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Por que Jesus veio ao mundo?

Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Fevereiro/2019


O Espírito do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos, e a pôr em liberdade os algemados; a apregoar o ano aceitável do Senhor… Isaías 61:1,2a

Um tema que sempre me chama a atenção na área teológica bíblica são as ações de Jesus no seu tempo. Na época, as pessoas ficavam surpresas com a forma que Ele atendia, curava e conversava com as pessoas.

O texto de Isaías, que foi lido pelo próprio Jesus na sinagoga, conforme descrito no evangelho de Lucas, capítulo 4, versículo 18 e seguintes; mostra a finalidade da sua vinda; assim, há um perfeito alinhamento entre a missão dada por Deus, através do profeta e a missão cumprida por Jesus.

Está no mesmo evangelho de Lucas o texto de fundamental importância para o cristianismo como um todo, que é como se fosse o resumo de toda a Lei: Amarás a Deus com todo seu coração, alma, forças e entendimento – Lc 10.27.

Como se pode presumir, não é pouca coisa e deve haver, da parte daquele que quer imitar a prática do mestre, empenho e dedicação.

Sabemos que o coração pode ser entendido como sendo o centro das emoções; a alma seria a ‘forma’ espiritual; a mente, todo nosso intelecto; e força, nosso corpo físico. Dessa forma, podemos compreender que devemos amar a Deus de forma integral e não fracionada, ou ainda, com nosso ser completo.

Assim é, pois Ele nos amou primeiro, dando sua vida para a nossa salvação.

No final do versículo, Jesus diz, que devemos amar nosso próximo, da mesma forma como amamos a nós mesmos. Nosso próprio amor por Deus vai primeiro e, então nosso amor, naturalmente, continua aos indivíduos e às pessoas da nossa comunidade.

Essa situação foi muito bem descrita por Jesus ao contar a história do ‘bom samaritano’ – Lc 10.25-37.

Essa era a prática de Jesus. Por onde quer que fosse, Ele demonstrava isso na prática e depois explicava para seus discípulos.

Por algum momento, tudo isso pareceu ter fim na morte de Jesus. Mas, Deus o ressuscitou dentre os mortos e Jesus, novamente, mostra para seus discípulos como eles deveriam proceder, agora que Ele estava indo para junto do Pai.

Este ato ficou conhecido como sendo a grande comissão de Jesus para seus ‘imitadores’ (a partir de agora) – esta é uma tese que defendo: depois que Jesus foi assunto aos céus, podemos nos considerar imitadores e não mais seguidores. Para ler o artigo: CLIQUE AQUI

A grande comissão está descrita por Mateus, conforme abaixo:

Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do Século. Mateus 28:18-20

Ou seja, este comissionamento foi dado após a ressurreição de Jesus, pouco antes de sua Ascensão, logo, estas foram as últimas palavras de Jesus. Geralmente, em nossa sociedade, valoriza-se as últimas palavras de uma pessoa.

Podemos destacar as palavras relacionadas à totalidade. Veja:

  1. Toda autoridade: nos é dada por Jesus – uma sensação de poder – que nos permite fazer e nos dá o que é necessário – controle completo.
  2. Todas as nações: (pessoas) são alcançadas para se tornarem discípulos de Cristo. Ninguém é excluído. Fazer é o comando no original grego.
  3. Tudo o que: eu ordenei a você é o que Jesus nos ordena a fazer. Um mandato dentro de outro mandato – ajudar os outros a fazer o que estamos fazendo por seguir a Cristo, agora, imitá-lo.
  4. Todo o tempo: Ele estará sempre conosco, mesmo quando falharmos, podemos ter um senso de proteção e encorajamento, isso está relacionado à autoridade de Jesus se estivermos dentro de Sua vontade.

Dessa forma, pode-se entender que os discípulos de Jesus, foram ‘comissionados’ para pregar, curar e expulsar demônios e assim fizeram. Hoje, como imitadores de Jesus, podemos entender que este comissionamento também se estende a nós, dentro do exemplo de um ministério integrado: corpo, alma e espírito.

A importância destas ações foi tão evidente no ministério de Jesus que Ele respondeu às indagações dos discípulos quando eles não estavam compreendendo essa necessidade, Ele disse e foi relatado por Mateus, capítulo 25, versículos de 25 a 40.

Eu estava com fome e você me deu comida.

Eu estava com sede e você me deu o que beber.

Eu era um estrangeiro e você me recebeu.

Eu estava nu e você me vestiu.

Eu estava doente e você me visitou.

Eu estava na prisão e você veio me visitar.

Claro que, para realizar uma obra como esta, vai requerer do ‘imitador’ do Cristo, de Nazaré, um grande compromisso. Como crentes, devemos nos comprometer para resolver tanto a necessidade física quanto a necessidade espiritual das pessoas. Se a grande comissão e o grande mandamento forem, de fato, cumpridos, haverá um grande compromisso da nossa parte e da parte da Igreja. Podemos entender que o amor de Deus, por nós, nos motiva a querer compartilhar esse mesmo amor com os outros.

Isto posto, vamos à uma reflexão básica, exposta através de uma simples tabela, para ficar ainda mais claro.

Ações de Jesus no seu ministério Ações da igreja hoje
Interagia com as crianças Reuniões para cultos
Andava com os marginalizados e mulheres Ministérios diversos dentro da igreja
Curava dos doentes / ressuscitou mortos Evangelização (umas mais outras menos)
Alimentava os famintos Reuniões de oração / Vigília
Ensinava as verdades do Reino de Deus Ajuda social (umas mais outras menos)
Perdoava pecados e ensinava perdão Ensino da Palavra de Deus
Orava constantemente Outras ações que, em muitas vezes não fazem sentido ao Reino de Deus
Participava das festas com as pessoas
Frequentava a sinagoga e o templo

 

Agora, a resposta para a pergunta: Por que Jesus veio ao mundo?

Vamos ao relato de Lucas, capítulo 4, versículos de 16 ao 21, que diz:

E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.
E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito:

O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração,
A pregar liberdade aos cativos, E restauração da vista aos cegos, A pôr em liberdade os oprimidos, A anunciar o ano aceitável do Senhor
.

E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele.
Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.

Pode-se observar que, de alguma forma, como igreja (é claro que não todas) estamos distantes de fazer aquilo que Jesus nos comissionou para fazer.

Seguimos por uma via mais simples e fácil. Nosso compromisso com os necessitados é limitado e, em alguns casos, não há qualquer envolvimento.

Nossa preocupação está na frequência às reuniões de domingo e alguma participação nos eventos que os ministérios internos da igreja, nos proporciona.

A evangelização está limitada a ações pontuais, em dias e ocasiões especiais.

Não está em nossas agendas as visitas aos órfãos, doentes e necessitados.

Trago aqui, uma citação oportuna do meu artigo: A Opção Preferencial de Deus pelos Pobres, acompanhe:

O capitalismo moderno, alicerçado na filosofia de Adam Smith, criou um mundo totalmente diferente daquele que se conhece até então. Dois séculos depois do iluminismo, diz Newbigin (1986:110), “vivemos em um mundo em que milhões de pessoas desfrutam de um padrão de riqueza material com que poucos reis e rainhas podiam então competir”. À medida que crescia sua riqueza, os cristãos ricos se inclinavam cada vez mais a interpretar metaforicamente as palavras bíblicas sobre pobreza. Os pobres eram os “pobres em espírito”, aqueles que reconheciam sua completa dependência de Deus. Nesse sentido, portanto, os ricos também podiam ser pobres – eles estavam em condições de reclamar todas as promessas bíblicas para si mesmos. (BOSCH, 2002:520)

Assim, ainda hoje, a interpretação metafórica está presente, não só anunciada nos púlpitos, mas também nas leituras populares da bíblia realizada pelos fiéis.

A forma relativa que se está vivendo o cristianismo, desenvolve cristãos dependentes de muitas coisas, menos de Deus.

Essa forma nominal de viver não causa qualquer mudança na vida pessoal e muito menos eclesiástica e comunitária.

Podemos até crescer em número, mas falhamos quanto às ações práticas e efetivas.

O foco, no entanto, está no crescimento numérico, que por sua vez trará maior receita, que é justificada para a comunidade dos fiéis ofertantes (sempre será).

A justificativa está em salários, reformas e novas aquisições, longe da justificativa de dar alimento ao pobre, de acolher o estrangeiro, de vestir aqueles que não tem roupas, de visitar os doentes e de visitar aqueles que estão na prisão.

Sim, nos moldamos a uma forma de expressão religiosa, que em minha opinião, está distante da expressão fiel do comissionamento dado por Jesus.

Uma forma que nos condiciona, e permanecemos alienados, pois criamos para nós um deus à nossa imagem e nossa semelhança. Um deus que se importa somente com minhas próprias necessidades.

Oremos, para o Senhor, promova mudanças em nossas vidas e em nossa comunidade de fé, para que possamos ser testemunhas vivas e imitadores de Cristo!

 

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BÍBLIA, Português. Bíblia de Estudos de Genebra – São Paulo: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

MAI, O grande mandamento e a grande comissão – Tema para capacitação de Capacitadores do Programa de Desenvolvimento Comunitário Integral – PDCI.

BOSCH, David J. Missão transformadora – Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão – São Leopoldo: Sinodal, 2002.

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