Por: Claudecir Bianco
Teólogo e Missionário
Setembro/2019
E digo isto, para que ninguém vos engane com palavras persuasivas. Colossenses 2:4
Neste artigo, trago um resumo do texto de Rosino Gibellini, que é uma perícope do livro Teologia do Século XX. Ao final, faço minha reflexão sobre o conteúdo deste belo e profundo texto.
No texto Teologia e Modernidade Rosino Gibellini argumenta que na versão bultmanniana, a teologia hermenêutica ainda se move na linha de uma teologia da palavra. Segundo a reconstrução de Moltmann, foi Bonhoeffer quem consignou à teologia “o tema fascinante” da recuperação do horizonte, que ele próprio desenvolveria nos anos 60 com o projeto de uma “teologia da esperança”.
O motivo central, ao qual se devem atar os fios dispersos da teologia de Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), é incisivamente expresso na fórmula da carta do cárcere de 8 de junho de 1944: “Esta é a questão: Cristo e o mundo que se tornou adulto”. A vida e a reflexão, fragmentária e incompleta, de Bonhoeffer representam uma tentativa de individuar esse emaranhado de problemas, encaminhando-os para uma solução.
Rosino faz uma breve apresentação de Dietrich Bonhoeffer: teólogo, cristão, contemporâneo. Nascido em Breslau, na Silésia, em 4 de fevereiro de 1906, mudou-se para Berlim com toda a família em 1912. “Teólogo, cristão, contemporâneo”, assim Eberhard Bethge sintetizou na grande Biografia dedicada ao amigo as fases e os traços característicos da personalidade de Bonhoeffer. Estudou teologia e o fez nas universidades de Tübingen e de Berlim, onde foi aluno de Von Harnack e onde concluiu o doutorado em 1927, com Sanctorum Communio, e a licenciatura em 1930, com Ato e ser.
A dissertação Sanctorum Communio de 1927, publicada em 1930, estuda a estrutura comunitária de Igreja com o auxilio das ciências sociais: não se trata de uma pesquisa dogmática realizada com a ajuda das ciências sociais, para captar a realidade da Igreja em sua empiricidade, em sua natureza social especifica. Eis a tese defendida por Bonhoeffer: “A revelação… só acontece na comunidade”. Ou seja, a revelação acontece: ela é ato, ato de Deus que se revela e ato do homem que, na fé, acolhe a palavra de Deus, como afirma Barth; mas, ao mesmo tempo, a revelação acontece na comunidade: quem ouve a palavra não é apenas o indivíduo, mas a Igreja em sua realidade comunitária.
Para Bonhoeffer, a revelação já aconteceu e, ao mesmo tempo, é superveniente, é ato e ser. A revelação acontece na concretude da comunidade; ela não é ou ato ou ser, e sim ato e ser: como ser, já aconteceu, e dessa forma garante-se a continuidade, como ato, é superveniente e acontece sempre de novo, assegurando-se assim a existencialidade.
O tema cristológico predomina no curso sobre Cristologia de 1933, em que Bonhoeffer se pergunta quem é Jesus Cristo. Ele responde à pergunta sobre o “quem”, partindo da determinação de sua pessoa: “A compreensão de sua presença possibilita a compreensão de sua pessoa”.
Rosino aborda o próximo ponto sobre ética da responsabilidade na perspectiva de Bonhoeffer.
Na primavera de 1939 – à véspera do estouro da guerra – o pastor Bonhoeffer está nos Estados Unidos por causa de compromissos ecumênicos e para uma série de conferências.
Para Bonhoeffer, a ética não pode ser uma ética dos princípios ou das normas, que é preciso primeiro formular e fixar para depois aplicar e estender à realidade.
O objetivo da ética não é o conhecimento do bem e do mal, baseado em princípios e normas, e sim o discernimento da vontade de Deus em vista da ação concreta. A ética dos princípios é abstrata e desvinculada da realidade: ela fixa uma vez por todas o que é bem e o que é mal; a ética que guia os cristãos é concreta e interroga-se sobre o mandamento concreto de Deus “hoje”, “aqui”, “entre nós”, “para nós”.
Em suma: não a ética abstrata dos princípios, tanto na formulação racionalista kantiana como na formulação metafísica da lei natural, mas a ética do mandamento concreto de Deus.
Na seqüência o autor argumenta sobre o tema “Cristianismo a-religioso num mundo tornado adulto”. Segundo Rosino, Bonhoeffer é um dos pouquíssimos homens que, na Alemanha hitlerista, ousaram se envolver diretamente na atividade política, valendo-se dos conhecimentos de sua família e dos contatos internacionais para sua atividade ecumênica. A nova figura do cristianismo a-religioso, pode ser determinada tanto no sentido negativo como no sentido positivo.
Portanto, um cristianismo a-religioso continua sendo um cristianismo com a palavra, com o culto, com os sacramentos, com a oração. Na visão de uma nova fase do cristianismo, todo pensamento de Bonhoeffer foi mobilizado. A figura de Cristo que o curso sobre Cristologia de 1933 definira com a estrutura do “ser-no-centro” é descrita agora, no Esquema para um ensaio, com a estrutura do “ser-para-os-outros”.
Jesus é o homem para os outros: “Esse título” – comenta Bethge – “contém um impulso ético, impede a fuga religiosa do mundo, o predomínio clerical e exalta, enfim, Jesus com uma expressão impregnada de vida vivida. É ao mesmo tempo confissão, hino, oração e interpretação”.
Segundo o autor, a Igreja deve sair de sua estagnação. Devemos voltar ao ar livre do confronto espiritual com o mundo. Devemos correr o risco inclusive de dizer coisas contestáveis, se isso possibilita levantar questões de importância vital. Como teólogo ‘moderno’, que entretanto leva ainda consigo a herança liberal, sou obrigado a tirar de debaixo do tapete tais questões. Entre os jovens, não haverá muitos que consigam reunir em si as duas coisas.
Nesse confronto, sua proposta – que leva o nome enigmático de “cristianismo a-religioso num mundo tornado adulto” -, segundo a mais atenta historiografia, não é tão radical, como será interpretada pela teologia radical. Ela se move na direção de um cristianismo a ser re-interpretado pelo homem da modernidade; de um cristianismo não da fuga, mas da fidelidade ao mundo; de um cristianismo que deve ser vivido na responsabilidade, na participação e na solidariedade; de um cristianismo universal em processo de desocidentalização, que passa a outros povos e se torna capaz de novas palavras e novas ações.
Minha conclusão
Reler os argumentos de Bonhoeffer é sempre uma maravilhosa experiência! Suas argumentações são tão atuais hoje, como foram no passado.
Questões como a revelação acontecer na comunidade sendo ato e ser, são fantásticas!
O que dizer então do Cristianismo a-religioso?
Mas, da mesma forma como concordo com estas argumentações, por entender que são argumentações bíblicas, vejo um cristianismo sendo vivido na superficialidade.
Pessoas vivendo apenas as “partes” mais fáceis do Evangelho. A maioria das pessoas cristãs evangélicas parecem viver uma religiosidade de final de semana, ou melhor, domingueira.
Ainda hoje precisamos viver o Cristianismo a-religioso.
Precisamos experimentar o Evangelho simples, mas poderoso que Cristo ensinou.
O que está faltando para que isso aconteça?
Falta-nos compreender que Cristo deve estar no centro; precisamos entender que o Evangelho de Cristo é para a outra pessoa.
Não é uma fórmula mágica, da qual me aproprio e a utilizo quando as situações na vida vão mal.
Ao ler o Novo Testamento vemos as narrativas dos primeiros cristãos no sentido relacional.
Não há, em parte alguma do NT, a narrativa que determinado apóstolo, por “confiar” em Deus e em Cristo, se tornou rico e famoso, construiu um belo templo ou qualquer coisa que vemos acontecer nos dias de hoje, para justificar o “sucesso eclesiástico”.
Vemos pessoas simples, usadas pelo poder o Espírito Santo que falavam, oravam e agiam.
Pessoas com intrepidez, que não se conformavam com o mundo em que viviam, mas que anunciam, em todo tempo, o Reino de Deus. É o Evangelho para o outro. É o Evangelho a-religioso.
É o anuncio poderoso do Reino de Deus que já está presente nos dias de hoje e que irá se completar com a Segunda vinda de Cristo, o filho e Redentor de toda a criação.
Quantos Bonhoeffer’s estão falando nos dias atuais? Creio que poucos!
Mas, suas palavras parecem não ter significados para muitos cristãos religiosos e egocêntricos, que buscam mais um deus curandeiro do que o Deus criador e mantenedor dos céus e da Terra.
“Portanto, comete pecado a pessoa que sabe fazer o bem e não faz”. Tiago 4.17
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BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos King James – BKJ 1611 – Niterói, RJ : BV Films Editora, 2018.
GIBELLINI, R. A Teologia do Século XX. São Paulo: Loyola Edições, 1998, pp. 105-121.
