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Princípios para interpretação Bíblica

Por: Claudecir Bianco – Teólogo e Missionário
Agosto/2018

Α leitura e estudo da Bíblia deve ser constante na vida do Cristão. Para os Teólogos(as) e/ou Missionários(as) é de caráter fundamental, pelo simples fato de poder desenvolver argumentações claras e objetivas, fiéis ao texto escrito, e ter propriedades intelectuais para discorrer sobre questionamentos pertinentes à sua fé ou às indagações daqueles que estão iniciando no caminho.
O simples fato de realizar leituras fragmentadas esporádicas não trará conhecimento aprofundado sobre a Bíblia ou algum livro específico.
O trabalho dedicado e exaustivo para exploração e compreensão de uma perícope se faz de forma metodológica e intencional. É metodológica por ser uma das ferramentas fundamentais para a identificação de pressupostos históricos. É intencional por ser requisito obrigatório para os Cristãos que buscam aperfeiçoamento no estudo Bíblico.

Esta análise metodológica chama-se de “exegese” que comumente é definida por: ‘Comentário ou dissertação para esclarecimento ou minuciosa interpretação de um texto ou uma palavra’.  Palavra originária da língua Grega ‘exegesis’ que tanto pode significar apresentação, descrição ou narração.

Outra palavra, com a mesma origem, é ‘hermenêutica’ cujo significado é igual ao da palavra exegese, ou seja, ‘interpretar’. No entanto, deve-se destacar uma diferenciação: a hermenêutica bíblica designa mais particularmente os princípios que regem a interpretação dos textos; a exegese descreve mais especificamente as etapas ou os passos que cabe dar em sua interpretação.

Segundo Uwe Wegner, em seu manual, ‘Exegese do Novo Testamento’ [1] a primeira tarefa da exegese é:

… aclarar as situações descritas nos textos, ou seja, redescobrir o passado bíblico de tal forma que o que foi narrado nos textos se torne transparente e compreensível para nós que vivemos em outra época e em circunstâncias e culturas diferentes. P. 12

Wegner trabalha há vários anos como professor do Novo Testamento na Escola Superior de Teologia da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, na cidade de São Leopoldo/RS. É do seu livro que trago as principais citações deste texto.

Ele argumenta que ninguém consegue interpretar textos bíblicos de forma neutra e completamente objetiva, pois sempre estará sujeito e condicionado por suas ‘lentes’ ou por sua ‘cosmovisão’ que é a forma como vemos e interpretamos o mundo.

A interpretação bíblica também estará condicionada por nossa história de fé, processo de conversão, vivência da prática social cristã etc…

Dessa forma, a interpretação bíblica poderia ficar à mercê deste ‘modus vivendi’ se não houvesse a forma metodológica de exegese bíblica.

Segundo Wegner: ‘A exegese sempre desempenhará, portanto, um papel crítico frente às tendências de explicação de seus intérpretes.’

Então, a segunda tarefa da exegese, destacada pelo autor é: ‘permitir que possa ser ouvida a intenção que o texto teve em sua origem’.

Essa afirmação, nos conduz para a terceira tarefa da exegese, citada pelo autor que é: ‘verificar em que sentido opções éticas e doutrinais podem ser respaldadas e, portanto, reafirmadas, ou devem ser revistas e relativizadas.’

Assim, podemos destacar os três pontos argumentados pelo autor sobre sua ‘definição’ de exegese:

1 – Aclarar as situações

2 – Permitir ouvir a intenção que o texto teve em sua origem

3 – Verificar em que sentido opções éticas e doutrinais podem ser respaldadas

No entanto, o referido manual é completo, abrangente e detalhado para cada uma das etapas descritas pelo autor que são:

  • Tradução
  • Crítica textual
  • Análise literária
  • Análise da redação
  • Análise das formas
  • Análise do conteúdo
  • Análise teológica
  • Atualização

Claro que o trabalho exegético detalhado não se aplicará em todas as situações e necessidades de exposição do conteúdo. No entanto, à medida que o exercício for realizado com constância, a prática se estabelecerá e os pontos principais serão executados, quase que automaticamente para uma exposição com o mínimo de atenção e cuidado.

A intenção deste (meu) texto não foi de reduzir o conceito ou trazer um pensamento simplista para uma técnica brilhante que é a exegese bíblica, mas apenas introduzir o leitor ao assunto e mostrar as possibilidades para realizar um trabalho de análise claro e objetivo na interpretação de textos bíblicos para exposição da Palavra de Deus.

Para finalizar, destaco alguns itens do texto ‘Princípios de Interpretação da Bíblia’ do Profº Augustus Nicodemus Lopes [2], em uma de suas aulas.

O item 5 foi acréscimo meu que adoto como prática em minhas exegeses.

      1. Quem escreveu/falou a passagem e para quem era endereçada?

      2. O que a passagem diz?

      3. Existe alguma palavra ou frase nesta passagem que precisa ser examinada?

      4. Qual é o contexto imediato?

      5. Qual a síntese do conteúdo da perícope anterior e posterior desta passagem?

      6. Qual é o contexto mais amplo exposto no capítulo e no livro?

      7. Quais são os versículos relacionados ao assunto da passagem e como eles afetam a compreensão desta?

      8. Qual é o fundo histórico e cultural?

      9. Qual a conclusão que eu posso tirar desta passagem?

     10. As minhas conclusões concordam ou discordam de áreas relacionadas nas Escrituras ou com outras pessoas    que já estudaram esta passagem?

    11. O que eu posso aprender e aplicar à minha?

Concluo afirmando que, aquele que ministra ou quer ministrar para outras pessoas sobre os textos bíblicos, deve se dedicar ao estudo de técnicas como esta, e não apenas, e somente da leitura e reflexão de algum texto escolhido.

A responsabilidade no compartilhar os textos bíblicos é muito séria, requer preparo e dedicação para que não se incorra em equívocos ou reducionismos culturais.

Há também, nossa parcela e responsabilidade, como Teólogos(as) e Missionários(as) ao ouvir outras pessoas falando acerca da Palavra de Deus, se de fato, o conteúdo de suas palavras são pertinentes ou são apenas vãs filosofias.

________________

[1]Wegner, Uwe. Exegese do Novo Testamento. Editora Sinodal. 6ª Edição – 2009
[2] Lopes, Augustus Nicodemus. Princípios de Interpretação da Bíblia – PDF <Disponível em http://www.monergismo.com/textos/hermeneuticas/hermA_02.pdf>

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