; 33:15

[4] Cf. João 20:31,31 – Edição: Bíblia de Jerusalém

[5] Do grego paidagogos – em alusão ao escravo que levava um jovem aluno para ser instruído e que o protegia de danos até que ele atingisse a maioridade.

[6] Cf. Gálatas 3:24

[7] Cf. Deuteronômio 30:15-16

[8] Cf. João 2:14

[9] Cf. João 13:34

[10] Cf. João 13:1-17

[11] Cf. Mateus 5.1-11

Post relacionado